Novo chefe estava a par
John Brennan confirmou, quinta-feira, que tinha conhecimento das torturas praticadas pelos EUA nas prisões mantidas secretamente, durante anos, em vários países, pela CIA, bem como as realizadas no campo de concentração de Guantanamo.
Ouvido pelo Senado norte-americano na audiência prévia à sua indigitação, o novo chefe dos serviços secretos justificou-se afirmando que, na altura, se opôs à situação, nada mais podendo fazer senão lamentar por «não integrar a cadeia de comando», disse.
A verdade é que já em 2009, Brennan esteve muito próximo do cargo para o qual foi agora indicado entusiasticamente por Barack Obama, mas os seus vínculos às chamadas «técnicas agressivas de interrogatório» iniciadas pela administração Bush, acabaram por adiar a nomeação.
Na referida sessão, Brennan não se ficou por aqui, e no rol das declarações acerca das práticas da CIA – indiciadoras da sua previsível manutenção e agravamento –, adiantou que as execuções de «terroristas» recorrendo a aviões não-tripulados (drones) é regular e merece a aprovação do presidente Obama.
O que é agora responsável e ex-quadro da Agência, com cerca de um quarto de século de ligação à CIA (por exemplo, foi responsável máximo dos serviços secretos na Arábia Saudita, logrando instalar uma base operacional de drones que ataca em toda a Península Arábica, e esteve envolvido e ao lado de Obama no acompanhamento da operação que abateu Osama Bin Laden, no Paquistão) não esperava era protestos.
A audiência, aberta ao público, foi várias vezes interrompida por manifestantes que contestaram os assassinatos selectivos com aparelhos dirigidos à distância, realizados em qualquer parte do mundo, até que a presidente do hemiciclo mandou evacuar a sala.
Dias antes, um documento do Departamento de Justiça relativo ao assassinato de cidadãos norte-americanos no estrangeiro foi desclassificado pelo presidente dos EUA, que pretendeu, desta forma, aplacar a contestação às execuções de nacionais (como Anwar Al-Aulaqi, morto num bombardeamento dirigido à distância, em Setembro de 2011, no Iémen) tidos como membros de células terroristas e, por isso, catalogados como ameaçadores para a segurança nacional e alvos legítimos e não acolhidos pelos direitos constitucionais. Práticas «legais, éticas e sensatas», no entendimento da Casa Branca, divulgado a propósito.
Paralelamente à nomeação de Brennan, a organização Open Society Foundations emitiu um relatório no qual denuncia 54 países que, afirma, colaboraram na detenção, transferência para Guantanamo e outros cárceres sem-lei, ou nos interrogatórios sob tortura de quase 170 suspeitos de terorismo, levados a cabo, muitas vezes, nos territórios das nações citadas. Entre elas está Portugal, suspeito de permitir o trânsito, entre 2001 e 2006, de mais de uma centena de voos operados pela CIA.