Comentário

«Austeridade» com crescimento?

Inês Zuber

Image 10496

A so­cial-de­mo­cracia eu­ro­peia, com­pro­me­tida até aos ca­belos com as po­lí­ticas ditas de aus­te­ri­dade, ou seja, com as po­lí­ticas de agressão contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, tenta agora salvar a face e cons­truir uma imagem de pseudo-opo­sição, falsa opo­sição essa que é es­sen­cial para o sis­tema e para o re­frear do des­con­ten­ta­mento po­pular. A di­reita sente-se obri­gada a dizer também umas pa­la­vras inó­cuas e bo­nitas que nada al­teram as con­sequên­cias ob­jec­tivas das po­lí­ticas ter­ro­ristas que os pró­prios gostam de ape­lidar de «con­so­li­dação or­ça­mental». Na União Eu­ro­peia, Martin Schulz, pre­si­dente do Par­la­mento Eu­ropeu, afirma con­vic­ta­mente que «a po­lí­tica de pou­pança é ne­ces­sária e ne­ces­si­tamos de or­ça­mentos na­ci­o­nais sa­ne­ados. Mas se não houver cres­ci­mento eco­nó­mico não se pode sa­near as contas». Durão Bar­roso, pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia, pro­mete que será feito «um pacto po­lí­tico» pelo cres­ci­mento «sem que as re­formas es­tru­tu­rais sejam aban­do­nadas». Van Rompuy, pre­si­dente do Con­selho Eu­ropeu, afirma que o «cres­ci­mento es­tru­tural não entra em con­tra­dição com a aus­te­ri­dade, talvez es­teja em con­tra­dição no muito curto prazo, porque as pes­soas têm que cor­rigir os seus de­se­qui­lí­brios e au­mentar a sua com­pe­ti­ti­vi­dade». Fran­çois Hol­lande teve como ban­deira elei­toral a «ne­ces­si­dade de in­cluir o cres­ci­mento no pacto or­ça­mental», po­sição par­ti­lhada pelo «nosso» PS, de An­tónio José Se­guro, que marca a sua di­fe­rença em re­lação ao Go­verno ao afirmar «vi­o­len­ta­mente» a ne­ces­si­dade de um pro­to­colo adi­ci­onal ao pacto or­ça­mental. O Pre­si­dente Ca­vaco Silva, a pro­pó­sito da re­cente reu­nião do G8 «su­blinha a im­por­tância de con­ci­liar a con­so­li­dação or­ça­mental com po­lí­ticas, ao nível dos grandes blocos mun­diais, no sen­tido de mais cres­ci­mento eco­nó­mico e mais cri­ação de em­prego». No PE, os de­pu­tados so­ciais-de­mo­cratas sal­picam os re­la­tó­rios que im­põem a dita «con­so­li­dação or­ça­mental» com pa­la­vras de­co­ra­tivas: «cres­ci­mento» numa frase, «pro­moção de em­prego» noutra, e por aí fora. As duas pró­ximas ci­meiras da União Eu­ro­peia – a in­formal e a da Pri­ma­vera – pro­metem abordar pre­o­cu­pa­da­mente as formas de con­se­guir cres­ci­mento eco­nó­mico sem co­locar em causa, evi­den­te­mente, a cha­mada «dis­ci­plina fi­nan­ceira». Mas, por trás de tão pom­posas pa­la­vras e in­ten­ções, será ver­da­dei­ra­mente pos­sível con­se­guir essa con­ci­li­ação? Ob­jec­ti­va­mente, na vida dos tra­ba­lha­dores, o que sig­ni­ficam as «me­didas de aus­te­ri­dade», pa­la­vras apa­ren­te­mente es­va­zi­adas de con­teúdo con­creto, para os res­pon­sá­veis na­ci­o­nais e eu­ro­peus? «Aus­te­ri­dade» sig­ni­fica des­truição e en­cer­ra­mento de ser­viços pú­blicos e suas va­lên­cias, logo, des­truição de em­prego. «Aus­te­ri­dade» sig­ni­fica di­mi­nuição e cortes em sa­lá­rios e pen­sões, au­mento de im­postos in­di­rectos, ou seja, di­mi­nuição do con­sumo in­terno, logo – pasme-se – des­truição de em­prego. «Aus­te­ri­dade» sig­ni­fica al­te­ração de leis la­bo­rais para pro­mover a fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos e um ho­rário de tra­balho maior, logo, des­truição de em­pregos. «Aus­te­ri­dade» sig­ni­fica a pri­va­ti­zação de sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia, que con­du­zirá, ine­vi­ta­vel­mente, à des­truição de em­prego. Dei­xando de parte o «por­menor» de que, no de­correr de todas estas po­lí­ticas, são es­ma­gados e des­truídos im­por­tantes di­reitos so­ciais, eco­nó­micos e la­bo­rais, seria, no mí­nimo, exi­gível que os se­nhores já men­ci­o­nados ex­pli­cassem como é que se cria em­prego e cres­ci­mento quando, todos os dias, são des­truídos postos de tra­balho. Desde a che­gada da troika a Por­tugal foram des­truídos, por dia, em média, 558 em­pregos. A pró­pria Co­missão Eu­ro­peia prevê a des­truição, em Por­tugal, de mais 153 800 postos de tra­balho, du­rante o ano de 2012. Será que a ideia dos ditos se­nhores é des­truir pri­meiro em­prego para de­pois o re­criar? O que é certo, é que por entre boas in­ten­ções, ex­pres­sões com­pli­cadas e jan­tares in­for­mais do Con­selho Eu­ropeu sobre o que quer que seja, as po­lí­ticas pro­mo­vidas e apoi­adas pela di­reita e a so­cial-de­mo­cracia eu­ro­peias con­denam todos os dias mi­lhares de pes­soas à po­breza, à fome e ao de­ses­pero. Só a luta de massas e a rup­tura com estas po­lí­ticas al­te­rarão esta si­tu­ação.



