O «bom caminho»
A apresentação pela Comissão Europeia da terceira avaliação da aplicação do mal dito «programa de assistência financeira» a Portugal dificilmente poderia ser mais elucidativa quanto aos objectivos e natureza do pacto de agressão.
Peter Weiss, um dos «carrascos» destacados pela Comissão para integrar a missão da troika estrangeira afirmou que «Portugal está no bom caminho». É por demais evidente que o «bom caminho» de Weiss é, para os portugueses, um precipício, bastaria para tal atentar nos dados do desemprego em Portugal revelados pelo Eurostat, no cenário de recessão económica para 2012 e 2013 previsto pelo Banco de Portugal e pela própria Comissão, ou ainda nas vozes que se adensam afirmando que Portugal «vai necessitar de um segundo resgate».
Mas atenção, a afirmação de Weiss não é apenas uma peça de propaganda enganosa. Pelo contrário, ela elucida-nos sobre o real objectivo estratégico deste pacto de agressão. E esse não é o de resolver a situação económica e social portuguesa. O objectivo deste pacto é, após a sua aplicação, deixar Portugal numa situação muito diferente daquela que conhecemos até hoje, seja do ponto de vista do sistema socioeconómico, do quadro jurídico-constitucional e regime político, da correlação de forças entre capital e trabalho ou das condições de vida da esmagadora maioria dos portugueses. E deste ponto de vista – do ponto de vista deles – a acção do governo põe Portugal no «bom caminho».
Não deve portanto surpreender ninguém que se venha agora lançar a discussão de transformar em definitivas medidas que foram apresentadas como temporárias – como é o caso dos cortes do 13.º e 14.º mês. É que é mesmo esse o objectivo! O que surpreende, e revela uma hipocrisia tremenda, é que partidos como o PS, que assinaram o pacto de agressão e acabaram de votar o código do trabalho com que Weiss se regozijou, venham agora dizer que é inaceitável que «Portugal esteja a ser governado a partir de Bruxelas».
Mas o «bom caminho» do PS, do PSD, do CDS e da troika estrangeira não é um caminho único e muito menos inevitável. Será a luta, a nossa luta, que derrotará a hipocrisia e o caminho da regressão social e civilizacional. O futuro pertence aos trabalhadores e ao povo e esse é que é o bom caminho.