O tempo de todas as lutas
Severamente atingidos pelos efeitos da crise e das medidas que procuram garantir os ganhos milionários de uma ínfima minoria, os trabalhadores e demais portugueses de outros estratos e classes levam as expressões de protesto e descontentamento cada dia mais longe. Este é o tempo de não aliviar a resistência à ofensiva do capital e do seu Governo.
Com a luta é possível travar o desastre e impor outro rumo
LUSA
Na semana finda, mereceram justo destaque as manifestações de 2 de Março, com milhares e milhares de pessoas nas ruas de Lisboa, do Porto, de Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Horta, Leiria, Ponta Delgada, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu – num total de cerca de 40 localidades. Em muitas delas, como noticiámos nas últimas semanas, houve grandes lutas de trabalhadores.
Em declarações aos jornalistas, durante a manifestação de sábado, em Lisboa, João Ferreira considerou que esta foi «mais uma afirmação da exigência de pôr fim a esta política, a este Governo, àqueles que a executam, e de dar a palavra ao povo» e que estamos perante «uma torrente que cresce, que engrossa e que vai ter momentos importantes nos dias 9, 15 e 27 deste mês». Membro do Comité Central do Partido, deputado no Parlamento Europeu e cabeça-de-lista da CDU para a Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira – que estava acompanhado de Miguel Tiago e Rita Rato, deputados na Assembleia da República – realçou que cantar «Grândola, Vila Morena» nesta ocasião representa «mais do que uma poderosíssima condenação deste Governo e da sua política, é uma demonstração de que os valores de Abril estão mais actuais do que nunca e são mais necessários do que nunca, no presente e no futuro de Portugal».
A par de acções de estudantes, agricultores ou utentes de serviços públicos, têm ocorrido protestos em iniciativas públicas com o primeiro-ministro e outros membros do Governo.
Na quinta-feira, 28 de Fevereiro, depois de pouco mais de um ano de intensa mobilização social na campanha «Água de Todos», foram entregues na Assembleia da República mais de 43 mil assinaturas, a suportar uma iniciativa legislativa de cidadãos com vista a contrariar a privatização da água e do saneamento – e, em especial, a alienação do Grupo Águas de Portugal e de empresas que o integram.
Na sexta-feira, voltaram a ouvir-se buzinas contra as portagens nas antigas SCUT (como referimos nesta edição).
Decorre a semana de luta do sector de transportes e comunicações, que culmina no sábado, à tarde, com uma grande manifestação em Lisboa, da Praça Luís de Camões para a Assembleia da República. Já se prolongam há muitos meses as lutas dos trabalhadores no Grupo CP, no Metropolitano de Lisboa, na STCP, na Transtejo e na Soflusa, na TAP e empresas participadas, na TST, Rodoviária de Lisboa ou Rodoviária do Tejo, na Vimeca e na Scotturb, devido aos cortes salariais e na retribuição do trabalho prestado fora do horário normal, contra a política que visa colocar este sector ao serviço dos lucros dos grandes grupos privados.
As greves ao trabalho extraordinário, em empresas de outros sectores, são uma expressão menos visível, mas em muitos casos eficaz, da tenaz resistência ao empobrecimento dos trabalhadores.
Depois da semana de luta dos professores e da jornada em defesa do sector empresarial local, prossegue a mobilização para a grande manifestação que os sindicatos da Administração Pública vão realizar no dia 15 de Março, em Lisboa. Mas hoje mesmo, à hora de almoço, trabalhadoras da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa concentram-se no Largo Trindade Coelho, pelo fim da precariedade das ajudantes familiares.
Para ontem, de tarde, estava convocado um encontro de militares, no Pavilhão dos Desportos de Almada, no qual as associações profissionais de oficiais, sargentos e praças pretendiam analisar a situação actual e as graves medidas anunciadas pelo Governo para a Defesa.
Em Setúbal, para ontem de manhã, a Inter-Reformados convocou um cordão humano, contra a redução do valor das pensões.
Desde anteontem e até à próxima segunda-feira, estão a fazer greve, durante quatro horas por turno, os trabalhadores da Saint Gobain Sekurit Portugal (ex-Covina), com concentrações frente à fábrica e junto ao Ministério da Economia, contra o fecho de duas linhas e um despedimento colectivo, medidas que podem pôr em causa a produção de vidro automóvel no País.
Num tempo em que todas as lutas são necessárias e no mês que a CGTP-IN inseriu numa «acção geral de protesto, proposta e luta», iniciada nas grandes manifestações de 16 de Fevereiro, destacam-se ainda: as iniciativas em torno do Dia Internacional da Mulher; uma concentração no dia 13, quarta-feira, em Lisboa, junto ao arco da Rua Augusta e no Ministério da Economia e Emprego, para reclamar a publicação imediata das portarias de extensão e o fim do bloqueamento da contratação colectiva; e a manifestação do Dia Nacional da Juventude, marcada para 27 de Março, em Lisboa.