Uma vida dedicada ao Partido e ao povo
O Partido perdeu um dos seus mais destacados militantes do Alentejo: João Honrado morreu, na tarde do dia 22, no Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, onde se encontrava internado.
Nascido em Ferreira do Alentejo, onde foi sepultado, João Honrado foi ao longo da sua vida empregado de escritório, jornalista e publicista. A actividade política iniciou-a no Movimento de Unidade Democrática Juvenil em 1947, ano em que conheceu pela primeira vez o interior das prisões fascistas. Em 1949, durante a campanha eleitoral de apoio ao candidato da oposição democrática, General Norton de Matos, seria novamente preso.
Em 1950, adere ao Partido Comunista Português, passando a funcionário em 1955. É nessa qualidade que terá um papel decisivo na direcção das lutas do sector estudantil de Coimbra em 1958/1962 e nas greves operárias e dos pescadores da região do Porto. Volta a ser preso em 1962 e novamente em 1974, saindo em liberdade com o 25 de Abril. Atrás de si tinha já 12 anos e meio de prisão, cumpridos no Aljude, Caxias, Peniche e Penitenciária de Lisboa. Mesmo preso não deixou de lutar, nomeadamente contra as condições prisionais, tendo organizado levantamentos de rancho e greves de fome.
Como salienta o Secretariado da Direcção da Organização Regional de Beja do Partido, o «nome de João Honrado está entre outros pelos quais se desenvolveram campanhas de solidariedade com os presos políticos, contra o regime prisional, pela defesa de vidas em perigo que era necessário salvar, por uma ampla amnistia, pela liberdade».
Depois do 25 de Abril de 1974, João Honrado integrou a Comissão Distrital de Beja e a Direcção da Organização Regional do Alentejo do Partido, tendo sido igualmente deputado à Assembleia Constituinte. Noutro âmbito, fez parte da Comissão de Extinção da PIDE/DGS.
Na sua actividade jornalística, João Honrado destacou-se por ter dirigido durante anos o jornal «Reforma Agrária» e por ter sido um dos democratas que, em 1980, levou os municípios do distrito de Beja a organizarem-se em associação e a adquirirem o título do «Diário do Alentejo», salvando-o da falência. Para além de ter trabalhado nos sectores de informação dos municípios de Odemira, Serpa e Mértola, foi também um dos fundadores da Cooperativa Cultural Alentejana e do jornal «Alentejo Popular». Tem vários livros publicados e inúmeros artigos dispersos em jornais regionais.
O Secretariado da DORBE salienta, na sua nota, o seu «exemplo de dedicação ao Partido», bem como a «coragem» e «entrega» à luta dos trabalhadores e do povo. Qualidades que, garante, não serão esquecidas.
Jerónimo de Sousa endereçou uma mensagem à companheira de João Honrado, sublinhando que o Partido ficou «mais pobre com a sua morte», mas que a sua vida «permanecerá como exemplo e estímulo para a nossa luta». Também o Secretariado do Comité Central enviou um telegrama à família onde destaca o «lutador incansável, dedicado e firme».
O Conselho Português para a Paz e Cooperação e a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, dos quais era membro, também lamentaram o desaparecimento de João Honrado.