Intervenção de abertura de Jerónimo de Sousa

«Sim, estamos confiantes»

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Per­mitam-me que co­mece por uma sau­dação ao prin­cipal obreiro deste XIX Con­gresso do PCP. Sau­dação ao nosso co­lec­tivo par­ti­dário, aos mi­li­tantes, às or­ga­ni­za­ções e or­ga­nismos – que, no quadro das li­nhas de ori­en­tação do Co­mité Cen­tral, par­ti­ci­param, pre­pa­raram, dis­cu­tiram, pro­pu­seram, ele­geram e aqui estão re­a­li­zando o Con­gresso, des­ta­cando-se as 1800 pro­postas e con­tri­bui­ções para as Teses-Re­so­lução Po­lí­tica e cerca de 600 pro­postas nas al­te­ra­ções ao Pro­grama do Par­tido. Uma ampla par­ti­ci­pação e de de­bate co­lec­tivo bem pa­tente também na re­a­li­zação de 1257 reu­niões e As­sem­bleias, com a pre­sença de 18 213 mi­li­tantes.

Sau­damos a pre­sença so­li­dária das de­le­ga­ções es­tran­geiras de par­tidos co­mu­nistas e de ou­tras forças pro­gres­sistas.

Sau­damos também re­pre­sen­ta­ções ins­ti­tu­ci­o­nais e di­plo­má­ticas e con­vi­dados na­ci­o­nais aqui pre­sentes.

Numa si­tu­ação po­lí­tica e so­cial ex­tre­ma­mente com­plexa, num quadro de de­sen­vol­vi­mento e in­ten­si­fi­cação da luta, co­locou-se ao Par­tido a ne­ces­si­dade de não fe­char o Con­gresso por causa da luta, nem fe­char e abrandar a luta por causa do Con­gresso. Tal ob­jec­tivo foi al­can­çado.

Es­tamos con­victos de que vamos re­a­lizar um Con­gresso de afir­mação do Par­tido, vi­rado para fora, de que as suas de­ci­sões serão por­ta­doras da con­fi­ança e es­pe­rança de um fu­turo me­lhor, que va­lo­rize e dê ânimo à luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês.

Um Con­gresso de um Par­tido com his­tória e com me­mória. Não te­remos a pre­sença neste XIX Con­gresso dos ca­ma­radas Dias Lou­renço e Jo­a­quim Gomes, entre muitos ou­tros mi­li­tantes vindos da clan­des­ti­ni­dade que nos dei­xaram nestes anos de­cor­ridos após o XVIII Con­gresso, e cujas vidas e luta são exemplo e re­fe­rência que nos dão força para pros­se­guir este com­bate de todos os dias no pro­cesso de trans­for­mação so­cial.

E é va­lo­ri­zando a nossa his­tória e a nossa me­mória, va­lo­ri­zando os nossos he­róis, que o Co­mité Cen­tral do PCP – certo de in­ter­pretar não apenas a von­tade do con­junto dos mi­li­tantes do Par­tido, mas dos de­mo­cratas e pa­tri­otas, da classe ope­rária, dos tra­ba­lha­dores, dos in­te­lec­tuais, da ju­ven­tude, dos ho­mens e mu­lheres da ci­ência, da arte, da cul­tura, do nosso povo –, de­cidiu co­me­morar, du­rante o ano de 2013 o cen­te­nário do nas­ci­mento do ca­ma­rada Álvaro Cu­nhal.

As Co­me­mo­ra­ções do Cen­te­nário do Nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal serão a justa ho­me­nagem ao homem, ao co­mu­nista, ao in­te­lec­tual, ao ar­tista, fi­gura cen­tral do sé­culo XX e prin­cípio deste sé­culo e que se afirmou como re­fe­rência na luta pelos va­lores da eman­ci­pação so­cial e hu­mana no país e no mundo, e para todos aqueles que abraçam a luta li­ber­ta­dora de todas as formas de ex­plo­ração e opressão do homem e dos povos. Que deu uma con­tri­buição ini­gua­lável para o Par­tido que temos e o Par­tido que somos, o seu Par­tido de sempre – o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês.

O seu pen­sa­mento e acção po­lí­tica, a sua his­tória pes­soal de com­bate pela li­ber­dade, a de­mo­cracia e o so­ci­a­lismo, não pode passar ao lado de todos os que se pre­o­cupam com os pro­blemas que a so­ci­e­dade en­frenta, de re­gressão so­cial e ci­vi­li­za­ci­onal, no quadro de uma aguda crise sis­té­mica do ca­pi­ta­lismo.

Ofen­siva ex­plo­ra­dora

Dois traços prin­ci­pais ca­rac­te­rizam a si­tu­ação in­ter­na­ci­onal. Por um lado, o apro­fun­da­mento da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo a que está as­so­ciada uma vi­o­lenta ofen­siva ex­plo­ra­dora e agres­siva vi­sando fazer re­tro­ceder e li­quidar con­quistas e di­reitos al­can­çados ao longo do sé­culo XX.

Por outro, a forte re­sis­tência e luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos de todos os con­ti­nentes, luta que os grandes ór­gãos de co­mu­ni­cação es­condem e que nós temos de va­lo­rizar, até pelo en­co­ra­ja­mento que re­pre­senta para a nossa pró­pria luta em Por­tugal.

Trata-se de uma si­tu­ação con­tra­di­tória, muito com­plexa e ins­tável, em que grandes pe­rigos de um re­tro­cesso so­cial de di­mensão ci­vi­li­za­ci­onal co­e­xistem com reais pos­si­bi­li­dades de trans­for­mação pro­gres­sista e re­vo­lu­ci­o­nária. Como afirma o Pro­jecto de Re­so­lução Po­lí­tica: «São grandes os pe­rigos re­sul­tantes da ofen­siva do im­pe­ri­a­lismo. Mas, si­mul­ta­ne­a­mente, o de­sen­vol­vi­mento da luta e a to­mada de cons­ci­ência da real na­tu­reza ex­plo­ra­dora, agres­siva e pre­da­dora do ca­pi­ta­lismo, de­mons­tram a exis­tência de reais pos­si­bi­li­dades de re­sis­tência ao im­pe­ri­a­lismo e de de­sen­vol­vi­mento da luta pela su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária do ca­pi­ta­lismo».

A evo­lução da si­tu­ação in­ter­na­ci­onal nos úl­timos quatro anos con­firmou as aná­lises do nosso XVIII Con­gresso.

A crise cí­clica do ca­pi­ta­lismo de­sen­ca­deada em 2007 con­tinua sem fim à vista, en­vol­vendo par­ti­cu­lar­mente as grandes po­tên­cias ca­pi­ta­listas numa si­tu­ação de es­tag­nação e re­cessão eco­nó­mica pro­lon­gada e mesmo, como nos EUA, a ameaça de um novo es­toiro de grande di­mensão.

Uma crise que é ex­pressão de outra crise mais pro­funda, es­tru­tural, que a fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia e a exa­cer­bação da es­pe­cu­lação fi­nan­ceira tornam par­ti­cu­lar­mente aguda e des­trui­dora.

Uma crise que, ao con­trário do que pre­tende uma so­cial-de­mo­cracia pro­fun­da­mente com­pro­me­tida com o grande ca­pital e o im­pe­ri­a­lismo, não re­sulta de uma qual­quer «falha de re­gu­lação do sis­tema fi­nan­ceiro» ou de «ex­cessos dos mer­cados», antes é pro­duto do pró­prio fun­ci­o­na­mento da eco­nomia ca­pi­ta­lista as­sente na cor­rida ao má­ximo lucro e cor­roída por in­sa­ná­veis con­tra­di­ções.

Uma crise que con­firma – é im­por­tante su­blinhá-lo – leis e teses fun­da­men­tais da eco­nomia po­lí­tica mar­xista-le­ni­nista como seja a lei da baixa ten­den­cial da taxa de lucro, ten­dência que o ca­pital pro­cura a todo o custo con­tra­riar in­ten­si­fi­cando a ex­plo­ração do tra­balho as­sa­la­riado e ele­vando a es­pe­cu­lação fi­nan­ceira a ní­veis sem pre­ce­dentes.

Uma crise que está a agu­dizar as dis­putas e con­tra­di­ções no plano mun­dial e entre as grandes po­tên­cias ca­pi­ta­listas, onde a con­cer­tação de classe contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e a so­be­rania dos povos co­e­xiste com a luta entre si por mer­cados, fontes de ma­té­rias-primas e mão-de-obra ba­rata, po­si­ções es­tra­té­gicas, e em que a pro­ble­má­tica do sis­tema mo­ne­tário in­ter­na­ci­onal com o ques­ti­o­na­mento da he­ge­monia do dólar ad­quire cres­cente im­por­tância.

Des­truir di­reitos

Uma crise que as classes do­mi­nantes pro­curam atirar para cima dos tra­ba­lha­dores e ou­tras classes e ca­madas não mo­no­po­listas e que está a servir de pre­texto para ace­lerar a cen­tra­li­zação e con­cen­tração de ca­pital e para atacar e des­truir di­reitos e con­quistas so­ciais e po­lí­ticas al­can­çadas pelos tra­ba­lha­dores dos países ca­pi­ta­listas, par­ti­cu­lar­mente após a 2.ª Guerra Mun­dial, e sob a in­fluência das re­a­li­za­ções da União So­vié­tica. O de­sem­prego mas­sivo, par­ti­cu­lar­mente grave entre a ju­ven­tude; a ge­ne­ra­li­zada di­mi­nuição de sa­lá­rios e ren­di­mentos; o cres­ci­mento do fosso entre ricos e po­bres e o alas­tra­mento da po­breza; o ataque aos sis­temas pú­blicos de Saúde, En­sino e Se­gu­rança So­cial; a pri­va­ti­zação das fun­ções so­ciais do Es­tado e a en­trega ao grande ca­pital de em­presas de im­por­tância es­tra­té­gica, são o re­sul­tado de po­lí­ticas ao ser­viço do grande ca­pital con­ce­bidas e apli­cadas pelos go­vernos e ins­tân­cias in­ter­na­ci­o­nais de ar­ti­cu­lação ca­pi­ta­lista como a OCDE, o FMI, o Banco Mun­dial, a OMC ou a União Eu­ro­peia, que im­põem me­ca­nismos de ex­torsão através de so­fis­ti­cados «pro­gramas de ajus­ta­mento es­tru­tural» como o pacto de agressão que está a ser apli­cado em Por­tugal.

Uma crise que está a ali­mentar ten­dên­cias e ac­ti­vi­dades ra­cistas, fas­cistas e anti-co­mu­nistas - que é ne­ces­sário com­bater com a maior fir­meza – e a con­duzir à in­ten­si­fi­cação do mi­li­ta­rismo e da po­lí­tica de agressão e guerra do im­pe­ri­a­lismo. A si­tu­ação no Médio Ori­ente, com as ame­aças de agressão mi­litar di­recta à Síria e ao Irão e a es­ca­lada cri­mi­nosa de Is­rael na Faixa de Gaza, en­cerra enormes pe­rigos de uma guerra de vastas pro­por­ções. A es­tra­tégia agres­siva da NATO, a si­tu­ação na re­gião Ásia/​Pa­cí­fico, a ins­ta­lação do sis­tema an­ti­míssil dos EUA são, entre muitas ou­tras, si­tu­a­ções que exigem firme con­de­nação e a in­ten­si­fi­cação da luta anti-im­pe­ri­a­lista, pelo de­sar­ma­mento e pela paz.

Re­sistir à re­acção

A ofen­siva do grande ca­pital e das grandes po­tên­cias que o servem é muito vi­o­lenta, tem ob­jec­tivos am­bi­ci­osos, impõe grandes exi­gên­cias à in­ter­venção dos co­mu­nistas e das forças pro­gres­sistas de todo o mundo.

Mas, se as di­fi­cul­dades e a du­reza da luta são grandes, são bem mai­ores os mo­tivos de con­fi­ança quanto à pos­si­bi­li­dade de re­sistir à re­acção e ao im­pe­ri­a­lismo, avançar pelo ca­minho de pro­fundas trans­for­ma­ções anti-mo­no­po­listas e anti-im­pe­ri­a­listas e, fi­nal­mente re­a­lizar o pro­jecto de uma so­ci­e­dade so­ci­a­lista e co­mu­nista.

Os povos não se sub­metem. Por toda a parte, numa es­cala maior ou menor, de­sen­volve-se a luta contra a ofen­siva ex­plo­ra­dora do ca­pital, os ata­ques a di­reitos e li­ber­dades fun­da­men­tais, as po­lí­ticas de opressão na­ci­onal e re­co­lo­ni­zação pla­ne­tária, as guerras de agressão e de ra­pina.

