Números
Já muito tem sido escrito sobre a fraude que constitui a persistente tentativa do Governo e do patronato em fazer equivaler «produtividade» e «competitividade» a mais horas de trabalho, à redução de férias e à eliminação de feriados, à completa desregulamentação do horário de trabalho.
Mas são números de uma insuspeita organização, a OCDE, quem vem acrescentar mais alguns indesmentíveis dados (http://stats.oecd.org/Index.aspx?DatasetCode=LEVEL#http://stats.oecd.org/Index.aspx?DatasetCode=LEVEL# )à denúncia dessa fraude.
De entre os países que integram a organização, a Grécia tem o segundo maior número de horas de trabalho anuais por trabalhador: 2017. O primeiro, com 2068 horas, é o Chile do neoliberal-pinochetismo, esse modelo dos mestres de Vítor Gaspar & Cia. Portugal, com 1714 horas, está muito à frente das 1408 horas da Alemanha ou as 1439 horas da França. Mas o PIB produzido por hora trabalhada em Portugal é apenas 59,7% do valor correspondente na Alemanha e 55,5% do da França (e o da Grécia 62,6% e 58,2%. Quanto ao Chile, fica-se por 35,8% e 33,2%).
No desgraçado «acordo» subscrito pelo patronato e pelo respectivo apêndice «sindical» lá está a questão, associada ao problema da qualificação escolar da força de trabalho. O problema é real, mas convém vê-lo no seu conjunto: em Portugal o nível de formação escolar da população activa é de longe superior ao nível de formação escolar do patronato. A taxa de desemprego entre os jovens, que já ultrapassa largamente os 30%, abrange precisamente a faixa mais escolarizada da população activa. E, noutro ponto desse «acordo» em que igualmente se fala da formação (p. 10/53), é para levar ao ensino secundário o «estímulo à criação de autoemprego», precisamente uma das situações que levam os trabalhadores gregos a produzir um muito menor valor trabalhando muito mais horas do que um trabalhador alemão.
Tudo na política das troikas conduz a um ainda maior atraso e empobrecimento do país.
Mas, por estranho que pareça, a solução também está inscrita no «acordo»: é pôr a andar a troika, este Governo e esta política por «extinção do posto de trabalho» e sobretudo «por inadaptação» face aos direitos dos trabalhadores e ao interesse nacional.