Isto não vai lá com milagres

Manuel Gouveia

Reina o es­panto no país que faz-de-conta: para es­panto de mor­tais e imor­tais, acon­teceu o que sempre se soube que ia acon­tecer. Quem não nos vinha salvar não nos salvou, os dé­fices que não iam descer su­biram, as dí­vidas que não iam ser pagas au­men­taram com o di­nheiro que nunca es­teve para ser ofe­re­cido mas sim­ples­mente foi em­pres­tado a juros de agiota, o de­sem­prego dis­parou quando sempre se soube que ia subir muito, e os sa­cri­fí­cios que nunca foram tem­po­rá­rios nem sa­cri­fí­cios somam-se uns aos ou­tros nas costas dos tra­ba­lha­dores e do povo.

Em tempo de crise e de mi­la­gres, «os por­tu­gueses» com­pram mais casas de luxo, mais iates, mais topos de gama, mais aviões par­ti­cu­lares, mais jóias de luxo, assim se com­pro­vando que a po­lí­tica de di­reita traz re­sul­tados po­si­tivos para quem é de­se­nhada e que «os por­tu­gueses» é uma re­a­li­dade es­ta­tís­tica onde se es­conde a se­cular luta entre ex­plo­ra­dores e ex­plo­rados.

E os ban­da­lhos todos, os que estão no seu turno de go­verno e aqueles a quem toca agora vi­o­len­ta­mente se abs­terem ou cor­da­ta­mente vo­tarem contra, os ban­da­lhos todos dizem-nos a mesma coisa: é pre­ciso mais sa­cri­fí­cios ou sa­cri­fí­cios mais in­te­li­gentes. E pre­param-se para fazer exac­ta­mente o que sempre fi­zeram pro­me­tendo que desta vez, por mi­lagre, o re­sul­tado vai ser di­fe­rente.

Dos donos dos ban­da­lhos, as forças ocu­pantes, de­pois de mais um ano a roubar-nos, não es­cu­tamos um «obri­gado» ou mesmo um «até já», apenas o per­ma­nente «que­remos mais». Querem o resto das nossas em­presas pú­blicas en­quanto es­pa­lham uns mi­lhões em co­mis­sões qual milho para mi­nistro de­bicar. Querem os nossos sa­lá­rios mais baixos e a nossa pre­ca­ri­e­dade mais alta. Querem de­cidir o que pro­du­zimos e prin­ci­pal­mente o que não pro­du­zimos, o que ven­demos e prin­ci­pal­mente o que lhes com­pramos. Querem mais, sempre mais. Querem tudo, e ainda querem que lhes fi­quemos a dever tudo o que têm.

Na Festa e com a Festa afir­mamos a men­sagem de con­fi­ança do Par­tido nos tra­ba­lha­dores e no povo por­tu­guês: Isto vai, mas não vai lá com mi­la­gres. Vai lá com o tra­balho e os tra­ba­lha­dores. Vai lá com de­ter­mi­nação e or­ga­ni­zação. Vai lá com luta e pela luta. Vai lá com o PCP e no PCP!



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