As greves e ma­ni­fes­ta­ções que têm tido lugar em nu­me­rosos países da União Eu­ro­peia; a re­sis­tência he­róica do povo pa­les­ti­niano e as grandes ac­ções de massas no mundo árabe; a re­sis­tência à ocu­pação im­pe­ri­a­lista no Iraque, Afe­ga­nistão e ou­tros países; as im­por­tantes afir­ma­ções de so­be­rania e pro­gresso so­cial que se de­sen­volvem na Amé­rica La­tina, mos­tram que, mesmo num quadro em que a cor­re­lação de forças no plano mun­dial é ainda des­fa­vo­rável, é pos­sível fazer frente ao im­pe­ri­a­lismo e al­cançar e de­fender (como em Cuba so­ci­a­lista) im­por­tantes avanços no ca­minho da li­ber­dade, do pro­gresso so­cial, da paz e do so­ci­a­lismo.

É certo que as der­rotas do so­ci­a­lismo no final do sé­culo XX sig­ni­fi­caram um dra­má­tico en­fra­que­ci­mento das forças re­vo­lu­ci­o­ná­rias, que não foi ainda su­pe­rado, e um enorme salto atrás no pro­cesso de trans­for­mação so­cial. As con­sequên­cias es­tamos hoje a vivê-las com a contra-ofen­siva ex­plo­ra­dora e agres­siva do grande ca­pital e do im­pe­ri­a­lismo. Porém nada pode in­verter a marcha da His­tória no sen­tido da eman­ci­pação so­cial e hu­mana, nada pode im­pedir o triunfo da justa causa do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo.

A crise que ir­rompeu há cinco anos nos EUA e que alas­trou a todos os con­ti­nentes, con­firma que o ca­pi­ta­lismo não só é in­capaz de dar so­lução aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e dos povos, como tende a agravá-los a todos, ao ponto de ame­açar o mundo com uma re­gressão de di­mensão his­tó­rica. Con­firma que o ca­pi­ta­lismo não só não con­segue li­bertar-se das suas crises como estas tendem a tornar-se mais fre­quentes, pro­lon­gadas e des­trui­doras, e que as con­tra­di­ções do sis­tema se tornam mais agudas, a co­meçar pela con­tra­dição fun­da­mental entre o ca­rácter so­cial da pro­dução e a apro­pri­ação pri­vada dos meios de pro­dução. Con­tra­dição a que só a su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária do ca­pi­ta­lismo pode pôr termo, com a con­quista do poder pelos tra­ba­lha­dores, a so­ci­a­li­zação dos prin­ci­pais meios de pro­dução e cir­cu­lação, a pla­ni­fi­cação da eco­nomia e, so­bre­tudo, a cons­trução de um sis­tema de poder que pro­mova e as­se­gure a par­ti­ci­pação em­pe­nhada e cri­a­dora das massas na cons­trução do seu pró­prio des­tino.

A um sis­tema cada vez mais pa­ra­si­tário e de­ca­dente, capaz das mai­ores in­jus­tiças e dos mai­ores crimes para as­se­gurar gi­gan­tescos lu­cros aos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros que do­minam o mundo, su­ce­derá fi­nal­mente um sis­tema eco­nó­mico e so­cial que já mos­trou ser su­pe­rior, capaz de de­sen­volver as forças pro­du­tivas e dis­tri­buir a ri­queza em be­ne­fício dos tra­ba­lha­dores e da es­ma­ga­dora mai­oria do povo.

É certo que o so­ci­a­lismo é a única ver­da­deira al­ter­na­tiva ao ca­pi­ta­lismo, mas não é menos certo que vi­vemos ainda tempos de re­sis­tência e acu­mu­lação de forças e que, em termos mun­diais, as con­di­ções sub­jec­tivas estão atra­sadas em re­lação ao ama­du­re­ci­mento das con­di­ções ma­te­riais ob­jec­tivas. Mas o so­ci­a­lismo é uma ne­ces­si­dade his­tó­rica. Por ca­mi­nhos di­ver­si­fi­cados, de acordo com a si­tu­ação con­creta de cada país, re­jei­tando mo­delos de re­vo­lução e de cons­trução da nova so­ci­e­dade, todos os povos che­garão ao so­ci­a­lismo.

De­clínio eco­nó­mico

Em Por­tugal, os úl­timos quatro anos que de­cor­reram desde a re­a­li­zação do XVIII Con­gresso estão mar­cados por sig­ni­fi­ca­tivas al­te­ra­ções na si­tu­ação po­lí­tica, eco­nó­mica e so­cial.

A grave crise que o País en­fren­tava em re­sul­tado de mais de três dé­cadas de po­lí­ticas de di­reita, de­ter­mi­nada pelos in­te­resses dos grandes grupos eco­nó­micos e su­bor­di­nada à in­te­gração ca­pi­ta­lista na União Eu­ro­peia, am­pliou-se de forma brutal e com con­sequên­cias dra­má­ticas na vida do povo e do País.

Neste pe­ríodo e du­rante a vi­gência de três go­vernos – dois do PS e o ac­tual do PSD/​CDS-PP, as­sis­timos a um mais acen­tuado de­clínio eco­nó­mico do País, a um novo avanço no pro­cesso de re­gressão so­cial, à perda de novas par­celas de so­be­rania e ao em­po­bre­ci­mento do re­gime de­mo­crá­tico.

Com o pri­meiro e se­gundo go­vernos do PS/​Só­crates pros­se­guiu, com o apoio do PSD e CDS, a con­cre­ti­zação da agenda do grande ca­pital e da sua po­lí­tica de trans­fe­rência para o povo das con­sequên­cias da «crise na­ci­onal» que se agravou e en­trosou com a crise eco­nó­mica in­ter­na­ci­onal do ca­pi­ta­lismo.

Essa con­cer­tação na pros­se­cução das ori­en­ta­ções da po­lí­tica de di­reita, no­me­a­da­mente das po­lí­ticas de se­vera aus­te­ri­dade, de ali­e­nação do pa­tri­mónio do país e da so­be­rania na­ci­onal, es­teve bem pa­tente na vi­a­bi­li­zação dos or­ça­mentos para 2010 e 2011, na apro­vação dos PEC I, II e III pelo PSD, na apro­vação do Tra­tado de Lisboa, do se­mestre eu­ropeu e ou­tros me­ca­nismos de con­trolo or­ça­mental, bem como o apoio a muitas ou­tras me­didas contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções.

Acção con­ver­gente e po­lí­tica que tinha também apoio do ac­tual Pre­si­dente da Re­pú­blica, en­tre­tanto re­e­leito.

A po­lí­tica pra­ti­cada pelo se­gundo go­verno do PS, par­ti­cu­lar­mente a im­po­sição sis­te­má­tica de me­didas de aus­te­ri­dade que foram cres­cendo de PEC em PEC, con­duziu ao seu iso­la­mento so­cial e a um pro­fundo des­cré­dito do pró­prio PS e da sua po­lí­tica.

A in­sis­tência num novo PEC de me­didas de aus­te­ri­dade agra­vadas – o IV – num curto es­paço de tempo, foi apro­vei­tada pelo PS, num mo­mento em que o grande ca­pital apos­tava já numa outra so­lução go­ver­na­tiva, para pro­curar vi­ti­mizar-se e ame­açar com o caos se as suas me­didas não fossem aceites por PSD e CDS para se manter no poder.

Numa ope­ração mar­cada pela en­ce­nação e chan­tagem, in­cluindo sobre aqueles, como o PCP, que justa e de­ci­di­da­mente se opu­nham à sua po­lí­tica anti-so­cial e anti-po­pular, os par­ceiros da «dança do tango» – PS e PSD – rompem a sua ali­ança tá­cita e Só­crates auto-de­mite-se.

É esta a ver­dade e não outra. Se o PS é ví­tima de al­guma coisa, é do seu com­pro­misso com a po­lí­tica de di­reita!

Golpe à de­mo­cracia

Com elei­ções an­te­ci­padas mar­cadas e adi­an­tando-se ao ve­re­dicto po­pular, o go­verno do PS de­cide jun­ta­mente com PSD e CDS e o apoio do Pre­si­dente da Re­pú­blica aceitar e subs­crever um Pro­grama de As­sis­tência Fi­nan­ceira – um ver­da­deiro pacto de agressão contra o nosso povo e os in­te­resses na­ci­o­nais – e en­tregar os des­tinos do país à hu­mi­lhante de­pen­dência da in­ter­venção es­tran­geira, con­cre­ti­zada pela troika FMI/​EU/​BCE.

Um pacto que cons­titui um golpe contra o re­gime de­mo­crá­tico, a so­be­rania e a in­de­pen­dência na­ci­onal e cor­res­pondeu ao de­sígnio do grande ca­pital de pro­curar ga­rantir a con­cre­ti­zação de um salto adi­ante na ex­plo­ração e na des­truição dos di­reitos so­ciais, de ser­viços pú­blicos, do poder local de­mo­crá­tico e de apro­pri­ação de avul­tados re­cursos pú­blicos.

Ob­jec­tivos que PS, PSD e CDS de­li­be­ra­da­mente es­con­deram no pe­ríodo elei­toral, num pro­cesso que se con­cluiu com a ob­tenção de uma mai­oria re­la­tiva pelo PSD, e na for­mação de um go­verno PSD/​CDS. Go­verno que pros­se­guiu de forma agra­vada a po­lí­tica de di­reita e a exe­cução do Pacto de Agressão e que tem con­tado, in­de­pen­den­te­mente de dis­cor­dân­cias se­cun­dá­rias, com o in­teiro apoio do PS.

Os or­ça­mentos do Es­tado para 2012 e 2013 tra­du­ziram a pro­funda ofen­siva contra os di­reitos e con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo e mais de­vas­ta­doras con­sequên­cias no plano eco­nó­mico e so­cial com os cortes no in­ves­ti­mento e com a ace­le­ração da en­trega de em­presas e re­cursos pú­blicos ao grande ca­pital.

Como o PCP de­nun­ciou, o pacto de agressão con­firma-se como um novo e pe­ri­goso passo na po­lí­tica de di­reita, como um ins­tru­mento de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento do povo, li­qui­dação do te­cido pro­du­tivo, com­pro­me­ti­mento do fu­turo do país e usur­pação da so­be­rania na­ci­onal.

Ano e meio pas­sados da sua as­si­na­tura, Por­tugal está mais en­di­vi­dado, cada vez mais refém dos juros es­pe­cu­la­tivos, en­re­dado num ciclo vi­cioso «aus­te­ri­dade-re­cessão-dé­fice» e sem pers­pec­tivas de so­lução para os pro­blemas na­ci­o­nais.

Agra­va­mento da si­tu­ação

A con­ti­nuada e per­sis­tente ofen­siva su­por­tada em dé­cadas de po­lí­tica de di­reita e de re­cons­ti­tuição e con­so­li­dação do ca­pital mo­no­po­lista, co­nhece no pre­sente mo­mento uma nova e mais in­tensa fase com graves con­sequên­cias em todos os do­mí­nios da vida na­ci­onal.

Desde logo na si­tu­ação eco­nó­mica do País, a braços com um pro­lon­gado pe­ríodo de es­tag­nação e uma re­cessão sem pre­ce­dentes que deixa atrás de si um rasto de des­truição de em­prego, em­presas e re­cursos e que con­tinua sem fim à vista.

Ao con­trário do que o ac­tual Go­verno afirma, a manter-se a ac­tual ori­en­tação eco­nó­mica e so­cial, Por­tugal en­trará em de­pressão, atra­ves­sando nos pró­ximos anos um longo pe­ríodo de es­tag­nação e re­cessão.

O agra­va­mento da si­tu­ação na­ci­onal, onde pesa o ele­vado nível de en­di­vi­da­mento ex­terno do país é, no fun­da­mental, con­sequência do pro­cesso de de­sin­dus­tri­a­li­zação e de des­truição do apa­relho pro­du­tivo, das pri­va­ti­za­ções, da fi­nan­cei­ri­zação da eco­nomia e da sub­missão às im­po­si­ções da União Eu­ro­peia e de uma po­lí­tica di­tada pela in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores e, si­mul­ta­ne­a­mente, pro­tecção aos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Um pro­cesso que, tendo estas causas es­tru­tu­rais, se acen­tuou de forma ex­po­nen­cial por via da adesão ao euro, este se trans­forma num factor es­tru­tural adi­ci­onal, ori­gi­nando perda de com­pe­ti­ti­vi­dade da eco­nomia por­tu­guesa, quer nos mer­cados ex­ternos, quer no mer­cado in­terno e, mais re­cen­te­mente, a partir de 2008, da trans­fe­rência para os es­tados e para os povos das dí­vidas acu­mu­ladas pelo sector fi­nan­ceiro, no­me­a­da­mente as que re­sultam do «lixo tó­xico» e das fraudes ban­cá­rias.