Mais artigos de: Europa

Greve total na educação

Os prin­ci­pais sin­di­catos da Edu­cação de Es­panha (CC OO, ANPE, CSIF, STES e UGT), com o apoio das as­so­ci­a­ções de pais e alunos e ou­tras or­ga­ni­za­ções, pa­ra­li­saram, an­te­ontem, 22, os es­ta­be­le­ci­mentos de en­sino em quase todo o país.

Contra Monti e a UE

Cerca de 40 mil pes­soas ma­ni­fes­taram-se, dia 12, em Roma, num pro­testo or­ga­ni­zado pela Fe­de­ração da Es­querda (co­li­gação que in­clui, entre ou­tras forças, a Re­fun­dação Co­mu­nista Ita­liana e o Par­tido dos Co­mu­nistas Ita­li­anos).

Comunistas trocam experiências

Delegações de 59 partidos comunistas e operários participaram na 21.ª edição do Seminário Comunista Internacional de Bruxelas, promovido anualmente por um comité de coordenação, constituído por uma dezena de partidos, em que se destaca o Partido...

Solidariedade com o povo irlandês

Uma delegação do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL), integrada pelo deputado do PCP, João Ferreira, esteve na Irlanda, de 16 a 18 do corrente, para manifestar solidariedade ao povo irlandês na sua luta pela rejeição do...

Metalúrgicos alemães obtêm 4,3 por cento

O sindicato alemão dos metalúrgicos, IG Metall, anunciou, dia 19, a conclusão de um acordo com a associação patronal, que prevê um aumento dos salários de 4,3 por cento, para o universo de 3,6 milhões de trabalhadores do sector. O líder do sindicato, Berthold...

Milhares protestam junto ao <i>BCE</i>

Mais de 20 mil pessoas manifestaram-se no sábado, 19, na cidade alemã de Frankfurt, culminando uma série de protestos convocados pelo movimento anticapitalista «Blockupy», contra a política de austeridade e o poder dos bancos. As acções...