Protestos invadem Madrid
Vieram de todas as regiões de Espanha para dar corpo a uma das maiores manifestações de protesto dos últimos tempos, sob o lema «Querem arruinar o país, temos de impedi-los».
Marcha sobre Madrid junta centenas de milhares
Quatro colunas de manifestantes oriundos das várias comunidades autónomas confluíram, no sábado, 15, para a Praça de Colón, no centro de Madrid.
Entre as centenas de milhares de pessoas que participaram nos desfiles, distinguiam-se seis sectores identificados com cores específicas: uma maré vermelha representava os sindicatos, uma verde concentrava pais, alunos e o pessoal da Educação, uma laranja juntava as pessoas idosas e dependentes, uma branca reunia os trabalhadores da Saúde, uma negra, os funcionários públicos em geral, e uma outra lilás unia as associações de mulheres.
Praticamente todos os sectores de actividade se fizeram representar no protesto, convocado pelas centrais sindicais CCOO e UGT em conjunto com 150 organizações que integram a Cimeira Social, constituída há dois meses na sequência do protesto nacional de 19 de Julho.
Os sindicatos acusam o governo de Mariano Rajoy de estar a destruir a economia e os direitos sociais, seguindo o mau exemplo de outros países.
Intervindo perante os manifestantes, Fernandéz Toxo, líder das Comisiones Obreras (CCOO), considerou que a política do governo «está a fazer demasiados danos». «Não nos resignamos. Porque há alternativas. Porque é mentira que não haja outra saída.»
Para Toxo, os efeitos da política de austeridade podem ser observados nos países já resgatados: «Grécia, Portugal e a Irlanda não estão melhor do que em Maio de 2010 quando se iniciou este caminho para o suicídio.»
«Hoje toda a Europa sofre as consequências de uma opção marcada pela ideologia. Aproveita-se a crise para provocar uma regressão social, destruindo o esforço de mais de uma geração de espanhóis que construíram um Estado social. Tudo isto está sobre ameaça da ruína», afirmou.
Também o líder da UGT, Cándido Méndez, acusou o Governo «de fazer exactamente o contrário do que prometeu fazer», alertando que «em Espanha está a usar-se a austeridade para caminhar numa deriva anti-social e totalitária». «O único meio que temos ao alcance da nossa mão é a mobilização e um referendo. Que se consulte o povo espanhol que é o seu direito.»
Austeridade e recessão
O plano de «ajuste» do governo espanhol prevê cortes num montante de 102 mil milhões de euros até final de 2014. Até ao momento, os funcionários públicos já perderam o subsídio de Natal, para além de reduções salariais que começaram a ser impostas ainda pelo anterior governo «socialista» de Zapatero. Depois, já com Rajoy vieram mais aumentos de impostos, particularmente do IVA.
Porém, as contas públicas continuaram a degradar-se à força de injecções multimilionárias no sistema bancário. Em 2011, o défice público atingiu 8,9 por cento do PIB. O objectivo é chegar ao final deste ano com um défice de 6,3 por cento, continuar a reduzi-lo para 4,5 por cento em 2013 até atingir os 2,8 por cento em 2014.
Com a economia em recessão, estes objectivos dificilmente serão atingidos e a perspectiva de uma intervenção estrangeira é uma hipótese que o próprio governo já não afasta.
Os sindicatos opõem-se a entrada da troika e exigem um referendo sobre o plano de «ajuste» e sobre um eventual resgate, ameaçando convocar uma greve geral caso o governo não promova a consulta.