A fra­gi­li­zação do apa­relho pro­du­tivo, evi­dente na evo­lução das nossa agri­cul­tura, das pescas, in­dús­tria ex­trac­tiva e trans­for­ma­dora, teve como con­sequência a subs­ti­tuição da pro­dução na­ci­onal por im­por­ta­ções, tra­du­zido no sis­te­má­tico e per­sis­tente dé­fice da ba­lança de mer­ca­do­rias.

Esta fra­gi­li­dade es­tru­tural está do­mi­nan­te­mente na origem dos nossos de­se­qui­lí­brios ex­ternos e tem graves re­flexos no dé­fice das contas pú­blicas e na dí­vida pú­blica.

Fra­gi­li­dade que se agra­vará com o cri­mi­noso pro­grama po­lí­tico de pri­va­ti­za­ções que está em curso, re­for­çando a es­tru­tura mo­no­po­lista/​oli­go­po­lista que hoje do­mina a eco­nomia na­ci­onal, em es­treita ar­ti­cu­lação com o grande ca­pital es­tran­geiro.

Evo­lução ne­ga­tiva

Na evo­lução ne­ga­tiva da si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial do País pesa par­ti­cu­lar­mente a ob­sessão pelo dé­fice ca­rac­te­ri­zada por uma po­lí­tica eco­nó­mico-fi­nan­ceira fa­vo­rável aos grandes in­te­resses e ne­gó­cios dos fundos fi­nan­ceiros e es­pe­cu­la­tivos.

A gestão or­ça­mental tem vindo a re­velar-se um ins­tru­mento fun­da­mental na re­con­fi­gu­ração ne­o­li­beral do Es­tado com a con­se­quente trans­fe­rência da pro­pri­e­dade so­cial e pú­blica para os grupos mo­no­po­listas e a mu­dança qua­li­ta­tiva a que temos vindo a as­sistir, na ca­pa­ci­dade de o Es­tado in­tervir, re­gular e pla­ni­ficar o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico.

A fi­xação nas ex­por­ta­ções como eixo ex­clu­sivo da po­lí­tica eco­nó­mica des­va­lo­rizou e des­pro­tegeu o mer­cado in­terno, onde 99 por cento das em­presas por­tu­guesas tra­ba­lham, con­tri­buiu para afundar ainda mais o país na re­cessão.

Neste pe­ríodo, a brutal re­dução do in­ves­ti­mento pú­blico, que se acen­tuou com o pacto de agressão, con­duziu à pa­ra­li­sação e aban­dono caó­tico da quase to­ta­li­dade de obras e pro­jectos de in­fra­es­tru­turas bá­sicas, com gra­vís­simas con­sequên­cias para a ac­ti­vi­dade eco­nó­mica e a pro­funda re­gressão ve­ri­fi­cada.

Como ele­mento in­se­pa­rável do pro­cesso de re­cu­pe­ração ca­pi­ta­lista, de­sen­volveu-se uma ofen­siva global contra os in­te­resses po­pu­lares e de­gradou-se de forma acen­tuada a si­tu­ação so­cial .

Um pro­cesso que está na origem do con­ti­nuado au­mento das in­jus­tiças e de­si­gual­dades so­ciais e da si­tu­ação de atraso do país re­la­ti­va­mente à maior parte dos países da União Eu­ro­peia com dos mais baixos sa­lá­rios e pen­sões, um dos mais baixos sa­lário mí­nimo e um dos mai­ores fossos entre ricos e po­bres e uma das mais ele­vadas taxa de po­breza.

Uma re­a­li­dade agra­vada nos úl­timos quatro anos por um ele­va­dís­simo nível de de­sem­prego – mais de um mi­lhão e du­zentos mil de­sem­pre­gados – com um ritmo de pro­gressão que, mês após mês, co­nhece novos va­lores e que ameaça, de acordo com todas as pro­jec­ções, con­ti­nuar a au­mentar. Um pro­blema que se tornou num grave pro­blema na­ci­onal.

Ofen­siva ex­plo­ra­dora

A ofen­siva vi­sando a ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores deu, neste pe­ríodo, um novo e qua­li­ta­tivo salto. Foram as al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral, com par­ti­cular des­taque para a úl­tima re­visão do Có­digo de Tra­balho, pela mão de PSD e CDS – com o apoio do PS, da UGT e do Pre­si­dente da Re­pú­blica.

Um con­junto vasto de al­te­ra­ções que vão no sen­tido de forçar a tra­ba­lhar por menos sa­lário, tornar o des­pe­di­mento mais fácil e mais ba­rato, pre­ca­rizar as re­la­ções de tra­balho e li­quidar a con­tra­tação co­lec­tiva que atingiu todos os tra­ba­lha­dores do sector pri­vado e si­mul­ta­ne­a­mente do sector pú­blico através de le­gis­lação es­pe­cí­fica.

Foram os ata­ques des­me­didos aos sa­lá­rios e ren­di­mentos do tra­balho por via di­recta e in­di­recta. Com o boi­cote à con­tra­tação co­lec­tiva au­mentou o nú­mero de tra­ba­lha­dores a au­ferir o sa­lário mí­nimo na­ci­onal e a re­dução real dos sa­lá­rios, e a ge­ne­ra­li­zação da pre­ca­ri­e­dade nos vín­culos la­bo­rais.

Os tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica e das em­presas pú­blicas são atin­gidos de forma brutal nos seus ren­di­mentos e di­reitos com a sus­pensão do au­mento dos sa­lá­rios, da pro­gressão nas car­reiras pro­fis­si­o­nais, da re­ti­rada uma parte do sa­lário, do roubo dos sub­sí­dios de fé­rias e de Natal, entre ou­tros.

Também o ataque aos di­reitos à pro­tecção so­cial atingiu uma nova di­mensão, quer pela mão dos go­vernos do PS, quer do ac­tual Go­verno PSD/​CDS com os cortes na pro­tecção so­cial no de­sem­prego, no valor do sub­sídio de de­sem­prego e o seu tempo de du­ração; na do­ença, com a re­dução do sub­sídio; na re­forma, com a sus­pensão dos au­mentos, a eli­mi­nação da pos­si­bi­li­dade da sua an­te­ci­pação para antes dos 65 anos, na re­dução da pensão ou au­mento da idade da re­forma, que­brando o com­pro­misso cons­tante do re­gime con­tri­bu­tivo da Se­gu­rança So­cial.

A drás­tica re­dução de des­pesas so­ciais im­posta, no­me­a­da­mente com a lei da Con­dição de Re­curso, de­ter­minou o can­ce­la­mento e o afas­ta­mento de apoios e pres­ta­ções so­ciais a mi­lhares de be­ne­fi­ciá­rios.

Com o pacto de agressão e com o Or­ça­mento do Es­tado para 2013 a re­lação exis­tente entre os des­contos e a ga­rantia de pro­tecção so­cial está posta em causa.

Por outro lado, a po­lí­tica fiscal atinge ní­veis de au­tên­tico con­fisco dos ren­di­mentos do tra­balho, das classes e ca­madas po­pu­lares, no­me­a­da­mente com o au­mento do IRS. Os di­reitos so­ciais foram igual­mente alvo de ataque sem pre­ce­dentes.

Pro­cessos de des­truição

Com os go­vernos do PS pre­si­didos por José Só­crates teve início uma fase qua­li­ta­ti­va­mente nova da ofen­siva contra o Ser­viço Na­ci­onal de Saúde (SNS), que ficou mar­cada pelo en­cer­ra­mento de de­zenas de ser­viços de pro­xi­mi­dade e apli­cação do prin­cipio do «uti­li­zador-pa­gador», dando corpo a uma es­tra­tégia de trans­fe­rência para os grupos pri­vados de uma parte sig­ni­fi­ca­tiva da pres­tação de cui­dados de saúde.

Es­tra­tégia que ga­nhou novo fô­lego com o ac­tual Go­verno do PSD/​CDS, com o pro­cesso de des­truição do SNS pela as­fixia fi­nan­ceira pro­vo­cada pelos avul­tados cortes or­ça­men­tais, as re­es­tru­tu­ra­ções hos­pi­ta­lares e da rede de ur­gência, de­li­ne­adas na nova carta hos­pi­talar; o alar­ga­mento e au­mento das taxas mo­de­ra­doras; a al­te­ração nos apoios ao trans­porte de do­entes; a re­dução da com­par­ti­ci­pação pelo Es­tado nos me­di­ca­mentos e a re­dução dos meios téc­nicos e hu­manos.

O agra­va­mento da si­tu­ação da ju­ven­tude, de­sig­na­da­mente no tra­balho (pre­ca­ri­e­dade cres­cente, baixos sa­lá­rios, au­sência de di­reitos) e na edu­cação (au­mentos bru­tais dos custos do en­sino e sua eli­ti­zação, cortes na acção so­cial); a de­gra­dação da si­tu­ação das mu­lheres (re­tro­cesso no seu di­reito à igual­dade nas mais di­versas es­feras da sua vida, par­ti­cu­lar­mente em re­sul­tado do au­mento do de­sem­prego e da des­va­lo­ri­zação dos ren­di­mentos do seu tra­balho); a de­gra­dação das con­di­ções de vida dos re­for­mados e pen­si­o­nistas (ataque às re­formas e pen­sões, as di­fi­cul­dades de acesso à saúde, o au­mento do custo de vida); a de­gra­dação dos pro­blemas da ha­bi­tação (nova lei do ar­ren­da­mento, mi­lhares de fa­mí­lias as­fi­xi­adas pelas dí­vidas à banca); a de­gra­dação do sector dos trans­portes no quadro da ló­gica pri­va­ti­za­dora em curso (agra­va­mento brutal dos preços, ataque ao passe so­cial, de­gra­dação do ser­viço pú­blico, en­cer­ra­mento de fer­ro­vias e car­reiras ro­do­viá­rias, ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores), bem como a de­gra­dação das con­di­ções de vida e de tra­balho dos imi­grantes em re­sul­tado da crise eco­nó­mica – cons­ti­tuem ou­tros as­pectos graves da si­tu­ação so­cial.

Num claro des­res­peito pela Cons­ti­tuição da Re­pú­blica e pela Lei de Bases do Sis­tema Edu­ca­tivo, os go­vernos do PS/​Só­crates e do PSD-CDS/​PP con­cre­ti­zaram uma es­tra­tégia mar­cada pela des­va­lo­ri­zação e des­fi­gu­ração da Es­cola e En­sino Pú­blicos (ele­vados cortes no fi­nan­ci­a­mento do sis­tema edu­ca­tivo, en­cer­ra­mento de mi­lhares de es­colas do pri­meiro ciclo, re­dução dos apoios edu­ca­tivos a alunos com ne­ces­si­dades es­pe­ciais, re­visão cur­ri­cular; au­mento do nú­mero de alunos por turma; cons­ti­tuição dos mega-agru­pa­mentos, de­sem­prego de mi­lhares de pro­fes­sores, me­didas todas no sen­tido de de­gradar a qua­li­dade do en­sino). Agora, o pri­meiro-mi­nistro, esta se­mana, anuncia a in­tenção de criar um sis­tema de fi­nan­ci­a­mento mais re­par­tido, dei­xando an­tever o pa­ga­mento de pro­pinas também no En­sino Se­cun­dário.

No En­sino Su­pe­rior as­sis­timos ao aban­dono de mi­lhares de es­tu­dantes por não terem os meios para su­portar os seus custos e, ao mesmo tempo, ao es­tran­gu­la­mento e de­gra­dação global do sis­tema de En­sino Su­pe­rior, por via dos cortes or­ça­men­tais, cuja di­mensão é in­com­por­tável para o seu eficaz fun­ci­o­na­mento.

Pro­funda crise

Também no de­curso dos úl­timos quatro anos, as me­didas to­madas e as po­lí­ticas se­guidas não foram de molde a al­terar a fra­gi­li­dade do Sector da Ci­ência e Tec­no­logia na­ci­onal. Con­tinua a não existir uma po­lí­tica ci­en­tí­fica na­ci­onal que atenda, de­sig­na­da­mente, às ne­ces­si­dades do sector pro­du­tivo e de ser­viços es­sen­ciais.

Nas áreas e ac­ti­vi­dades cul­tu­rais a si­tu­ação está mar­cada por uma pro­funda crise. Nesta crise re­per­cutem-se os efeitos de­vas­ta­dores das po­lí­ticas de «aus­te­ri­dade», cujos or­ça­mentos atin­giram os va­lores mais baixos de sempre, com a des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado e brutal re­dução dos seus meios de apoio, di­na­mi­zação e de­sen­vol­vi­mento cul­tural.

