«Marés cidadãs», sindicatos e partidos convergem

Protestos varrem a Espanha

Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se, durante o fim-de-semana, em cerca de 50 cidades de Espanha, condenando as políticas anti-sociais do governo de Mariano Rajoy.

Rajoy quer limitar liberdades políticas e sindicais

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No sábado, a praça madrilena de Cibeles abarrotou de gente mobilizada por uma grande diversidade de organizações e movimentos sociais, reunidos na Cimeira Social sob os auspícios das principais centrais sindicais e das várias «marés cidadãs» em defesa dos serviços públicos.

Os cantores Ismael Serrano e Alba Flores, em nome das organizações promotoras, leram um discurso, resumindo em algumas frases os efeitos catastróficos das políticas levadas a cabo nos últimos dois anos: «Há mais dois milhões de desempregados, 12 milhões de pobres e gente que continua a ser despejada das suas casas com violência».

Os cortes e os ataques aos direitos cívicos e dos trabalhadores parecem não ter fim. Na véspera, Rajoy falava na necessidade de «uma segunda ronda» da reforma laboral. A vaga de privatizações e desmantelamento dos serviços públicos prossegue sem limite à vista. O Orçamento do Estado para 2014 traz mais cortes na Saúde, Educação, Cultura ou Protecção Social.

Por isso, todas as «marés cidadãs» confluíram para o protesto, já inscrito na história como o 23-N.

O colorido do desfile, justamente encabeçado pelos trabalhadores da limpeza de Madrid, que ao fim de 13 dias de greve lograram impedir o despedimento de 1134 colegas e anular reduções salariais de 40 por cento, expressava a diversidade dos sectores presentes.

Às batas brancas em defesa do acesso universal à saúde, seguiam-se as camisolas verdes em defesa da Educação pública, as vermelhas reclamando acesso à Cultura e as roxas fazendo valer os direitos feministas.

As bandeiras e palavras de ordem dos sindicatos e dos partidos políticos compunham a secção final da marcha, onde se destacava a presença dos secretários-gerais das CCOO, Ignacio Toxo, da UGT, Cándido Méndez e da USO, Julio Salazar.

O coordenador federal da Izquerda Unida, Cayo Lara, empunhava um cartaz exigindo a demissão do governo. Motivos não faltam, declarou: «A troika, a banca, o poder financeiro e o governo estão a levar a cabo um golpe de Estado contra os direitos laborais, sociais, sindicais, económicos e civis no nosso país, como nunca vimos no período democrático».

Neste protesto também o PSOE fez questão de se representar pela sua líder parlamentar, Soraya Rodríguez, apesar de muitos manifestantes terem ainda memória fresca do pacto PP-PSOE que permitiu alterar a Constituição para inscrever a «prioridade absoluta» do pagamento dos juros da dívida pública sobre outras despesas do Estado. No entanto, após dois anos na oposição, Soraya Rodríguez afirma agora que «já basta de cortes sociais, já basta de cortes nas políticas públicas».

À semelhança da capital, em dezenas de outras cidades de Espanha decorreram, no sábado, desfiles e concentrações. No domingo, os protestos prosseguiram na Andaluzia, Catalunha e Astúrias.

 

A lei da rolha

Entre as muitas razões dos protestos massivos em Espanha, destacam-se dois projectos de lei que o governo pretende aprovar. O primeiro visa limitar o direito de greve alterando as disposições que regem os serviços mínimos, que já hoje obrigam os grevistas a assegurar 40 por cento dos serviços considerados essenciais.

O segundo projecto é claramente direccionado contra o direito de manifestação visando refrear a crescente contestação social no país.

Assim, segundo a imprensa espanhola, o governo de Rajoy pretende aplicar pesadas sanções aos que participem, convoquem ou dirijam manifestações não autorizadas. As multas vão dos 30 mil aos 600 mil euros.

Estas manifestações «não autorizadas», que incluem perturbações de actos públicos, passam a ser consideradas infracções «muito graves», classificação que também recai sobre a captura e divulgação de imagens de agentes, o que impede a denúncia de abusos policiais.

 



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