Mais deprimidos na Europa
Numa altura em que na União Europeia os governos, com o apoio do sindicalismo amarelo, tentam impor o aumento do horário de trabalho, assume particular interesse um estudo publicado a semana passada pela revista Plos ONE, dando conta de que os empregados que trabalham pelo menos 11 horas por dia se arriscam duas vezes mais a sofrer de depressão grave do que os que trabalham sete horas diárias.
A investigação foi realizada no Reino Unido e abrangeu um universo de dois mil trabalhadores britânicos, homens e mulheres entre os 35 e os 55 anos, gozando de boa saúde mental, que foram acompanhados durante seis anos – informa a Lusa, citando a sua congénere AFP.
De referir, já agora, que a ligação entre o risco de depressão e a jornada de trabalho diário não foi afectada por outros factores relacionados com o estilo de vida. É mesmo o excesso de tempo de trabalho que deprime.
Venezuela em contraciclo
Também o governo da Venezuela quer reformar a Lei do Trabalho, mas ao contrário do que sucede na Europa, um dos objectivos da reforma é a redução do horário de trabalho. Para o efeito foi criada uma comissão que propõe que a jornada de trabalho seja de sete horas diárias, 35 horas semanais, no horário diurno, e de seis horas e meia diárias e 32 horas e meia semanais no horário nocturno.
A ser aprovada, a redução não afectará o salário mas sim a remuneração, já que é frequente os venezuelanos fazerem horas extraordinárias.
A reforma, que entre outros aspectos incluiu também a redução do período experimental de três meses para 30 dias e a criação de «conselhos de trabalhadores», está longe de ser uma questão pacífica. É que «por falta de cultura laboral», segundo um membro da comissão citado pela Lusa, os trabalhadores não gostam de ficar sem as horas extraordinárias. «Isso realmente é uma incultura laboral, que afecta a saúde e a vida do trabalhador», afirma aquele responsável. É caso para dizer que os governos europeus não têm problemas destes.
Jogo sujo
Em Portugal, as preocupações do Governo são outras e podem resumir-se numa frase: alinhar por baixo e quanto mais baixo melhor. Este mês, anunciava o Diário Económico de anteontem, 31, o Executivo prepara-se para apresentar aos sindicatos da função pública «novas regras para aproximar o sistema laboral dos funcionário do Estado com o do sector privado». Dizia o jornal que «haverá poucos sorrisos» porque a «proposta terá mais elementos para retirar do que para oferecer a quem trabalha na função pública». Mas é tudo a bem da nação, garante o DE, que partilha com o Governo a ideia de que os trabalhadores do Estado são uns privilegiados. Por isso o «desafio» é aproximar os dois regimes laborais para «criar um mercado de trabalho mais justo», para que «todos possam jogar – e trabalhar – de acordo com as mesmas regras».
Depois do que foi congeminado e acordado na mal chamada concertação social, nem é preciso esperar para ver que o «jogo» está viciado.