In­se­pa­rável da ofen­siva contra os di­reitos so­ciais e as es­tru­turas so­ci­o­e­co­nó­micas é a ofen­siva contra o re­gime de­mo­crá­tico que en­frenta hoje novos e mais in­qui­e­tantes pe­rigos.

Trata-se de uma ofen­siva sus­ten­tada numa linha de con­ti­nuado con­fronto e vi­o­lação da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica e que pro­cura hoje novos pre­textos para a des­res­peitar, em­po­brecer a de­mo­cracia e li­quidar o re­gime de­mo­crá­tico, no­me­a­da­mente a partir dos prin­ci­pais ór­gãos de so­be­rania. Um grave pro­blema que adi­ante tra­ta­remos no quadro da abor­dagem às al­te­ra­ções do pro­grama do Par­tido e que, neste pre­ciso mo­mento, se traduz numa nova es­ca­lada de sub­versão por parte do Go­verno com o anun­ciado pro­pó­sito de pro­mover a já re­fe­rida «re­fun­dação» do Es­tado e que visa a li­qui­dação das suas fun­ções so­ciais e a pri­va­ti­zação di­recta de áreas, ser­viços e fun­ções do Es­tado mer­can­ti­li­zá­veis, re­du­zindo a ad­mi­nis­tração pú­blica a as­pectos re­si­duais.

Evo­lução da si­tu­ação

Con­tudo, per­mitam-me al­gumas con­si­de­ra­ções ainda em re­lação à evo­lução da si­tu­ação em al­guns sec­tores. A grave si­tu­ação da Jus­tiça re­flecte bem a de­gra­dação a que chegou o re­gime de­mo­crá­tico – é uma jus­tiça mais de­si­gual, de classe, de mais di­fícil acesso, menos eficaz e efec­tiva, menos in­de­pen­dente.

Di­mi­nuiu a verba or­ça­mental para a Jus­tiça, re­duziu-se o efec­tivo de pro­fis­si­o­nais do sector, de­gradou-se mais o parque ju­di­ciário e são pi­ores as con­di­ções de tra­balho, é maior e mais grave a in­su­fi­ci­ência de meios.

No que res­peita à po­lí­tica de De­fesa Na­ci­onal e Forças Ar­madas, os úl­timos quatro anos ca­rac­te­rizam-se por uma si­tu­ação de quase pa­ra­lisia na sus­ten­tação dos meios ope­ra­ci­o­nais e na gestão ade­quada dos seus meios hu­manos e que se agravou com a apli­cação do pacto de agressão e por uma po­lí­tica de pros­se­gui­mento do ob­jec­tivo de erigir o con­ceito de se­gu­rança na­ci­onal em dou­trina na­ci­onal e uma or­ga­ni­zação das Forças Ar­madas as­sente no pri­mado do seu uso para a in­ter­venção ex­terna.

A Se­gu­rança In­terna no nosso País, acom­pa­nhando toda a ofen­siva contra a ad­mi­nis­tração pú­blica, tem-se de­gra­dado, ao longo dos úl­timos anos. Como re­flexo da pro­funda crise eco­nó­mica e so­cial, a cri­mi­na­li­dade tende a crescer, di­mi­nuiu o in­ves­ti­mento na se­gu­rança, au­mentou o dé­fice de efec­tivos po­li­ciais, au­mentou o medo e a in­se­gu­rança das po­pu­la­ções.

O ataque di­ri­gido contra o Poder Local co­nheceu de­sen­vol­vi­mentos que criam uma si­tu­ação com con­tornos e di­mensão sem an­te­ce­dentes. Trata-se de uma ofen­siva qua­li­ta­ti­va­mente nova e mais grave e que, atin­gindo si­mul­ta­ne­a­mente o seu ca­rácter de­mo­crá­tico e a au­to­nomia fi­nan­ceira e ad­mi­nis­tra­tiva das au­tar­quias, visa re­duzir o seu papel e des­va­lo­rizar o seu lugar no quadro da or­ga­ni­zação po­lí­tica e da ad­mi­nis­tração do Es­tado. Um ataque que visa li­quidar também di­rec­ta­mente cen­tenas de fre­gue­sias.

Também as au­to­no­mias re­gi­o­nais têm sido su­jeitas, pela po­lí­tica dos úl­timos go­vernos e, mais re­cen­te­mente, pelo pacto de agressão, a li­mi­ta­ções, de­sig­na­da­mente no plano fi­nan­ceiro.

O pro­cesso de con­cen­tração da pro­pri­e­dade no sector da co­mu­ni­cação so­cial, tra­du­zido na posse de um es­ma­gador nú­mero de ór­gãos por um re­du­zido nú­mero de grandes grupos eco­nó­micos, afecta ir­re­me­di­a­vel­mente a qua­li­dade, di­ver­si­dade e plu­ra­lismo da in­for­mação, da cul­tura e do pró­prio re­gime de­mo­crá­tico.

Re­tro­cesso so­cial

A in­tensa ope­ração em curso para impor aos tra­ba­lha­dores e ao povo um pro­grama de ex­plo­ração e re­tro­cesso so­cial tem, na po­de­rosa ofen­siva ide­o­ló­gica que a su­porta, um ins­tru­mento es­sen­cial no pro­cesso de do­mi­nação de classe. Ofen­siva que tem nos prin­ci­pais ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial os seus veí­culos de di­fusão mas­siva.

A cam­panha de mis­ti­fi­ca­ções e fal­si­dades, onde avultam, entre ou­tros, a avas­sa­la­dora cor­rente de ar­gu­mentos que, an­co­rada na «crise», na ale­gada «falta de re­cursos», mas também a chan­tagem da emi­nência da ban­car­rota, vi­sava a acei­tação, pas­siva e re­sig­nada, por parte dos por­tu­gueses, de todas as mal­fei­to­rias que estão a ser per­pe­tradas no País contra os tra­ba­lha­dores e o povo.

A par com dé­cadas de po­lí­ticas de di­reita, uma das ra­zões de fundo da pro­funda crise que o País vive está na na­tu­reza e evo­lução do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista na Eu­ropa – a União Eu­ro­peia –, e no efeito das suas po­lí­ticas.

Uma evo­lução mar­cada pelo ace­le­rado apro­fun­da­mento do seu rumo ne­o­li­beral, fe­de­ra­lista e mi­li­ta­rista que co­nheceu com o Tra­tado de Lisboa um novo im­pulso. Uma evo­lução de­ter­mi­nada pelo di­rec­tório das grandes po­tên­cias e re­a­li­zada no quadro de uma cres­cente fusão do poder eco­nó­mico mo­no­po­lista com o poder po­lí­tico das ins­ti­tui­ções eu­ro­peias.

A cri­ação do Euro con­firmou-se como parte de um pro­jecto es­tra­té­gico de do­mínio do grande ca­pital e das prin­ci­pais po­tên­cias ca­pi­ta­listas eu­ro­peias, no­me­a­da­mente da Ale­manha, um ins­tru­mento ao ser­viço da ex­plo­ração do tra­balho e do apro­fun­da­mento das con­di­ções de ren­di­bi­li­dade do ca­pital e, si­mul­ta­ne­a­mente, no plano in­ter­na­ci­onal como um ins­tru­mento cen­tral da con­cor­rência e ri­va­li­dade inter-im­pe­ri­a­listas.

A ma­nu­tenção ar­ti­fi­cial de um euro forte, no quadro da con­cor­rência com o dólar, pesa de forma muito ne­ga­tiva na si­tu­ação eco­nó­mica dos países, como Por­tugal. No plano na­ci­onal o euro sig­ni­ficou uma dé­cada de au­sência de cres­ci­mento eco­nó­mico e de des­truição do te­cido pro­du­tivo na­ci­onal, seja na agri­cul­tura, nas pescas ou na in­dús­tria. Nós pre­vimos e pre­ve­nimos!

A in­te­gração eco­nó­mica con­duziu ao re­forço da supra-na­ci­o­na­li­dade e os su­ces­sivos saltos fe­de­ra­listas são in­se­pa­rá­veis da ten­ta­tiva de criar um «super-Es­tado» im­pe­ri­a­lista, com re­la­ções de do­mínio co­lo­nial no seu seio, à custa da so­be­rania dos es­tados, das con­di­ções de vida e do di­reito ao de­sen­vol­vi­mento dos povos, e da pró­pria de­mo­cracia.

As per­tur­ba­ções do euro e as in­cóg­nitas li­gadas ao seu fu­turo re­flectem-se nas da União Eu­ro­peia. A União Eu­ro­peia evo­luiu no sen­tido do apro­fun­da­mento de re­la­ções de de­pen­dência e de acen­tu­ação de as­si­me­trias.

Ins­tru­mentos de do­mínio

Desde o XVIII Con­gresso de­sen­volveu-se novos ins­tru­mentos de do­mínio po­lí­tico e eco­nó­mico pro­fun­da­mente con­trá­rios aos in­te­resses dos povos de países como o nosso, com con­sequên­cias de­vas­ta­doras para o seu de­sen­vol­vi­mento e a sua so­be­rania.

No seu con­junto estes ins­tru­mentos visam criar um quadro de cons­tran­gi­mento ab­so­luto a qual­quer pro­jecto de de­sen­vol­vi­mento pró­prio, au­tó­nomo e so­be­rano de países como Por­tugal e servem o ob­jec­tivo de ge­ne­ra­lizar e eter­nizar as po­lí­ticas de aus­te­ri­dade e ex­plo­ração sub­ja­centes aos «pro­gramas de ajus­ta­mento fi­nan­ceiro». Bru­tais pro­gramas de em­po­bre­ci­mento dos países, das massas tra­ba­lha­doras e po­pu­lares e de trans­fe­rência para o grande ca­pital de re­cursos pú­blicos.

O rumo da União Eu­ro­peia, longe de re­solver os graves pro­blemas dos povos, apenas está a agravar con­tra­di­ções e a apro­fundar a crise.

As ac­tuais pro­postas e dis­cus­sões em torno do con­ceito «mais Eu­ropa para sair da crise» são, na sua na­tu­reza, idên­ticas às po­lí­ticas «de aus­te­ri­dade», por mais que os ideó­logos do ne­o­li­be­ra­lismo ou forças que se re­clamam de um «eu­ro­peísmo de es­querda» o pro­curem iludir.

A União Eu­ro­peia não é re­for­mável. É uma União Eu­ro­peia con­ce­bida e con­cre­ti­zada como ins­tru­mento do grande ca­pital de do­mínio do con­ti­nente eu­ropeu. A cons­trução de uma outra Eu­ropa dos tra­ba­lha­dores e dos povos pas­sará obri­ga­to­ri­a­mente pela der­rota do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu e não será com­pa­tível com as po­lí­ticas de aus­te­ri­dade e co­lo­ni­zação eco­nó­mica.

Afir­mando o seu ina­ba­lável com­pro­misso em de­fesa da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, o PCP rei­tera a sua re­jeição a uma in­te­gração eu­ro­peia que se ca­rac­te­riza pela sub­missão e con­di­ci­o­na­mento do de­sen­vol­vi­mento de Por­tugal e re­nova o seu com­pro­misso de lutar por um Por­tugal in­de­pen­dente e so­be­rano, por um pro­jecto de co­o­pe­ração entre es­tados so­be­ranos e iguais em di­reitos.

De­ter­mi­nado pelo com­pro­misso com o in­te­resse na­ci­onal, o PCP re­a­firma o pleno di­reito do povo por­tu­guês de de­cidir do seu pró­prio des­tino e de ver as­se­gu­rada a pre­va­lência dos in­te­resses na­ci­o­nais sobre quais­quer ou­tros pro­jectos que lhe sejam con­trá­rios. Di­reito este que em ne­nhuma cir­cuns­tância pode ser ex­pro­priado.

Re­jeitar o pacto de agressão

Toda esta evo­lução de anos de po­lí­tica de di­reita ao ser­viço do ca­pital mo­no­po­lista tornou Por­tugal um país mais in­justo, mais de­si­gual, mais de­pen­dente e menos de­mo­crá­tico.

A con­ti­nu­ação deste rumo e desta po­lí­tica, sob o quadro do pacto de agressão, com­porta não apenas agra­vados pe­rigos para o País, como uma si­tu­ação in­sus­ten­tável de de­gra­dação das con­di­ções de vida do povo.

A ur­gência de uma rup­tura com esta po­lí­tica, de uma mu­dança na vida na­ci­onal que abra ca­minho à cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda, cons­titui um im­pe­ra­tivo na­ci­onal, uma con­dição para as­se­gurar um Por­tugal de jus­tiça so­cial e pro­gresso, um país so­be­rano e in­de­pen­dente.

Uma po­lí­tica que é não só ne­ces­sária como pos­sível se cada um tomar em suas mãos a von­tade de a con­cre­tizar e de lhe dar sen­tido.

Uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que co­loca como ta­refa pri­o­ri­tária o com­bate à pro­funda crise eco­nó­mica e so­cial que atra­vessa o País e que pres­supõe dar uma res­posta ime­diata em seis di­rec­ções es­sen­ciais:

Re­jeição do pacto de agressão, con­tra­pondo a re­ne­go­ci­ação da dí­vida de acordo com os in­te­resses na­ci­o­nais, de­sa­mar­rando o País da sub­missão e co­lo­ni­zação a que está su­jeito.

Re­cen­trar todo o es­forço da po­lí­tica eco­nó­mica e fi­nan­ceira e do in­ves­ti­mento do País na pro­moção e de­sen­vol­vi­mento da pro­dução e ri­queza na­ci­o­nais com cri­ação de em­prego, a va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores e dos seus di­reitos e a ga­rantia de uma justa dis­tri­buição da ri­queza criada.

Al­te­ração ra­dical da po­lí­tica fiscal, rom­pendo com o es­can­da­loso fa­vo­re­ci­mento do grande ca­pital eco­nó­mico e fi­nan­ceiro.

Ad­mi­nis­tração e ser­viços pú­blicos ao ser­viço do país ca­pazes de ga­rantir o di­reito à saúde, à edu­cação, à pro­tecção so­cial dos por­tu­gueses.

A re­cu­pe­ração pelo Es­tado do co­mando de­mo­crá­tico da eco­nomia, pondo fim às pri­va­ti­za­ções e ga­ran­tindo a efec­tiva su­bor­di­nação do poder eco­nó­mico ao poder po­lí­tico.

As­se­gurar a li­ber­tação do país das im­po­si­ções su­pra­na­ci­o­nais de po­lí­tica eco­nó­mica, so­cial e fi­nan­ceira, con­trá­rias ao in­te­resse do de­sen­vol­vi­mento do País.

Seis di­rec­ções es­sen­ciais que po­de­ríamos sin­te­tizar em três grandes ideias:

Res­gatar o País da teia da sub­missão e de­pen­dência;

Re­cu­perar para o País o que é do País, os seus re­cursos, os seus sec­tores e em­presas es­tra­té­gicas, o seu di­reito ao cres­ci­mento eco­nó­mico e ao de­sen­vol­vi­mento;

De­volver aos tra­ba­lha­dores e ao povo os seus sa­lá­rios, ren­di­mentos e di­reitos so­ciais, in­dis­pen­sá­veis a uma vida digna.

Uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que não basta ser enun­ciada, pre­cisa de ga­nhar vida e ex­pressão com um go­verno que com ela es­teja com­pro­me­tido e que a exe­cute.

Uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que pre­cisa de um go­verno pa­trió­tico e de es­querda para a con­cre­tizar.

Uma po­lí­tica ao ser­viço do povo e do País que exige desde logo a der­rota de­fi­ni­tiva deste Go­verno e a sua de­missão.

Uma de­missão que se exige e impõe não para que da sua der­rota e de­missão re­sulte, à margem da de­cisão do povo, uma outra so­lução go­ver­na­tiva para con­ti­nuar a mesma po­lí­tica de di­reita, como al­guns já con­ge­minam, mas para abrir com a sua der­rota e de­missão es­paço a uma so­lução de mu­dança e de rup­tura com essa po­lí­tica.

Der­rota e de­missão que em toda e qual­quer cir­cuns­tância exige de­volver ao povo a de­cisão sobre o fu­turo do país com a re­a­li­zação de elei­ções an­te­ci­padas.

De­missão e elei­ções an­te­ci­padas que são, neste quadro, a saída le­gí­tima e ne­ces­sária para in­ter­romper o ca­minho de de­sastre do país que está em curso.

Uma so­lução que não pres­cinde, antes exige a con­ti­nu­ação e re­forço da luta. Dessa luta que é de­ci­siva não só para travar a pre­sente ofen­siva, como para a li­ber­tação do País desta de­sas­trosa po­lí­tica.

O País não está con­de­nado ao ciclo vi­cioso do ro­ta­ti­vismo da al­ter­nância sem al­ter­na­tiva e não se li­mita, nem es­gota no ac­tual quadro po­lí­tico e par­ti­dário e muito menos se con­fina aos par­tidos da troika, subs­cri­tores do pacto de agressão.

Por­tugal com fu­turo

Como o PCP, há cen­tenas de mi­lhares de pa­tri­otas e de­mo­cratas, cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores e de ou­tros por­tu­gueses, cen­tenas de or­ga­ni­za­ções so­ciais e de massas que sabem que é tempo de pôr termo a esta po­lí­tica, que é pos­sível um outro ca­minho, que olham com es­pe­rança essa pro­funda as­pi­ração de ver no país uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

É a todos esses por­tu­gueses – tra­ba­lha­dores e in­te­lec­tuais, em­pre­sá­rios e agri­cul­tores, jo­vens e mu­lheres, re­for­mados e qua­dros téc­nicos, ca­tó­licos e não ca­tó­licos, com ou sem con­vic­ções re­li­gi­osas, in­de­pen­dentes ou com fi­li­ação par­ti­dária; a todas essas or­ga­ni­za­ções de classe e de massas – or­ga­ni­za­ções sin­di­cais, as­so­ci­a­ções cul­tu­rais; mo­vi­mento as­so­ci­a­tivo, es­colas e uni­ver­si­dades, co­mu­ni­dades ci­en­ti­ficas e re­li­gi­osas, ins­ti­tui­ções so­ciais e or­ga­ni­za­ções sócio-pro­fis­si­o­nais; aos sec­tores e forças pro­gres­sistas e de es­querda sin­cera e ge­nui­na­mente in­te­res­sados em romper com o ciclo da al­ter­nância que per­petua a po­lí­tica de ruína na­ci­onal, que o PCP se di­rige a partir do seu XIX Con­gresso: - Está na mão do povo por­tu­guês, da sua von­tade de­mo­crá­tica, do seu brio pa­trió­tico, da sua iden­ti­fi­cação com os va­lores de Abril, da sua de­ter­mi­nação em cons­truir uma outra po­lí­tica. Uma po­lí­tica que dê uma opor­tu­ni­dade ao país de so­bre­viver como nação so­be­rana, de as­se­gurar uma vida digna aos tra­ba­lha­dores e ao povo num Por­tugal com fu­turo.

A todos di­zemos podem contar com o PCP, a sua co­ragem e de­ter­mi­nação, a sua co­e­rência e com­pro­misso com os in­te­resses na­ci­o­nais, a sua de­di­cação e en­trega na luta em de­fesa dos di­reitos e in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e de todas as ca­madas an­ti­mo­no­po­listas.

É a todos eles que o PCP se di­ri­girá no fu­turo ime­diato para, em torno de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, am­pliar no país a exi­gência de um outro rumo e cons­truir a base so­cial e po­lí­tica que lhe dê con­cre­ti­zação.

Nós, antes de saber de um go­verno com quem, di­zemos um go­verno para quê e para quem! No ac­tual quadro de ar­ru­mação e ex­pressão das forças po­lí­ticas, a al­ter­na­tiva po­lí­tica está em cons­trução.

Se há quem pense que a so­ci­e­dade é uma re­a­li­dade imu­tável, de­sen­gane-se. É uma re­a­li­dade em mo­vi­mento. Nin­guém, ne­nhum par­tido se pode julgar dono da von­tade mai­o­ri­tária dos por­tu­gueses. Nin­guém, ne­nhum par­tido tem con­se­guido im­pedir que muitos dos seus apoi­antes ou vo­tantes in­te­grem con­nosco a cor­rente de pro­testo e luta onde ali­cer­çará a cons­trução da al­ter­na­tiva!

A al­ter­na­tiva é pos­sível e sur­girá do re­forço do PCP com a am­pli­ação de­ci­siva da sua in­fluência po­lí­tica, so­cial e elei­toral; do vi­go­roso de­sen­vol­vi­mento da luta de massas que con­flua para a cri­ação de uma vasta frente so­cial; da al­te­ração da cor­re­lação de forças no plano po­lí­tico fa­vo­rável a uma rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e à cons­trução de uma de ver­da­deira al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda.

A luta de massas

No tempo que me­deia o XVIII e o XIX con­gressos há um ele­mento de aná­lise in­con­tor­nável: a luta de massas, o seu papel, o seu de­sen­vol­vi­mento, a sua am­pli­tude numa si­tu­ação de­ter­mi­nada por uma ofen­siva sem pre­ce­dentes no plano po­lí­tico, eco­nó­mico, so­cial e ide­o­ló­gico, com a di­reita im­pul­si­o­nada pela vi­tória elei­toral, com um PS com­pro­me­tido e der­ro­tado, e uma re­lação de forças pro­fun­da­mente des­fa­vo­rável aos tra­ba­lha­dores con­fron­tados com um de­sem­prego mas­sivo, uma pre­ca­ri­e­dade cres­cente e con­di­ções de vida di­fí­ceis e até dra­má­ticas.

E foi neste quadro que os úl­timos anos se ca­rac­te­ri­zaram por um ex­tra­or­di­nário de­sen­vol­vi­mento da luta dos tra­ba­lha­dores em cuja mo­bi­li­zação a CGTP-IN as­sumiu um papel cen­tral. Uma luta de massas que as­sumiu a maior ex­pressão de con­ver­gência nas úl­timas dé­cadas, tra­vada nas em­presas, nos lo­cais de tra­balho, na rua, a exigir de­ter­mi­nação e cons­ci­ência de classe e quantas vezes co­ragem, que pôs à prova a ca­pa­ci­dade de re­sis­tência e com­prova a nossa tese de que re­sistir é já vencer.

Luta que, con­fir­mando a força mo­tora da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores na luta de massas, animou, deu con­fi­ança, li­bertou novas ener­gias, trouxe à luta novos com­ba­tentes e es­ti­mulou sec­tores e ca­madas so­ciais até aí neu­tros ou neu­tra­li­zados.

Luta que se de­sen­volveu e alargou a partir dos pro­blemas con­cretos e de as­pi­ra­ções con­cretas, luta rei­vin­di­ca­tiva nas em­presas e sec­tores, luta di­na­mi­zada pela Frente Comum dos Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica que se ex­pressou em 12 de No­vembro de 2011 com mais de 100 mil ma­ni­fes­tantes, nas greves do sector dos trans­portes e co­mu­ni­ca­ções em 27 de Abril, na greve dos pro­fes­sores em 19 de Ja­neiro de 2011, nas lutas e na greve na­ci­onal dos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Local, dos en­fer­meiros em Junho de 2010, dos mé­dicos em 11 e 12 de Junho pas­sado, nas ac­ções do sector têxtil, ves­tuário e cal­çado, dos tra­ba­lha­dores das IPSS e das CERCI, nas ac­ções re­a­li­zadas pelos tra­ba­lha­dores da cul­tura, nas di­versas ma­ni­fes­ta­ções pro­mo­vidas pelas as­so­ci­a­ções pro­fis­si­o­nais dos mi­li­tares. As ma­ni­fes­ta­ções na­ci­o­nais de 13 de Março de 2009, 29 de Maio de 2012, as gran­di­osas ma­ni­fes­ta­ções de 11 de Fe­ve­reiro e 29 de Se­tembro de 2012, a Marcha contra o de­sem­prego re­a­li­zada em Ou­tubro de 2012.

Como marcos na his­tória da luta do mo­vi­mento ope­rário e sin­dical neste pe­ríodo re­a­li­zaram-se as greves ge­rais de 24 de No­vembro de 2010, 24 de No­vembro de 2011, 22 de Março de 2012 e a greve geral de 14 deste mês de No­vembro, contra ventos e marés, contra as forças anti-greve, er­guida e ali­cer­çada pela luta de con­tes­tação e re­sis­tência, a ten­ta­tiva de apro­vei­ta­mento pa­tronal das al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho. Greve de 14 de No­vembro que marca uma nova fase e dá con­fi­ança a uma luta que exige te­na­ci­dade, in­ten­si­fi­cação e am­pli­ação, onde todas as ba­ta­lhas vão contar, seja a luta mais mo­desta nesta ou na­quela em­presa seja na grande acção. Luta que, indo tão longe quanto for a von­tade dos tra­ba­lha­dores e a ca­pa­ci­dade de or­ga­ni­zação e di­recção do mo­vi­mento sin­dical uni­tário, se in­sere em si mesma como ele­mento cru­cial da der­rota dos ob­jec­tivos e da po­lí­tica de di­reita.

