Londres reclama dívida da ditadura militar
O governo de Londres exige que a Argentina pague uma dívida resultante de um empréstimo à Junta Militar em 1979 e que alegadamente serviu para a compra de armamento usado na guerra das Malvinas em 1982.
Londres já violou cerca de 40 resoluções da ONU
Segundo uma notícia publicada na edição de segunda-feira, 9, do Financial Times, o empréstimo feito à Junta Militar argentina – que impôs no país uma ditadura sangrenta entre 24 de Março de 1976 e 10 de Dezembro de 1983 – ascendeu a 45 milhões de libras (cerca de 71,41 milhões de dólares ao câmbio actual) e foi usado para a compra de equipamento militar que posteriormente foi usado na guerra das Malvinas.
A disputa pelas Malvinas remonta a 1833, ano em que os britânicos ocuparam o território e expulsaram pela força os seus habitantes. A ocupação, nunca aceite pelos argentinos, viria a ser instrumentalizada pela ditadura militar numa tentativa de se legitimar no poder e alargar a sua base social de apoio, desembocando numa guerra (de 2 de Abril a 14 de Junho) entre Londres e Buenos Aires que provocou a morte de mais de 900 pessoas, 649 das quais argentinas. O desfecho do conflito acabou por acelerar o fim da ditadura, enquanto do outro lado do Atlântico a vitória no confronto permitiu ao governo ultra liberal de Margaret Thatcher obter a vitória nas eleições de 1983.
Volvidos 30 anos a disputa pelas Malvinas continua em aberto. Assinalando a efeméride, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, criticou o facto de «ainda existirem, em pleno século XXI, enclaves coloniais», sublinhando que «10 em 16 pertencem ao Reino Unido», e voltou a apelar ao «diálogo entre os dois países para poder discutir a soberania no respeito dos interesses dos habitantes das ilhas».
A reacção de Londres não se fez esperar. Em resposta, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reiterou a posição do seu país de manter a ocupação, enquanto o seu governo anunciava, no mesmo dia, a decisão de enviar para a região o poderoso e super equipado navio de guerra HMS Dauntless, deixando evidente a intenção de prosseguir a militarização da zona.
É neste contexto que surge agora a notícia do Financial Times, dando conta de que o Reino Unido «não tem planos para perdoar a dívida» contraída pela ditadura militar junto da UK Export Finance, a Agência do Reino Unido de Crédito à Exportação. Até à data Londres já violou cerca de 40 resoluções da ONU advogando o diálogo para a busca de uma solução diplomática para o litígio com a Argentina, sem que daí tenham advido quaisquer consequências.
A persistência de Londres não se deve a uma questão de orgulho nacional. A posse das Malvinas, para além dos benefícios resultantes da sua posição estratégica no respeitante ao tráfego marítimo entre o Atlântico Sul e o Pacífico, e de potencial plataforma para a exploração de petróleo, pode vir a ser determinante na outorga de direitos sobre a riquíssima Antártica em futuras negociações sobre este continente.
Vários países da região anunciaram entretanto que vão apoiar a pretensão de Buenos Aires de recuperar a soberania das Malvinas na VI Cimeira das Américas de Cartagena, Colômbia, que se vai reunir ao mais alto nível nos próximos dias 14 e 15.