Iguais – também na hipocrisia

Carlos Gonçalves

Coloca-se por vezes a questão de destrinçar as diferenças, por escanzeladas que sejam, entre as forças que apoiam e concretizam a política de direita – PS, PSD e CDS-PP. É claro que, vistas à lupa, descobre-se umas escassas nuances, de tonalidade ou de executante, porque quanto à substância do projecto, antipopular, inconstitucional e de abdicação da soberania, e quanto ao «CEO» que de facto decide e ao nababo que acumula o saque, o capital financeiro supranacional, aí não residem quaisquer variações.

Para o Governo, PSD e CDS, a hipocrisia é condição de sobrevivência. A «profunda preocupação» com o desemprego e as «dificuldades dos portugueses» é a oração obrigatória recitada no mesmíssimo segundo em que cavam o declínio nacional e decidem dezenas de milhares de «novas oportunidades» de miséria e de degradação social. A aleivosia está-lhes no ADN, é ver as lágrimas de crocodilo dos seus insuspeitos «comentadores» pelo salário mínimo que não aumenta, pelo «programa de assistência mal desenhado» e pelo Governo a carecer de «remodelação», tanta treta para que tudo – política e governo – fique na mesma.

Mas o PS não fica atrás na falsidade, talvez pela «génese social-democrata» ou pela «vocação de governo», propõe «coligações» onde já decidiu candidatos, mas recusa discutir a exigência de eleições antecipadas ou a mudança de política, anuncia uma «moção de censura» mas, «qual é a pressa»(?), eleições (e demissão do Governo) o mais tarde possível. A carta de vassalagem à troika estrangeira é que tem de seguir já!

E vejam como o FMI frequenta a mesma escola de impostura, então não é que ficou «surpreendido com o desemprego exagerado», por isso mesmo é que impõe mais umas dezenas de milhares de despedimentos.

Bem e Cavaco Silva, esse está em silêncio não porque apoie esta política, mas porque discorda e porque está a fazer «magistratura de influência» mais a Dona Maria, para que ela possa continuar. É preciso reconhecer que lhe assenta muito bem o cargo de Presidente do fingimento.

FMI, PR, PS, PSD e CDS são gémeos do mesmo ovo de hipocrisia e perfídia, de tal forma que a desfaçatez e a desvergonha ofendem o «senso comum» e tornam mais possível o esclarecimento e mais urgente uma alternativa de verdade, patriótica e de esquerda.



Mais artigos de: Opinião

O Chipre só tem uma solução!

O desenrolar dos acontecimentos no Chipre, sujeito a um autêntico assalto comandado pela Alemanha por via do Eurogrupo, levanta um sem número de questões. Tentaremos por isso centrarmo-nos apenas em alguns aspectos chave da situação. Uma primeira nota vai para o carácter...

Expressão da capacidade realizadora do PCP

Coincidindo com as comemorações do 92.º Aniversário do Partido, entramos igualmente numa fase decisiva da preparação da Festa do Avante!. Está já disponível a EP Entrada Permanente para a 37.ª edição da Festa, que terá lugar nos próximos dias 6, 7 e 8 de Setembro na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal.

Os confiáveis

O escândalo do roubo às contas particulares dos cipriotas decidido pelos 17 ministros da Economia dos países do Euro, evidenciou que os atilados dirgentes da «Europa Connosco» são aventureiros e, sobretudo, gente nada confiável. Aventureiros porque, julgando velar pelos...

O caminho de Seguro

Seguro não pára: depois da «hora da mudança», ei-lo, frenético, em rota de moção para a mudança… Tudo mentira. Quando anunciou a chegada da «hora da mudança» estava, certamente, a pensar na mudança da hora – que essa, sim,...

Ler «O Capital»

A recente crise despoletada em Chipre obriga a um esforço de informação. E não é fácil, porque os grandes media fazem com a crise do capitalismo a mesma coisa que fazem com as agressões imperialistas: são parte interessada e cúmplice, e «informam»...