E esta luta or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores, tendo um valor in­trín­seco, foi força de exemplo, para os pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores e em­pre­sá­rios, os pes­ca­dores, os in­qui­linos, para as mu­lheres em de­fesa dos seus di­reitos e par­ti­ci­pação em con­di­ções de igual­dade, para a ju­ven­tude contra o de­sem­prego, a pre­ca­ri­e­dade e a ex­plo­ração, a des­truição da es­cola pú­blica, contra as pro­pinas, a eli­ti­zação e o aban­dono for­çado de en­sino na luta dos re­for­mados e pen­si­o­nistas, em de­fesa da Se­gu­rança So­cial, por re­formas e pen­sões dignas, das pes­soas com de­fi­ci­ência contra a dis­cri­mi­nação, na acção dos emi­grantes pelo apoio con­sular e o en­sino do por­tu­guês, dos bom­beiros em de­fesa do ser­viço que prestam à co­mu­ni­dade, em de­fesa da água pú­blica, na luta pela Paz, contra as agres­sões do im­pe­ri­a­lismo, pela afir­mação dos va­lores de Abril.

Também a luta das po­pu­la­ções atingiu uma nova am­pli­tude em torno da de­fesa do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, da Es­cola Pú­blica, contra o en­cer­ra­mento dos ser­viços pú­blicos, contra o au­mento dos preços e a abo­lição de por­ta­gens nas SCUT, contra a li­qui­dação das fre­gue­sias e em de­fesa do Poder Local.

De­fender os tra­ba­lha­dores

Que­remos da tri­buna do Con­gresso saudar a luta e as or­ga­ni­zação so­ciais de massas com des­taque para a CGTP-IN, pres­ti­giada cen­tral sin­dical dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, po­de­rosa força dos tra­ba­lha­dores, ba­lu­arte de li­ber­dade, de­mo­cracia e do pro­gresso so­cial, obra cri­a­dora dos tra­ba­lha­dores e pro­jecto uni­tário de grande ac­tu­a­li­dade.

A afir­mação das ca­rac­te­rís­ticas e na­tu­reza da CGTP-IN e do mo­vi­mento sin­dical de classe é cru­cial para o in­te­resse e di­reitos dos tra­ba­lha­dores. A con­fi­ança que os tra­ba­lha­dores neles de­po­sitam é a prova desta tese. Opção e ca­minho que con­ti­nuará a contar com a par­ti­ci­pação e em­pe­nha­mento dos co­mu­nistas em uni­dade na acção com ou­tros sin­di­ca­listas sem fi­li­ação par­ti­dária ou de ou­tras sen­si­bi­li­dades po­lí­ticas e ide­o­ló­gicas ou re­li­gi­osas, pre­ser­vando o pro­jecto sin­dical ori­gi­nário, a ex­pe­ri­ência, a cul­tura do mo­vi­mento sin­dical de classe por­tu­guês.

O com­bate à ex­plo­ração e ao em­po­bre­ci­mento, a re­jeição das al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho, a va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios e da con­tra­tação co­lec­tiva, o com­bate ao de­sem­prego e à pre­ca­ri­e­dade, a afir­mação de li­ber­dade de acção e or­ga­ni­zação sin­dical são as­pectos cen­trais a de­sen­volver.

A questão da pre­ca­ri­e­dade dos vín­culos de cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores me­recem um su­bli­nhado. Há quem pro­cure or­ga­nizar os tra­ba­lha­dores pre­cá­rios à re­velia do mo­vi­mento sin­dical. Dis­cor­damos. A pre­ca­ri­e­dade não é es­ta­tuto ou ates­tado. Es­tamos a falar de tra­ba­lha­dores como os ou­tros mais fra­gi­li­zados no vín­culo e nos di­reitos e que devem me­recer do mo­vi­mento sin­dical a sua in­te­gração, fi­li­ação e luta rei­vin­di­ca­tiva por um vín­culo efec­tivo em cada posto de tra­balho per­ma­nente.

Outra ex­pressão or­ga­ni­zada do mo­vi­mento ope­rário são as Co­mis­sões de Tra­ba­lha­dores. O des­man­te­la­mento e des­truição do apa­relho pro­du­tivo re­duziu o seu uni­verso mas con­tinua a ser um ins­tru­mento de­mo­crá­tico nas mãos dos tra­ba­lha­dores vi­sando a sua uni­dade onde a co­o­pe­ração com o mo­vi­mento sin­dical deve ser um ele­mento im­por­tante.

O mo­vi­mento ope­rário é uma força bá­sica e es­sen­cial da de­mo­cracia por­tu­guesa. O seu re­forço e in­ter­venção na vida na­ci­onal é a mais só­lida ga­rantia para que Por­tugal re­tome o ca­minho do pro­gresso, da jus­tiça so­cial, da li­ber­dade e da de­mo­cracia, tendo como re­fe­rência os va­lores de Abril.

Ao lado do mo­vi­mento ope­rário ou­tros grandes mo­vi­mento so­ciais de massas in­te­gram a vasta frente an­ti­mo­no­po­lista e re­pre­sentam cada um por si e glo­bal­mente uma força com pro­funda in­fluência e com po­ten­ci­a­li­dades de de­sen­vol­vi­mento.

O mo­vi­mento dos pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores que têm na CNA uma ex­pressão e uma re­pre­sen­ta­ti­vi­dade in­con­tes­tá­veis, as uniões, ligas, mo­vi­mentos, fe­de­ra­ções, uniões e as­so­ci­a­ções cons­ti­tuem es­tru­turas au­tó­nomas e uni­tá­rias com par­ti­ci­pação ac­tiva de agri­cul­tores de todos os par­tidos po­lí­ticos, abrem ca­minho a uma nova ex­pansão e con­cre­ti­zação na luta. O nosso Par­tido é por­tador de pro­postas na de­fesa da agri­cul­tura e dos pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores.

Os in­te­lec­tuais e qua­dros téc­nicos cons­ti­tuem hoje uma ca­mada com grande in­fluência na vida so­cial.

O peso cres­cente no con­junto dos as­sa­la­ri­ados e de pro­le­ta­ri­zação de di­versas ca­madas são in­se­pa­rá­veis do au­mento da ex­plo­ração e de­gra­dação, e des­va­lo­ri­zação das car­reiras e das pro­fis­sões. A re­a­li­dade trouxe à luta novos sec­tores – do­centes, in­ves­ti­ga­dores, jor­na­listas, psi­có­logos ar­queó­logos, ar­qui­tectos, tra­ba­lha­dores dos es­pec­tá­culos, bol­seiros de in­ves­ti­gação ci­en­tí­fica entre ou­tros – in­te­grando as ac­ções pro­mo­vidas pelo mo­vi­mento sin­dical uni­tário ou por via da sua pró­pria or­ga­ni­zação.

Os in­te­lec­tuais, para além da luta pelos seus in­te­resses e di­reitos, de­sen­vol­veram im­por­tantes ac­ções na de­fesa da cul­tura como parte in­te­grante da de­fesa da de­mo­cracia. Como, por exemplo, a cam­panha de 1% para a Cul­tura!

Im­por­tante força so­cial

A ju­ven­tude com as suas ca­rac­te­rís­ticas, força e energia pró­prias afirmou-se como im­por­tante força so­cial. Não sendo ho­mo­génea per­filha va­lores de so­li­da­ri­e­dade, par­tilha e par­ti­ci­pação que a trans­forma numa força in­dis­pen­sável para o pro­gresso so­cial e pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita. No Se­cun­dário, no Su­pe­rior, no En­sino Pro­fis­si­onal, mas também nas em­presas e lo­cais de tra­balho, o mo­vi­mento ju­venil levou por di­ante ac­ções de pro­testo e luta que as­su­mindo formas de or­ga­ni­zação, ex­pressão e acção di­ver­si­fi­cadas tem grandes po­ten­ci­a­li­dades de de­sen­vol­vi­mento.

A JCP, or­ga­ni­zação au­tó­noma dos jo­vens co­mu­nistas, no quadro de uma pro­funda ofen­siva ide­o­ló­gica que tem na ju­ven­tude um dos alvos pre­fe­ren­ciais, re­forçou o mo­vi­mento e a or­ga­ni­zação ju­venil, alargou o es­cla­re­ci­mento e a mo­bi­li­zação dos jo­vens.

No quadro da ori­en­tação geral, o PCP re­a­firmou o seu papel in­subs­ti­tuível na li­gação do Par­tido à ju­ven­tude com uma acção quo­ti­diana pri­o­ri­ta­ri­a­mente vi­rada para os es­tu­dantes, a sua par­ti­ci­pação e or­ga­ni­zação, a partir das es­colas e uni­ver­si­dades, deu passos adi­ante na in­ter­venção junto dos jo­vens tra­ba­lha­dores. Quanto mais a JCP lutar pelos di­reitos da ju­ven­tude mais força e in­fluência terá a JCP.

O mo­vi­mento das mu­lheres – com ex­pressão or­ga­ni­zada no tra­balho, no mo­vi­mento sin­dical e uni­tário pelos seus di­reitos e a sua eman­ci­pação através do MDM – cons­titui um mo­vi­mento so­cial de grande valor na luta pela de­fesa dos avanços ci­vi­li­za­ci­o­nais e dos di­reitos es­pe­cí­ficos das mu­lheres.

O mo­vi­mento uni­tário dos re­for­mados, pen­si­o­nistas e idosos de­sen­volveu um papel de grande valor na or­ga­ni­zação e na luta es­pe­cí­fica deste grupo so­cial que sendo he­te­ro­géneo do ponto de vista etário e so­cial, tem em comum o agra­va­mento das suas con­di­ções de vida e dos seus di­reitos. Acção, or­ga­ni­zação e luta que ti­veram na Con­fe­de­ração do MURPI e da Inter-Re­for­mados, a partir dos seus campos es­pe­cí­ficos os seus prin­ci­pais obreiros, devem me­recer dos mi­li­tantes do Par­tido o apoio a par­ti­ci­pação ac­tiva.

Ex­pressão da força dos mo­vi­mentos re­flecte-se também no mo­vi­mento dos micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, dos utentes dos ser­viços pú­blicos, das pes­soas com de­fi­ci­ência, do mo­vi­mento sócio-pro­fis­si­onal e sin­dical das forças e ser­viços de se­gu­rança, do mo­vi­mento as­so­ci­a­tivo mi­litar, do mo­vi­mento as­so­ci­a­tivo e po­pular, dos bom­beiros, dos emi­grantes, da frente anti-ra­cista, do mo­vi­mento da paz, dos re­sis­tentes an­ti­fas­cistas.

Ga­nhar cons­ci­ência

Re­cen­te­mente têm sur­gido mo­vi­mentos apre­sen­tados como «inor­gâ­nicos», com ex­pressão e pro­pó­sitos di­fe­ren­ci­ados. Mo­vi­mentos que, de forma geral, in­cor­poram sec­tores sin­ce­ra­mente mo­vidos por sen­ti­mentos de in­dig­nação face ao que esta po­lí­tica está a fazer às suas vidas.

Sem dú­vida que a co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante pro­cura des­viar e di­luir essa in­dig­nação contra o Go­verno e os par­tidos da po­lí­tica de di­reita me­tendo tudo no mesmo saco e es­sen­ci­al­mente es­conder os ver­da­deiros be­ne­fi­ciá­rios desta po­lí­tica, o ca­pital fi­nan­ceiro e os grupos eco­nó­micos. Mas o que é re­le­vante é o facto de muitos par­ti­ci­pantes es­tarem a ga­nhar uma nova cons­ci­ência de quem são os ver­da­deiros res­pon­sá­veis.

No res­peito pela sua au­to­nomia de­vemos tra­ba­lhar para que con­virjam ou con­fluam na luta mais geral do povo por­tu­guês.

O PCP com uma as­su­mida acção de luta, de pro­posta e de pro­jecto, dando um valor es­tra­té­gico à luta de massas, es­ti­mu­lando o seu de­sen­vol­vi­mento e in­ten­si­fi­cação, pro­curou ar­ti­cular a luta de massas com a luta ins­ti­tu­ci­onal.

Na As­sem­bleia da Re­pú­blica, no Par­la­mento Eu­ropeu, nas As­sem­bleias Le­gis­la­tivas Re­gi­o­nais dos Açores e da Ma­deira, nas au­tar­quias lo­cais, no quadro de va­lores e ati­tude mar­cados por um ele­vado sen­tido ético e de en­trega à luta, os nossos eleitos, em ar­ti­cu­lação com as or­ga­ni­za­ções do Par­tido li­gadas à vida, aos pro­blemas e an­seios dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, de­mons­tram também que os par­tidos não são todos iguais, que usam o man­dato para servir o povo e o país e não para se servir a si pró­prios.

O seu tra­balho, as suas pro­postas, as suas ini­ci­a­tivas são e serão a ga­rantia mais só­lida e se­gura que cada voto no PCP, na CDU, é um voto, uma opção que vale a pena, e também uma opção para que a luta tenha mais força, para que se torne mais pró­xima e pos­sível a po­lí­tica al­ter­na­tiva e a al­ter­na­tiva po­lí­tica que o povo e o país pre­cisam.

