Firmeza e coragem selaram enorme adesão

Forte greve nos CTT

A greve de 25 de Outubro contou com enorme adesão de mais de 80 por cento dos trabalhadores, e veio dar mais ênfase à mensagem que o Governo e a sua administração não queriam que fosse entregue.

A luta é também pelo serviço público de qualidade e a preços acessíveis a todos

Os trabalhadores dos CTT repudiam a privatização dos Correios, a destruição do serviço público, o roubo de salários e benefícios sociais, destacou o Sindicato Nacional dos Correios e Telecomunicações, no comunicado que divulgou no final da greve de sexta-feira. Estavam então recolhidos dados relativamente a mais de 5500 trabalhadores.
O muito elevado índice de adesão teve ainda mais valor porque foi alcançado «apesar das ameaças, das substituições de grevistas, dos entraves à recolha de dados sobre a adesão à greve, dos ridículos dados "oficiais" dos CTT», como assinalou o SNTCT/CGTP-IN, afirmando que aderiram à luta mais de 80 por cento dos trabalhadores, «muitos pela primeira vez».
«Por esta afirmação de vontade, por esta coragem na luta, por esta firmeza, queremos saudar efusivamente todos os homens e mulheres dos CTT que fizeram deste um grande dia de luta, em defesa da sua empresa e do seu futuro», declarou a Direcção Nacional, que subscreveu o comunicado aos trabalhadores e à comunicação social.

Depois de enumerar algumas situações que ilustram como «a tudo tem recorrido, a gestão dos CTT, para tentar minimizar os efeitos desta greve», o SNTCT salientou que, com a sua participação activa na luta, os trabalhadores enviaram ao Governo e à administração uma mensagem que estes têm que entender:

· «estão fartos de incompetentes à frente dos CTT, que tudo têm feito para destruírem a empresa com vista à privatização»;

· «opõem-se liminarmente à privatização da empresa e à destruição da rede pública postal e do serviço público postal»;

· «repudiam os roubos praticados pelo patrão Estado e querem repostos os salários e direitos que lhes foram confiscados»;

· «recusam a destruição dos IOS CTT [Instituto de Obras Sociais, subsistema de saúde e apoio social] e a criminosa tentativa de expulsão dos cerca de 30 mil aposentados e familiares».

Na convocação da greve, o SNTCT foi acompanhado pelo Sindetelco, o Sincor, o Sinquadros e o Sinttav.

Desmobilização falhou

Na antevéspera da greve, a administração dos CTT difundiu um comunicado a «informar» que, após a privatização que o Governo quer realizar ainda este ano, os salários dos trabalhadores iriam deixar de sofrer os cortes impostos no sector empresarial do Estado e também não seriam atingidos pelas medidas previstas na proposta de OE para 2014. Assegurava ainda que vão ser retomados os regimes vigentes no fim de 2010, quanto a trabalho nocturno, trabalho suplementar, ajudas de custo. A administração garantia até que a empresa continuará a pagar, até ao fim deste ano, o mesmo valor de subsídio de refeição.
Para o SNTCT, tratou-se de uma tentativa de desmobilizar a adesão à greve. Num comunicado, no próprio dia 23, o sindicato questionou o fundamento de tais garantias, que se limitam apenas a 18 dias úteis (o DL N.º 133/2013, que impõe os cortes, vigora a partir de 2 de Dezembro).
O plano do Governo deixa no Estado, por enquanto, uma fatia de 30 por cento do capital dos CTT. O sindicato revelou que pediu explicações à tutela sobre um conjunto de questões suscitadas pelo comunicado da administração. Pergunta, nomeadamente, se a posição do Estado na empresa será considerada «dominante» e, nesse caso, se seria aplicado o decreto-lei dos cortes. Se a participação em capital público não for dominante, quem garante que a administração privada continuará a cumprir as regras, não irá despedir centenas de pessoas e não tentará acabar com o AE (cuja revisão foi acordada em 2013).
No dia 24, a administração demonstrou que via a grande disponibilidade dos trabalhadores para a greve, quando anunciou uma primeira medida para reduzir o impacto da luta: iria haver distribuição de correio no sábado.
Nessa noite, foi denunciada e impedida outra «medida» que visava esse mesmo objectivo. No Centro de Tratamento de Cabo Ruivo, em Lisboa, o piquete de greve impediu a saída de dois camiões, de uma empresa contratada para fazer serviço de trabalhadores em greve. A PSP foi chamada e também não deixou sair os veículos, por falta de guia de transporte, relatou a Lusa.

«Um bom começo»

O Secretário-geral da CGTP-IN esteve, ao fim da noite de quinta-feira, dia 24, com o piquete e outros trabalhadores em greve, em Cabo Ruivo, onde se apresentaram ao serviço apenas três funcionários, dos 500. Aos jornalistas, Arménio Carlos realçou a coragem e a determinação dos pessoal dos CTT e valorizou os motivos que justificaram esta luta: a defesa dos direitos dos trabalhadores, a mobilização contra a privatização de um serviço fundamental e a defesa da economia portuguesa.

«É um bom começo, para todas as outras lutas que vão ter lugar nos próximos dias», disse o dirigente, citado pela Lusa.

A greve nos CTT deu início a uma quinzena de greves no sector público de transportes e comunicações, cumprindo uma decisão tomada no dia 16 por 36 sindicatos e comissões de trabalhadores. Esta é a resposta ao agravamento do roubo aos trabalhadores, por via do Orçamento do Estado para 2014 e através também do Decreto-Lei N.º 133/2013, como se recorda num comunicado da Fectrans/CGTP-IN.

A redução de salários, a partir de 601 euros, o congelamento de todas as progressões e a proibição de negociação colectiva, e a tentativa de tornar definitiva a sobretaxa extraordinária de 3,5 por cento – contidas na proposta de OE que o Governo enviou à AR – são acompanhadas de intenções de agravamento da redução de efectivos (três por cento, face aos existentes no final de 2012) e dos custos operacionais (15 por cento); de prosseguimento de privatizações; de repetição do roubo do direito ao transporte de trabalhadores e familiares (concessão).

O calendário desta quinzena está assim organizado:

- hoje, 31, estão em greve os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa;

- de 2 a 9 de Novembro, o pessoal da Soflusa e da Transtejo pára três horas por turno;

- na terça-feira, dia 5, param os trabalhadores da EMEF, nas duas últimas horas do período de trabalho, e realizam-se plenários e concentrações no Porto, no Entroncamento, em Lisboa e no Barreiro;

- no dia 6, há greve de 24 horas no Grupo Refer;

- para todo o dia 7, estão marcadas greves na CP e CP Carga;

- também na próxima quinta-feira, há greves na Carris, das 9h30 às 15h30, e na STCP (Porto), das 8 às 16 horas;

- no dia 9, sábado, a partir das 14h30, em Lisboa, realiza-se uma manifestação nacional de trabalhadores no activo e reformados, bem como de seus familiares.

Foi convocada greve para a Metro do Porto, mas não abrange a operação, que está sub-concessionada a uma empresa privada.

A Fectrans e outras estruturas apelam ainda à participação dos trabalhadores do sector na manifestação que a CGTP-IN convocou para amanhã, frente ao Parlamento.



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