Dia de mobilizar
Os trabalhadores não abdicam da soberania
A passagem de Angela Merkel por Lisboa foi assinalada pela CGTP-IN com protestos, assumidos como mais um passo na mobilização para a greve geral e para prosseguir a luta pela mudança de Governo e de política.
Os protestos de segunda-feira à tarde, organizados pela CGTP-IN e também por movimentos e outras estruturas, ocorreram num contexto marcado pela intensificação do trabalho de preparação da greve geral.
Em Lisboa, teve lugar uma concentração na Praça de Luís de Camões, a que se seguiu um desfile até junto da Assembleia da República. O «perímetro de segurança», imposto durante a breve estadia da chanceler alemã na capital, incluiu as proximidades da residência oficial do primeiro-ministro, destino inicial da manifestação, apesar de nessa altura Merkel estar «a banquetear-se com javalis e cabritos» longe dali, como assinalou Libério Domingues, da Comissão Executiva da CGTP-IN e coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa, numa breve intervenção junto à escadaria do Parlamento.
Na concentração inicial, o Secretário-geral da Intersindical reafirmou as críticas à política da União Europeia, em cuja definição e execução a Alemanha tem papel determinante, e à posição seguidista do Governo português, o qual deveria avançar na exigência de renegociação da dívida pública. Arménio Carlos recordou que Merkel lançou, há poucos anos, uma campanha contra os povos de Portugal e os países do Sul da Europa.
Na concentração e no desfile – a que se associou uma delegação do PCP, com o Secretário-geral, Jerónimo de Sousa – foi destacada a participação de alguns trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Esteve presente uma delegação da Confederação Nacional da Agricultura. A par dos cartazes e faixas da CGTP-IN e de sindicatos, surgiram vários «espontâneos».
Outras iniciativas com idênticos objectivos foram promovidas pela CGTP-IN no Porto (frente ao consulado geral da Alemanha), em Braga (na arcada da Avenida Central), em Faro (na Praça da Liberdade) e em Évora (nas ruas do centro histórico).
Amplo apoio
No seu sítio na Internet, a CGTP-IN foi dando conta, nos últimos dias, do amplo apoio que a greve geral obteve em centenas de plenários de trabalhadores e dos elevados índices de adesão fundamentadamente esperados em diversos sectores. Divulgou ainda mensagens de solidariedade, como as enviadas pela Federação Portuguesa do Táxi ou o Movimento dos Estudantes pela Greve Geral, ou ainda pelos padres Constantino Alves e José Manuel.
Entre outras declarações de apoio à greve geral, chegaram à nossa Redacção as da plataforma sindical da RTP (sete sindicatos), do Partido Ecologista «Os Verdes», da Confederação Portuguesa das Colectividades, da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas.
Afronta à dignidade do povo
Na véspera da deslocação da chanceler alemã a Portugal, a Comissão Política do CC do PCP considerou-a uma «afronta ao povo português, à sua dignidade e soberania». Em conferência de imprensa, Ângelo Alves, membro desse organismo, lembrou que a estadia da governante alemã no nosso País seria «concebida para promover encontros com alguns daqueles que, subscritores, executores e beneficiários do pacto de agressão das troikas, infernizam a vida dos trabalhadores e do povo, arrastam o País para o desastre e atacam a soberania e independência nacionais».
O dirigente comunista salientou ainda a «visão colonial, profundamente retrógrada e reaccionária, que não é exclusiva da chanceler ou do governo alemão». Angela Merkel é «um dos vários rostos de uma ideologia, de uma política e de um conjunto de interesses e orientações».