UA cria força de intervenção

Carlos Lopes Pereira

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A criação de uma força militar de intervenção rápida foi uma das conclusões da 21.ª cimeira da União Africana (UA), realizada no princípio da semana em Addis Abeba.

Meia centena de chefes de Estado reunidos na capital etíope propuseram também o autofinanciamento dos projectos da organização. «Todo o apoio que vem de fora é bem-vindo, mas devemos contribuir para financiarmos as nossas actividades», resumiu o primeiro-ministro da Etiópia e presidente em exercício da UA, Hailemarien Desalegn.

Sobre a força de intervenção, ela é «necessária e urgente», para que haja capacidade de resposta rápida aos conflitos num continente ainda marcado por golpes de Estado, rebeliões armadas e guerras civis. Os líderes africanos pretendem, nos seus países, impedir que se chegue ao poder por métodos anti-democráticos. «Não vamos permitir mudanças anti-constitucionais nos estados membros», sublinhou a presidente da Comissão Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, citada pelo «Jornal de Angola».

Interessante, nesta cimeira que assinalou o 50.º aniversário da organização, foi a condenação do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, imposto pelo Ocidente para julgar adversários mais incómodos.

«Os objectivos do TPI – combater os crimes e a impunidade – estão a ser invertidos, degenerando numa “caça às bruxas” contra os dirigentes africanos», criticou Desalegn, acusando o Tribunal de Haia de «perseguir os líderes africanos».

Sobre as comemorações dos 50 anos da Organização da Unidade Africana, hoje União Africana, prevaleceu a ideia de que, depois de os «pais fundadores» terem lutado pela liquidação do colonialismo e do apartheid e garantido as independências dos países de África, é chegada a hora dos actuais líderes «fazerem a sua parte» para a «soberania económica do continente».

Na declaração por ocasião do meio século da OUA/UA, os chefes de Estado renovaram o compromisso de promover a paz, a estabilidade, a democracia e o desenvolvimento em África.

Guerra alastra no Shael

Enquanto em Addis Abeba os dirigentes africanos faziam planos para mais desenvolvimento económico, falavam de paz e anunciavam uma força militar de intervenção rápida, a guerra alastrava no Sahel.

O conflito no Mali, agravado pela invasão militar francesa apoiada pelo Ocidente, chegou ao vizinho Níger. Um grupo islamita levou a cabo dois ataques, um contra um quartel em Agadez, a principal cidade no Norte do Níger, e outro contra uma mina de urânio em Arlit, explorada pela multinacional francesa Areva, construtora de centrais nucleares. As acções provocaram dezenas de mortos e feridos entre agressores e defensores e foram reprimidas com a participação de tropas especiais francesas deslocadas do Mali.

O grupo jihadista «Os que assinam com sangue», chefiado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, ameaçou continuar a guerra contra a França e outros países que têm «mercenários» no Mali.

Numa acção anterior, em Janeiro, o grupo, ligado à «Al-Qaeda no Magreb Islâmico» tinha sequestrado trabalhadores de uma exploração de gás em In Amenas, no Sul da Argélia, obrigando a uma intervenção do exército argelino que causou dezenas de mortos.

O presidente do Níger, Mamadu Issufo, declarou agora que os autores dos ataques em Agadez e Arlit «saíram do Sul da Líbia» e planeavam também acções no Chade, outro país da região com tropas no Mali. E considerou que a situação no Mali é uma consequência da crise na Líbia, «agora o principal foco de desestabilização no Sahel».

Recorde-se que a Líbia foi vítima de uma violenta agressão da NATO, instrumento do imperialismo norte-americano, para derrubar o regime de Muhamar Khadafi. O governo fantoche colocado em Trípoli pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França controla hoje a capital, as zonas petrolíferas e pouco mais. A Líbia transformou-se num santuário de grupos islamitas, armados pelo Ocidente, que actuam livremente no Sul desértico e nos países vizinhos – no Mali, na Argélia, no Níger...

Níger onde os Estados Unidos colocaram tropas especiais e instalaram no início deste ano uma base militar (em Niamey, a capital, com planos de a transferir para Agadez) a fim de lançar operações com drones.

O Pentágono, através do Africom (o comando militar estado-unidense para África) anunciou que vai utilizar aviões não-tripulados «Predator» em missões de espionagem para «apoiar uma série de missões regionais de segurança em países amigos». Mas, segundo o «The New York Times», os drones no Níger poderão vir a ser armados com mísseis, «se a ameaça se agravar»...



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