Que­remos desta tri­buna saudar os nossos amigos do Par­tido Eco­lo­gista «Os Verdes», da In­ter­venção De­mo­crá­tica, os mi­lhares de ho­mens, mu­lheres e jo­vens in­de­pen­dentes que en­con­tram no es­paço da CDU, o lugar e o papel para in­tervir na luta por uma vida me­lhor.

É nossa con­vicção de que nas pró­ximas ba­ta­lhas elei­to­rais ha­vemos de estar juntos como juntos es­tamos nesta luta contra a po­lí­tica de di­reita e pela al­ter­na­tiva po­lí­tica ne­ces­sária.

Cons­truir o co­mu­nismo e o co­mu­nismo

O nosso Par­tido afirmou-se e afirma-se na so­ci­e­dade por­tu­guesa com as ca­rac­te­rís­ticas da sua iden­ti­dade in­con­fun­dível. Somos o Par­tido da classe ope­rária e de todos os tra­ba­lha­dores, que de­fende os in­te­resses das classes e ca­madas an­ti­mo­no­po­listas, in­de­pen­dente da in­fluência, dos in­te­resses, da ide­o­logia e da po­lí­tica das forças do ca­pital. Somos o Par­tido que tem como ob­jec­tivos su­premos a cons­trução do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo, de uma so­ci­e­dade li­berta da ex­plo­ração e da opressão ca­pi­ta­listas. Somos o Par­tido que tem como base teó­rica o mar­xismo-le­ni­nismo. Somos o Par­tido que tem prin­cí­pios de fun­ci­o­na­mento de­cor­rentes do de­sen­vol­vi­mento cri­a­tivo do cen­tra­lismo de­mo­crá­tico, as­sentes numa pro­funda de­mo­cracia in­terna, numa única ori­en­tação geral e numa única di­recção cen­tral. Somos um Par­tido pa­trió­tico e in­ter­na­ci­o­na­lista.

Estas são ca­rac­te­rís­ticas que de­finem a iden­ti­dade e di­fe­ren­ciam o nosso Par­tido na so­ci­e­dade por­tu­guesa, que de­finem o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, que ori­entam a sua prá­tica e estão ins­critas nos Es­ta­tutos e no Pro­grama do Par­tido. Pro­grama e Es­ta­tutos do­cu­mentos fun­da­men­tais cuja acei­tação é con­dição para se ser membro do Par­tido.

O nosso XIX Con­gresso tem como ta­refa pro­ceder a al­te­ra­ções ao Pro­grama do Par­tido. Pro­ce­dendo a essas al­te­ra­ções su­bli­nhamos e re­a­fir­mamos a ac­tu­a­li­dade, ob­jec­tivos e pro­postas fun­da­men­tais do con­teúdo do Pro­grama.

O Pro­grama do Par­tido ins­creve os ob­jec­tivos su­premos do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo e a es­tra­tégia para os al­cançar de­fi­nindo a etapa his­tó­rica ac­tual, uma de­mo­cracia avan­çada – os va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal. Tal como ao longo da sua his­tória, par­ti­cu­lar­mente desde o VI Con­gresso em 1965, o Par­tido na sua es­tra­tégia não queima etapas, cons­ci­ente das exi­gên­cias da luta pelos seus ob­jec­tivos su­premos, não se li­mita a fazer a sua pro­cla­mação, de­sen­volve a es­tra­tégia in­dis­pen­sável para que se con­cre­tize o pro­jecto de uma so­ci­e­dade nova, li­berta da ex­plo­ração e da opressão do ca­pi­ta­lismo.

O Pro­grama me­receu al­te­ra­ções que ac­tu­a­lizam o seu con­teúdo e lhe dão mais im­pacto e efi­cácia. Faz a ac­tu­a­li­zação das con­sequên­cias do pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário e do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu, sin­te­tiza o ponto em que es­tamos após 36 anos de po­lí­tica de di­reita, uma ava­li­ação im­por­tante da qual de­corre a es­tra­tégia e a tác­tica do Par­tido.

Diz: «Por­tugal vive um pe­ríodo par­ti­cu­lar­mente grave da sua his­tória. O pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário – em de­sen­vol­vi­mento – e o pro­cesso de in­te­gração na União Eu­ro­peia, in­ter­li­gados, con­du­ziram a uma si­tu­ação mar­cada pelo do­mínio dos grupos mo­no­po­listas, as­so­ci­ados e de­pen­dentes do ca­pital es­tran­geiro, pela acen­tu­ação do pro­cesso de per­versão do re­gime de­mo­crá­tico e por um ele­vado grau de com­pro­me­ti­mento da so­be­rania na­ci­onal. Uma si­tu­ação que apre­senta ca­rac­te­rís­ticas tí­picas do ca­pi­ta­lismo mo­no­po­lista de Es­tado, num quadro em que o Es­tado por­tu­guês é cada vez mais su­bal­ter­ni­zado, do­mi­nado e co­lo­ni­zado no âm­bito da UE e, em geral, pelo im­pe­ri­a­lismo e as suas es­tru­turas.»

De­mo­cracia Avan­çada

A di­mensão e pro­fun­di­dade da ofen­siva são muito grandes, os ob­jec­tivos da contra-re­vo­lução foram muito longe, mas não foram atin­gidos na sua ple­ni­tude de­sig­na­da­mente no plano po­lí­tico. O que quer dizer que, apesar da acen­tu­ação da per­versão do re­gime de­mo­crá­tico, este não está li­qui­dado. Que a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, apesar de todas as mu­ti­la­ções, con­tinua a com­portar um con­teúdo que dá es­paço à nossa luta de re­sis­tência, que dá es­paço à acção para a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e que con­sagra um pro­jecto que cor­res­ponde nos seus traços es­sen­ciais aos ob­jec­tivos da nossa luta. O que quer dizer também que na nossa es­tra­tégia e tác­tica não nos as­so­ci­amos, nem fa­ci­li­tamos o ob­jec­tivo da­queles que querem fazer da Cons­ti­tuição um texto sem valor ou que a querem rasgar de­fi­ni­ti­va­mente.

Aler­tamos para a si­tu­ação ac­tual: «Os planos da classe do­mi­nante para pros­se­guir e apro­fundar os pro­cessos em curso e para con­cre­tizar a rup­tura ins­ti­tu­ci­onal, com a apro­vação de leis in­cons­ti­tu­ci­o­nais, a des­va­lo­ri­zação e des­res­peito sis­te­má­ticos e a re­visão sub­ver­siva da Cons­ti­tuição, vi­sando a plena ins­tau­ração, con­so­li­dação e re­forço do seu poder, criam grandes pe­rigos para o fu­turo de Por­tugal.»

E, pe­rante esta si­tu­ação e este rumo, pro­pomos uma al­ter­na­tiva, a con­cre­ti­zação de uma De­mo­cracia Avan­çada, si­mul­ta­ne­a­mente po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial e cul­tural, com cinco com­po­nentes cor­res­pon­dentes a cada uma das di­men­sões da de­mo­cracia e à so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais.

A De­mo­cracia Avan­çada surge na con­ti­nui­dade his­tó­rica do Pro­grama da Re­vo­lução De­mo­crá­tica e Na­ci­onal e dos ideais, con­quistas e re­a­li­za­ções de valor igual­mente his­tó­rico da Re­vo­lução de Abril e, como ob­jec­tivo da etapa his­tó­rica ac­tual, é parte in­te­grante e cons­ti­tu­tiva da luta pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

Nas al­te­ra­ções ao Pro­grama afirma-se, pre­cisa-se e de­sen­volve-se a de­fi­nição do ca­minho para al­cançar a De­mo­cracia Avan­çada, não apenas um mo­mento, acto, ou acon­te­ci­mento, mas sim um pro­cesso em que se con­si­dera as mais di­versas com­po­nentes e que tem na in­ten­si­fi­cação e con­ver­gência da luta de massas, com todos os de­sen­vol­vi­mentos e ex­pres­sões que ela possa as­sumir, o factor de­ter­mi­nante e de­ci­sivo. Sim, é com a luta de massas, essa pro­di­giosa ala­vanca que trans­forma a so­ci­e­dade, que con­tamos para con­cre­tizar a rup­tura anti-mo­no­po­lista e anti-im­pe­ri­a­lista ne­ces­sária à cons­trução da de­mo­cracia avan­çada. Sim, in­te­gramos neste pro­cesso, um con­junto ar­ti­cu­lado de ob­jec­tivos desde os con­cretos e ime­di­atos e a re­jeição do pacto de agressão, à rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e à con­cre­ti­zação de uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda com a po­lí­tica e o go­verno que a de­finam e apli­quem.

O nosso Pro­grama, se­gundo a pro­posta feita ao Con­gresso, subs­ti­tuindo a ex­pressão no li­miar do sé­culo XXI, passa a chamar-se uma De­mo­cracia Avan­çada – os va­lores de Abril no fu­turo de Por­tugal. Trata-se de in­te­grar na de­sig­nação um ele­mento que está pre­sente em todo o texto mas que lhe dá nova vi­ta­li­dade e força.

Os va­lores de Abril con­tri­buem para marcar o pro­cesso para a de­mo­cracia avan­çada e para con­fi­gurar o seu con­teúdo. Os va­lores de Abril não só não se opõem como apontam o ca­minho do so­ci­a­lismo. No nosso País a de­mo­cracia avan­çada e o so­ci­a­lismo serão con­cre­ti­zados, não contra, ou à margem, mas sim no ca­minho dos va­lores de Abril da sua pro­jecção, con­so­li­dação e de­sen­vol­vi­mento no fu­turo de Por­tugal.

Pro­grama ac­tu­a­li­zado

A dis­cussão no co­lec­tivo par­ti­dário das al­te­ra­ções ao Pro­grama do Par­tido, per­mi­tiram um maior co­nhe­ci­mento do seu con­teúdo por parte de muitos mi­li­tantes, con­tri­buíram para a ele­vação da for­mação po­lí­tica e ide­o­ló­gica e me­re­ceram um amplo apoio. O Par­tido fi­cará do­tado de um Pro­grama ac­tu­a­li­zado, do­cu­mento fun­da­mental de de­fi­nição do Par­tido que cons­titui um ins­tru­mento de grande im­por­tância para dar a co­nhecer aos tra­ba­lha­dores, aos jo­vens, ao povo por­tu­guês, o que é o PCP e quais os ob­jec­tivos pelos quais luta, para que o tomem também como o seu.

O nosso Par­tido foi mais uma vez posto à prova nos úl­timos anos. Numa si­tu­ação sem pa­ra­lelo desde o fas­cismo, o PCP, cum­priu o seu dever para com os tra­ba­lha­dores, o povo e o País, honrou a sua his­tória he­róica. Tempos di­fí­ceis, exi­gentes, tem­pes­tu­osos, estes a que o co­lec­tivo par­ti­dário res­pondeu. Tanta exi­gência ao tra­balho de di­recção. Tanta de­di­cação, mi­li­tância, de­ter­mi­nação e co­ragem de mi­lhares e mi­lhares de mi­li­tantes co­mu­nistas. In­su­fi­ci­ên­cias, cer­ta­mente. Ne­ces­si­dade de aper­fei­ço­a­mentos, como sempre. Mas, acima de tudo, a cons­ci­ência do dever cum­prido, a sa­tis­fação de per­tencer a este Par­tido, o Par­tido ne­ces­sário, in­dis­pen­sável e in­subs­ti­tuível. Assim foi, assim é, assim será.

Um Par­tido co­mu­nista, an­co­rado na sua ide­o­logia, pa­trió­tico, li­gado ao seu povo e à sua terra. Mas também um Par­tido que nunca es­queceu, nem es­que­cerá os seus de­veres in­ter­na­ci­o­na­listas. Deste nosso Con­gresso afir­mamos às de­zenas de Par­tidos Co­mu­nistas e pro­gres­sistas aqui re­pre­sen­tados a so­li­da­ri­e­dade de sempre do PCP. So­li­da­ri­e­dade para com as suas lutas, que sen­timos como nossas. So­li­da­ri­e­dade com a sua acção em de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povos, do pro­gresso, da paz e do so­ci­a­lismo. A eles con­fir­mamos a nossa von­tade de, fieis aos prin­cí­pios do in­ter­na­ci­o­na­lismo pro­le­tário, da so­li­da­ri­e­dade e res­peito mú­tuos, es­treitar os laços de ami­zade e co­o­pe­ração que nos unem, e de tudo fa­zermos para re­forçar o mo­vi­mento co­mu­nista e a frente anti-im­pe­ri­a­lista.

