De Portas escancaradas

Jorge Cordeiro

Mestre da dissimulação, Paulo Portas acaba por padecer do mesmo mal que padecem os peixes:ser pela boca que morrem. Depois de continuar a fazer crer não ser aquilo que é, ministro deste governo, tomando os portugueses por tolos ou distraídos; depois de habilidosamente criticar o chefe do partido seu aliado por destempero institucional nas criticas que fez à decisão do Tribunal Constitucional sobre o corte de subsídios para, por outras mas não menos inocentes palavras, engrossar o coro contra os trabalhadores agora vítimas do saque dos seus rendimentos; depois de meses de fingida preocupação pelos reformados, desapossados dos seus subsídios pela mão do PSD e do CDS, sem que um pio lhe saisse da boca para fora – Paulo Portas deu asas à sua cartilha ideológica marcada por uma indisfarçável vinculação aos interesses do grande capital e ao acervo ultra reaccionário que a acompanha. Em abreviadas palavras, disse Portas que «se o défice é do Estado, não faz sentido ir buscar cortes aos trabalhadores do privado» acrescentando, com a arte de manipulação que o distingue, não ser «justo que o sector privado tenha a mesma responsabilidade».

Três anotações se justificam perante este exercício de oratória: primeiro, para sublinhar a confissão de Portas de que, em matéria de roubo de subsídios à administração pública e aos reformados, é para o lado que dorme melhor; segundo, para registar a cínica identificação do Estado – e, sobretudo, o que os seus milhares de trabalhadores asseguram de direitos e funções sociais indispensáveis à qualidade de vida de todos os portugueses, sejam eles do privado ou público – com o percurso ruinoso a que a política de direita conduziu o País em matéria de défices e endividamento; terceiro, para anotar a ardilosa manobra para, a pretexto de uma falsa defesa dos trabalhadores do privado, roubados todos os dias nos seus rendimentos e direitos pela política do governo a que pertence, deixar incólumes os únicos interesses privados com que se preocupa, os interesses do grande capital e dos grupos económicos que representa.



Mais artigos de: Opinião

Os Relvas

Sobre Miguel Relvas, os comentistas de serviço não hesitam: está politicamente liquidado. Todavia, não vale a pena refocilar nas tranquibérnias que resvalaram Relvas para o abismo, seja a embrulhada das «secretas», as pressões à jornalista do Público...

Sementes de novas crises

A crise económica e financeira do capitalismo aprofunda-se e com ela a ofensiva do imperialismo. Os acontecimentos confirmam o carácter global da crise e apontam para novos e perigosos desenvolvimentos. A situação é explosiva.

A estrumeira

Há dias, na comissão parlamentar inglesa de inquérito à falsificação do índice Libor, foi perguntado a um vice-governador do Banco de Inglaterra  se estava confiante que já não houvesse falcatruas. A resposta foi: «não posso confiar em nada,...

Irresponsável

O irresponsável que desempenha o cargo de secretário de Estado da Cultura deu uma entrevista (DN, 15.07.2012). A entrevista, que se pretenderia «política», retrata um indivíduo para quem o debate e a reivindicação no sector da Cultura são...

A bem da Nação

Há uma semana registou-se, aqui, o aumento em flecha, desde a ocupação de Portugal pela troika predadora, do número de pessoas apanhadas a «roubar para comer» nas lojas Belmiro, SS & Cia. - isto é: pessoas que vão buscar, onde a há, a comida que as reformas...