Povo defende democracia
O primeiro-ministro tunisino ameaça demitir-se caso não consiga formar um governo alargado para superar a crise desencadeada pelo assassinato de um líder político do país.
Milhares de tunisinos saíram às ruas em todo o país
Ao anúncio feito a semana passada por Hamadi Jebali, reagiu prontamente o seu partido, o Ennhada, com a rejeição da proposta de constituição de um gabinete dito tecnocrático. A formação mais representada na Assembleia Constituinte, com 89 dos 217 lugares, sustenta que qualquer novo executivo tem de ser aprovado pelo hemiciclo, ao passo que os apoiantes da proposta defendem que a legislação permite ao chefe do governo alterar o executivo com aprovação do conselho de ministros e informação ao presidente de República.
Para forçar a imposição de um gabinete alegadamente mais abrangente, um dos aliados do Ennahda no governo, o Congresso para a República, partido do presidente Monce Marzuki, anunciou, segunda-feira, o abandono da coligação até que seja viabilizada a formação que Jebali pretende.
A par das dúvidas que persistem em torno da resolução institucional da crise política na Tunísia (e das propostas que visam a sua superação mantendo, no fundamental, o figurino de poder dos últimos dois anos), as movimentações de massas no país – as quais tiveram um afluxo com o assassinato de um prestigiado líder democrático Chokri Belaid –, mostram um povo cansado de promessas por concretizar, disposto a impor mudanças económicas e sociais de sentido progressista e a defender as aspirações democráticas desencadeadas com o derrube da ditadura encabeçada por Ben Ali.
Ao funeral de Belaid compareceram dezenas de milhares de pessoas. No mesmo dia, uma greve geral em defesa da democracia e contra a violência, convocada pela União Geral dos Trabalhadores Tunisinos e apoiada pela Frente Patriótica, à qual o partido de Chokri estava vinculado, teve uma adesão muito significativa.
Desde que Chokri Belaid foi morto por atiradores desconhecidos, quarta-feira, dia 6, milhares de tunisinos têm saído às ruas em todo o país. Os protestos foram particularmente contundentes na capital, Tunes, com registos de sucessivos confrontos entre manifestantes e polícia.
Cenário semelhante verificou-se por estes dias em Gafsa, Mezzouna, Sidi Bouzid, Béja, Bizert ou Kasserine, onde a revolta contra a degradação das condições de vida tem levado o povo a contestar abertamente o poder, e onde nos últimos meses se vive um clima pré-insurreccional, com as autoridades a ordenarem o reforço dos contingentes repressivos para manterem o controlo da situação.