O úl­timo Ba­lanço da Or­ga­ni­zação re­gista 60 484 mem­bros do Par­tido e, nos úl­timos quatro anos, ade­riram ao Par­tido mais de 5800 novos mi­li­tantes, me­tade dos quais com menos de 40 anos. Con­so­lidou-se a es­tru­tu­ração da or­ga­ni­zação e, nas em­presas e lo­cais de tra­balho, apesar da grande onda de des­truição da ac­ti­vi­dade eco­nó­mica, man­teve-se o nível an­te­rior, com uma li­geira re­dução. Re­a­li­zaram-se mais de 500 as­sem­bleias das or­ga­ni­za­ções do Par­tido. O tra­balho de­sen­vol­vido no âm­bito da acção «Avante! Por um PCP mais forte» deu re­sul­tados, mas pre­ci­samos e ir mais longe.

O re­forço da or­ga­ni­zação do Par­tido, em todas as suas com­po­nentes, tem que ser visto como uma ta­refa per­ma­nente e pri­o­ri­tária.

A si­tu­ação exige a con­cre­ti­zação de um grande mo­vi­mento de re­forço da acção e da or­ga­ni­zação par­ti­dária, no plano da mi­li­tância, de di­recção, de qua­dros, de or­ga­ni­zação, de acção po­lí­tica e li­gação às massas, de luta ide­o­ló­gica, de im­prensa par­ti­dária, in­for­mação e pro­pa­ganda, de meios fi­nan­ceiros e de ac­ti­vi­dade in­ter­na­ci­onal.

Des­ta­camos a ne­ces­si­dade de va­lo­rizar a mi­li­tância, a prin­cipal fonte da ca­pa­ci­dade de in­ter­venção, que será tanto maior quanto mais mi­li­tantes es­ti­verem cons­ci­entes de que a força do Par­tido é de­ter­mi­nada pela acção dos seus mem­bros, as­su­mindo a mi­li­tância como im­pe­ra­tivo po­lí­tico, cí­vico e so­cial, as­sente nas con­vic­ções, no pro­jecto e na causa pela qual lu­tamos.

Sa­li­en­tamos a ne­ces­si­dade de alargar a ca­pa­ci­dade de di­recção, de vencer es­tran­gu­la­mentos e de pros­se­guir aos vá­rios ní­veis na res­pon­sa­bi­li­zação, re­no­vação e re­ju­ve­nes­ci­mento ne­ces­sá­rios à con­ti­nui­dade do tra­balho de di­recção. É in­dis­pen­sável pros­se­guir a afir­mação da uni­dade, co­esão e dis­ci­plina, pre­ve­nindo e com­ba­tendo prá­ticas que des­mo­bi­lizam e en­fra­quecem. É ne­ces­sário me­lhorar o con­trolo de exe­cução, apre­ci­ando ob­jec­tiva e cri­ti­ca­mente o tra­balho re­a­li­zado, re­ti­rando as de­vidas ila­ções e com­ba­tendo o cri­ti­cismo. O es­tí­mulo à par­ti­ci­pação como di­reito e como dever, a crí­tica e a au­to­crí­tica, a res­pon­sa­bi­li­dade in­di­vi­dual, o tra­balho co­lec­tivo e a di­recção co­lec­tiva cons­ti­tuem ele­mentos in­te­grantes do es­tilo de tra­balho pró­prio do Par­tido que im­porta sa­li­entar, re­forçar e va­lo­rizar.

Quanto ao Co­mité Cen­tral, re­flec­tindo a iden­ti­dade, na­tu­reza e prin­cí­pios do Par­tido, propõe-se que man­tenha uma larga mai­oria de ope­rá­rios e em­pre­gados, com uma forte com­po­nente ope­rária e que, no quadro da re­no­vação e do re­ju­ve­nes­ci­mento, as­se­gure a com­bi­nação ade­quada de qua­dros ex­pe­ri­men­tados com a res­pon­sa­bi­li­zação de qua­dros jo­vens.

Ao Co­mité Cen­tral e aos seus or­ga­nismos exe­cu­tivos estão co­lo­cadas as exi­gên­cias de uma só­lida di­recção co­lec­tiva, que cor­res­ponda às ne­ces­si­dades do Par­tido, ao for­ta­le­ci­mento da sua uni­dade e co­esão e à sua ca­pa­ci­dade de dar res­posta aos com­plexos pro­blemas co­lo­cados pela luta so­cial, po­lí­tica e ide­o­ló­gica. Idên­ticas exi­gên­cias se co­locam à Co­missão Cen­tral de Con­trolo.

Po­lí­tica de qua­dros

O re­forço do Par­tido exige o de­sen­vol­vi­mento de uma po­lí­tica de qua­dros que en­volve a res­pon­sa­bi­li­zação e as­sumpção de res­pon­sa­bi­li­dades e ta­refas re­gu­lares, por muito mais qua­dros do Par­tido, a par da re­no­vação e re­ju­ve­nes­ci­mento do quadro de fun­ci­o­ná­rios do Par­tido.

A or­ga­ni­zação e a es­tru­tu­ração do Par­tido são as­pectos cen­trais. É ne­ces­sário dar uma ainda maior atenção à pri­o­ri­dade da or­ga­ni­zação e in­ter­venção do Par­tido junto da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores, nas em­presas e lo­cais de tra­balho e a sua efec­tiva con­cre­ti­zação de­sig­na­da­mente: con­fir­mando e des­ta­cando qua­dros, in­cluindo fun­ci­o­ná­rios do Par­tido para se de­di­carem a este tra­balho; con­so­li­dando a or­ga­ni­zação exis­tente e cri­ando novas cé­lulas ou sec­tores, es­ta­be­le­cendo metas em cada or­ga­ni­zação para o au­mento do seu nú­mero.

É ne­ces­sário apro­fundar a es­tru­tu­ração das or­ga­ni­za­ções lo­cais, pro­mo­vendo o fun­ci­o­na­mento, a di­na­mi­zação e a in­ter­venção das or­ga­ni­za­ções de base num es­tilo de pro­funda li­gação às massas. É igual­mente ne­ces­sário dar atenção à es­tru­tu­ração do tra­balho junto de ou­tras ca­madas, sec­tores so­ciais e áreas de in­ter­venção es­pe­cí­ficas.

Par­ti­cular atenção deve ser dada ao re­cru­ta­mento de novos mi­li­tantes, as­so­ci­ando o re­cru­ta­mento à efec­tiva in­te­gração par­ti­dária. A adesão ao Par­tido cons­titui uma ne­ces­si­dade para o re­forço do Par­tido e está co­lo­cada hoje a mi­lhares e mi­lhares de pes­soas como a opção ne­ces­sária e in­dis­pen­sável para com co­e­rência e efi­cácia darem res­posta à grave si­tu­ação do País e à con­cre­ti­zação das suas as­pi­ra­ções. Daqui lhes di­zemos, não he­sitem, juntem-se aos mais de 1100 novos mem­bros que ade­riram ao Par­tido este ano, juntem-se a nós nesta luta ne­ces­sária e exal­tante.

Na or­ga­ni­zação par­ti­dária deve ser ge­ne­ra­li­zado um es­tilo de tra­balho as­sente nos prin­cí­pios e ob­jec­tivos do Par­tido e numa ampla e cada vez mais pro­funda li­gação aos tra­ba­lha­dores e às po­pu­la­ções.

In­ten­si­ficar a luta

A si­tu­ação que vi­vemos torna ainda mais ne­ces­sário in­ten­si­ficar a luta ide­o­ló­gica e criar me­lhores con­di­ções para os tra­ba­lha­dores e o povo po­derem co­nhecer e com­pre­ender as po­si­ções, aná­lises, pro­postas e pro­jecto do PCP. Neste âm­bito tem par­ti­cular im­por­tância o papel e in­ter­venção das or­ga­ni­za­ções e dos mi­li­tantes e os meios pró­prios do Par­tido em que se des­taca a im­prensa par­ti­dária, o «Avante!» e «O Mi­li­tante», a acção geral de in­for­mação e pro­pa­ganda, o sítio do PCP na In­ternet e a mais pro­funda uti­li­zação dos meios elec­tró­nicos, o tra­balho com os meios de co­mu­ni­cação so­cial, mas também a vasta acção po­lí­tico-cul­tural de que é ex­pressão sig­ni­fi­ca­tiva a Festa do Avante e ainda a ac­ti­vi­dade edi­to­rial.

O re­forço do Par­tido de­pende de muitas ver­tentes, uma das mais im­por­tantes são as ques­tões fi­nan­ceiras a que temos que dar uma grande atenção. A lei do fi­nan­ci­a­mento dos par­tidos po­lí­ticos e das cam­pa­nhas elei­to­rais, a im­po­sição de re­gu­la­mentos e in­ter­pre­ta­ções abu­sivas e as cres­centes ati­tudes dis­cri­ci­o­ná­rias, in­cluindo a apli­cação de coimas inad­mis­sí­veis visam um claro ataque à Festa do Avante e ao Par­tido. Re­pu­di­amos essas con­cep­ções e prá­ticas an­ti­de­mo­crá­ticas e exi­gimos a re­vo­gação dessa lei.

O fi­nan­ci­a­mento do Par­tido é in­dis­so­ciável da ga­rantia da in­de­pen­dência po­lí­tica, or­gâ­nica e ide­o­ló­gica. Quando o re­sul­tado fi­nan­ceiro dos úl­timos anos, tra­du­zindo uma me­lhoria ainda muito in­su­fi­ci­ente, não al­tera no es­sen­cial uma si­tu­ação que se mantém in­sus­ten­tável, pre­ci­samos de au­mentar o peso das re­ceitas pró­prias e ga­rantir o equi­lí­brio in­dis­pen­sável.

Temos cons­ci­ência das exi­gên­cias que se nos apre­sentam. Nesta si­tu­ação com­plexa, como acon­teceu em pe­ríodos ainda mais di­fí­ceis, con­ti­nu­amos a contar com a con­tri­buição fi­nan­ceira de­ci­siva dos mi­li­tantes e sim­pa­ti­zantes, dos tra­ba­lha­dores, dos de­mo­cratas. Uma con­tri­buição que é pre­ciso alargar, no quadro do in­dis­pen­sável, ri­go­roso e or­ga­ni­zado tra­balho fi­nan­ceiro, de modo a ga­rantir a ca­pa­ci­dade de acção do PCP ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

O Con­gresso é so­be­rano. Mas nós temos con­fi­ança neste Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, no seu co­lec­tivo mi­li­tante pro­fun­da­mente en­rai­zado nos tra­ba­lha­dores e no povo.

Con­fi­ança num Par­tido que re­siste e avança, que afirma e re­a­firma a sua na­tu­reza e iden­ti­dade co­mu­nista na con­cre­ti­zação do seu pro­jecto de de­mo­cracia avan­çada, de uma so­ci­e­dade nova, a so­ci­e­dade so­ci­a­lista. Con­fi­ança na jus­teza dos com­bates que tra­vamos.

Con­fi­antes e apai­xo­nados pela me­mória vida da sua his­tória exal­tante, an­co­rados na ac­tu­a­li­dade do seu pro­jecto li­ber­tador que visa o fim da ex­plo­ração do homem pelo homem.

Ne­nhuma causa morre en­quanto houver al­guém que lute por ela. Ne­nhum pro­jecto é ven­cido quando tantos ho­mens, mu­lheres e jo­vens per­sistem, per­sistem e lutam para o con­cre­tizar. Sim es­tamos con­fi­antes.



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Composição dos organismos executivos<br> do Comité Central

O Co­mité Cen­tral eleito no XIX Con­gresso re­a­lizou a sua pri­meira reu­nião ple­nária no dia 1 de De­zembro de 2012 e elegeu os or­ga­nismos exe­cu­tivos, a Co­missão Cen­tral de Con­trolo e o Se­cre­tário-geral. A Co­missão Po­lí­tica e o Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral, e a Co­missão Cen­tral de Con­trolo foram eleitos por una­ni­mi­dade. O Se­cre­tário-Geral do Par­tido, ca­ma­rada Je­ró­nimo de Sousa (que en­tendeu não votar na sua pró­pria eleição), foi eleito por una­ni­mi­dade.

Relatório da Comissão Eleitoral

O Congresso é o órgão supremo do Partido ao qual compete eleger o Comité Central, na base da proposta feita pelo Comité Central cessante, que os delegados apreciam, podendo fazer propostas nos termos do regulamento aprovado pelo Congresso. De acordo com o...

«Por aqui perpassou a confiança»

Eis-nos chegados ao limiar do encerramento do XIX Congresso. Para aqui chegar tivemos de percorrer, desde Fevereiro, um processo que envolveu largos milhares de militantes e amigos do Partido, que mobilizou todas as organizações partidárias, de Norte a Sul do...