Greves de Agosto surpreendem patrões e Governo

Exploração trava-se com luta

Domingos Mealha (texto)
Inês Seixas (fotos)

Em cada em­presa e sector, com a uni­dade e luta dos tra­ba­lha­dores, ci­menta-se a con­fi­ança em que os ob­jec­tivos do ca­pital e do seu Go­verno, ex­pressos na re­visão do Có­digo do Tra­balho, vão ser der­ro­tados. Fomos ver como isso se faz em duas em­presas do dis­trito de Se­túbal.

O Có­digo é mau mas não obriga a pagar menos

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Os tra­ba­lha­dores estão a re­sistir e não aceitam a re­dução do pa­ga­mento do tra­balho su­ple­mentar. As greves ao tra­balho extra sur­pre­en­deram os pa­trões e o Go­verno, que con­tavam poder atacar im­pu­ne­mente a 1 de Agosto, apro­vei­tando o pe­ríodo de fé­rias, para que o roubo es­ti­vesse con­su­mado em Se­tembro, quando a ge­ne­ra­li­dade do pes­soal re­to­masse o tra­balho.

Esta ob­ser­vação foi feita por Fran­cisco Lopes, da Co­missão Po­lí­tica e do Se­cre­ta­riado do CC do PCP, de­pu­tado eleito pelo cír­culo de Se­túbal, quando es­teve, sexta-feira à tarde, com tra­ba­lha­dores da Vis­teon Por­tu­guesa e da Ser­lima Wash II, acom­pa­nhado por mi­li­tantes e di­ri­gentes co­mu­nistas dos con­ce­lhos de Pal­mela e Mon­tijo.

As em­presas são muito di­fe­rentes, mas em ambas mos­trou-se firme a de­ter­mi­nação dos tra­ba­lha­dores (mu­lheres, na mai­oria, quer na Vis­teon, quer na Ser­lima) na re­cusa do tra­balho à borla, ex­pressão re­pe­tida com in­dig­nação face às pre­ten­sões pa­tro­nais.

Aos de­le­gados sin­di­cais da Vis­teon e às tra­ba­lha­doras da Ser­lima, Fran­cisco Lopes sa­li­entou que não estão so­zi­nhos e in­formou que en­con­tros se­me­lhantes estão a ser efec­tu­ados pelo PCP nou­tros con­ce­lhos e dis­tritos, para va­lo­rizar e es­ti­mular a luta contra o apro­vei­ta­mento que o pa­tro­nato quer fazer da re­visão do Có­digo do Tra­balho.

Pela di­mi­nuição legal da pro­tecção dos tra­ba­lha­dores, há que res­pon­sa­bi­lizar a UGT, de­vido ao papel que re­pre­sentou na Con­cer­tação So­cial, e a me­lhor res­posta é dar mais força aos sin­di­catos da CGTP-IN.

Mas é par­ti­cu­lar­mente ne­ces­sário com­bater com fir­meza a ideia de que este có­digo da ex­plo­ração vem impor a re­dução do valor do tra­balho su­ple­mentar ou a im­plan­tação de «bancos» de horas. «As al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho são más, mas o pa­tro­nato quer in­ter­pretá-las abu­si­va­mente, para agravar a ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, quer tirar nos sa­lá­rios para acres­centar nos lu­cros», in­sistiu o di­ri­gente co­mu­nista, à porta da Ser­lima.

Fran­cisco Lopes re­tomou também no Mon­tijo a afir­mação que tinha acen­tuado pouco antes na fá­brica de Pal­mela: «Nós damos todo o apoio à vossa luta, o PCP vai con­ti­nuar a in­tervir em todas as frentes, mas isto re­solve-se aqui, nesta e nas ou­tras em­presas, com a vossa uni­dade e a vossa luta, para levar o pa­tro­nato a re­cuar».

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Res­posta firme

Na manhã de quinta-feira, dia 23, também com a par­ti­ci­pação de Fran­cisco Lopes, o PCP tinha re­a­li­zado en­con­tros com re­pre­sen­tantes dos tra­ba­lha­dores de ou­tras duas em­presas, onde a greve ao tra­balho ex­tra­or­di­nário está a ter ní­veis de adesão muito ele­vados, como nos contou Carlos Fer­nandes, membro do Co­mité Cen­tral do Par­tido e da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Se­túbal.

A Alstom tem mais de 200 tra­ba­lha­dores, 49 dos mais es­pe­ci­a­li­zados estão na pro­dução e per­tencem aos qua­dros de efec­tivos. Entre estes, a re­cusa de tra­balho extra é as­su­mida por mais de 75 por cento. Mas a ten­ta­tiva pa­tronal de cortar dras­ti­ca­mente o valor das horas su­ple­men­tares veio agravar a in­jus­tiça dos cortes nas re­mu­ne­ra­ções va­riá­veis e está a elevar o des­con­ten­ta­mento também nos tra­ba­lha­dores, sub­con­tra­tados, da Ce­les­tino Ma­chado.

Com os cortes no valor das horas extra, que a ad­mi­nis­tração da Lis­nave pre­tende impor, re­cu­sando cum­prir o con­trato co­lec­tivo, muitos tra­ba­lha­dores te­riam uma quebra mensal de 300 euros no seu sa­lário – quando a em­presa somou 16 mi­lhões de euros de lu­cros nos úl­timos dois anos. Além disto, a Lis­nave quer ainda fle­xi­bi­lizar os ho­rá­rios. A grande adesão à greve, pra­ti­ca­mente total entre os as­so­ci­ados do sin­di­cato da CGTP-IN, o SITE Sul, alastra também ao pes­soal da Re­bo­calis, que opera dentro do es­ta­leiro da Mi­trena. «O am­bi­ente é de luta, hoje há mais tra­ba­lha­dores a lutar, já não são só os ope­rá­rios», co­menta Carlos Fer­nandes.




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