Na Eslovénia e Hungria

Revolta legítima

As cidades eslovenas de Ljubliana, Maribor ou Kranj têm sido palco, nas ultimas semanas, de intensos protestos populares contra as chamadas medidas de austeridade e a corrupção. Na Hungria, o caldo entornou com os cortes na educação.

As manifestações ocorrem em países manietados pelas potências capitalistas da UE

Cortes na educação, saúde e outros serviços públicos; nas pensões e salários; despedimento de funcionários públicos; aumento da idade da reforma para os 65 anos e criação de um denominado «banco mau» para absorver, à custa de fundos públicos, os 6,8 mil milhões de euros de prejuízos dos bancos eslovenos, são o cocktail explosivo que está a mobilizar o povo esloveno, cada vez mais pobre.

As manifestações, que por vezes têm resultado em confrontos com a polícia , e cujo saldo acumulado de detidos já ultrapassa a centena, ocorrem num país subsidiário e manietado aos interesses do capital das economias dominantes da UE, e que segundo a OCDE deverá ver o seu PIB recuar 2,1 por cento em 2013, precisamente devido à receita aplicada com o objectivo propagandístico do saneamento das contas públicas.

À crise económica e social decorrente da crise capitalista mundial e das políticas impostas pela grande burguesia a pretexto da sua superação, soma-se uma ruptura de identificação dos eslovenos para com as componentes orgânicas que têm conduzido o país desde o desmembramento forçado da Jugoslávia.

Ainda nas últimas presidenciais, a 2 de dezembro, o social-democrata Borut Pahor triunfou com apenas 28 por cento dos votos, isto num sufrágio em que participaram somente 40 por cento dos eslovenos com direito electivo.

A saque

Se o descrédito dos partidos vinculados às políticas ruinosas e à integração capitalista europeia - de que, em última análise, aquelas decorrem -, são um dos motivos que tem levado os eslovenos à rua, o outro, particularmente em Maribor, é a corrupção.

O presidente da câmara da segunda cidade do território, o conservador Franc Kangler, foi mesmo obrigado a demitir-se devido à pressão das massas, que não aceitaram ficar de braços cruzados perante a proliferação de escândalos de desvio e abuso de fundos públicos e tráfico de influências.

O congénere da capital, Ljubliana, também é acusado das mesmas práticas, assim como vários membros do governo e, até, o recém eleito presidente.

Em Maribor acresce a implementação de privatizações a torto e a direito desde 1997: da recolha do lixo à água; do teleférico e dos transportes públicos em geral, às funerárias. Este último caso coloca o povo de Maribor na ridícula situação de pagar o dobro para enterrado condignamente face a qualquer outro ponto do país.

O detonante da revolta foi, no entanto, a proliferação pela cidade de um sistema punitivo de radares, adjudicados num processo nada claro pela autarquia a uma empresa privada, a qual, em pouco tempo, emitiu mais de 70 mil multas!

O primeiro-ministro, Janša, tem procurado capitalizar o descontentamento a favor da agenda política conservadora, ora criminalizando os protestos - parte dos quais denominados de inorgânicos -, quer procurando alargar a base parlamentar de apoio a reformas no figurino democrático da Eslovénia. Desde logo, o chefe do executivo conservador visa o papel dos referendos na vida política eslovena, mas o seu ministro das Finanças veio entretanto estender o garrote a todas as matérias que influenciem a políticas de investimento.

Desde a independência, esta tipo de consulta popular tem sido recorrente (15 em cerca de duas décadas), sendo comummente considerado um elemento vital de participação cidadã. O ano passado, num referendo sobre a idade da reforma, a proposta de aumento para os 65 anos foi derrotada por 75 por cento dos eslovenos.

Acordar magiar

Já em Budapeste, a semente da indignação de professores, estudantes, funcionários da educação e população são os cortes no sector. A semana passada, milhares de húngaros voltaram a sair às ruas da capital e de outras cidades do país para exigiram o fim da política de asfixia imposta pelo primeiro-ministro Viktor Orban, sinalizando que, também na Hungria, a hora é de ascenso da luta de massas contra as orientações antipopulares e antipatrióticas, movimentações cuja intensidade, configuração, componentes e conteúdo determinarão os seus limites e objectivos, bem como a arrumação de forças e as políticas concretas mais próximas.



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