Intervenção de Jerónimo de Sousa, lida por José Capucho, do Secretariado do CC

Nunca esqueceremos os nossos mártires

Faz hoje pre­ci­sa­mente 50 anos que, aqui muito pró­ximo do local em que nos en­con­tramos, a morte saiu à rua: a PIDE as­sas­sinou, a tiro, o ca­ma­rada José Dias Co­elho: O pintor morreu. Foi um crime brutal, um dos muitos pra­ti­cados pelo fas­cismo ao longo do seu quase meio sé­culo de exis­tência.

Crimes que, na sua imensa mai­oria, in­ci­diram sobre mi­li­tantes co­mu­nistas, já que eram estes que, or­ga­ni­zados no seu Par­tido, ocu­pavam a pri­meira fila da luta contra o re­gime fas­cista. Crimes que nunca é de­mais de­nun­ciar neste tempo em que está em curso uma in­tensa ope­ração de bran­que­a­mento e ne­gação do fas­cismo. Crimes que devem ficar gra­vados na nossa me­mória co­lec­tiva para que fas­cismo nunca mais.

 

Image 9319

José Dias Co­elho nasceu em Pi­nhel, em 19 de Junho de 1923 e, após uma pas­sagem, com a fa­mília, por Coimbra, onde fez os pri­meiros anos da ins­trução pri­mária, e por Cas­telo Branco, onde fre­quentou o liceu, veio morar para Lisboa. Tinha então 15 anos de idade. Aqui, no Co­légio Aca­dé­mico, con­cluirá os es­tudos li­ceais e par­ti­ci­pará pela pri­meira vez numa ex­po­sição, com um con­junto de ca­ri­ca­turas, a que a crí­tica se re­fere com apreço – e que desde logo são re­ve­la­doras do seu ta­lento in­vulgar.

No Aca­dé­mico faz ami­zade com uma pro­fes­sora, Berta Mendes, mu­lher do es­critor Ma­nuel Mendes, através da qual tem acesso ao con­tacto com grandes fi­guras da vida cul­tural e ar­tís­tica de então: entre ou­tros, Abel Manta, Keil do Amaral, Abel Sa­lazar, Bento de Jesus Ca­raça, Fer­nando Lopes-Graça, Ma­nuela Porto, Carlos de Oli­veira, Ave­lino Cu­nhal, Eu­génio de An­drade, José Car­doso Pires, Fer­nando Na­mora, Alves Redol, José Gomes Fer­reira.

Por essa al­tura, o fas­cismo avan­çava na Eu­ropa e no mundo: ter­mi­nara a guerra de Es­panha, com a vi­tória dos fas­cistas, e tinha início a II Guerra Mun­dial, com a qual Hi­tler pre­tendia as­se­gurar a con­quista e o do­mínio do mundo. E por cá, Sa­lazar con­cluía o pro­cesso de fas­ci­zação do Es­tado, cri­ando um vasto con­junto de ins­tru­mentos re­pres­sivos, de­sig­na­da­mente a po­lícia po­lí­tica (PVDE/​PIDE/​DGS), o Tri­bunal Mi­litar Es­pe­cial, a Le­gião Por­tu­guesa, o Campo de Con­cen­tração do Tar­rafal – tendo pre­vi­a­mente as­se­gu­rado a li­qui­dação dos sin­di­catos li­vres e a apro­vação frau­du­lenta da Cons­ti­tuição fas­cista.

Ainda muito jovem, José Dias Co­elho aderiu àquele que viria a ser o seu par­tido de sempre: o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês. Es­tava então em curso a re­or­ga­ni­zação de 1940/​41, pri­meiro e de­ci­sivo passo para a cons­trução dos III e IV con­gressos, num pro­cesso que, su­pe­rando as di­fi­cul­dades e as fra­gi­li­dades or­gâ­nicas cau­sadas pela brutal ofen­siva re­pres­siva dos anos trinta, trans­for­maria o PCP num par­tido mar­xista-le­ni­nista, um grande par­tido na­ci­onal, van­guarda de facto da classe ope­rária e das massas tra­ba­lha­doras, o grande par­tido da re­sis­tência e da uni­dade an­ti­fas­cistas.

José Dias Co­elho par­ti­cipa nas ac­ti­vi­dades do Mo­vi­mento Na­ci­onal de Uni­dade An­ti­fas­cista (MUNAF); mais tarde in­tegra o Mo­vi­mento de Uni­dade De­mo­crá­tica (MUD), o pri­meiro mo­vi­mento an­ti­fas­cista legal, criado na sequência do fim da II Guerra Mun­dial; e logo a se­guir inicia in­tensa ac­ti­vi­dade no MUD Ju­venil. E é como membro desta or­ga­ni­zação ju­venil que co­nhece e se torna amigo de ou­tros jo­vens, afri­canos, que anos mais tarde iriam di­rigir os mo­vi­mentos de li­ber­tação das co­ló­nias: Agos­tinho Neto, Mar­ce­lino dos Santos, Amílcar Ca­bral, Vasco Ca­bral. Par­ti­cipa igual­mente na Co­missão de Es­cri­tores e Ar­tistas De­mo­crá­ticos e na sub­co­missão dos Ar­tistas Plás­ticos.

 

Arte como re­sis­tência

 

A in­fluência do Par­tido crescia, no­me­a­da­mente entre a in­te­lec­tu­a­li­dade que le­vava por di­ante uma in­tensa ac­ti­vi­dade si­mul­ta­ne­a­mente cri­a­tiva e an­ti­fas­cista. Num im­pres­si­o­nante mo­vi­mento cul­tural, a li­te­ra­tura e as artes plás­ticas, com o mo­vi­mento neo-re­a­lista, dão voz à re­a­li­dade do País mis­ti­fi­cada pela pro­pa­ganda fas­cista. Os ro­man­cistas, po­etas e ar­tistas plás­ticos, com a sua arte e o seu ta­lento, são ver­da­deiros porta-vozes dos an­seios, das as­pi­ra­ções, das lutas dos tra­ba­lha­dores e do povo. Ini­ci­a­tivas como a cri­ação, por Bento de Jesus Ca­raça, da Uni­ver­si­dade Po­pular e desse outro em­pre­en­di­mento maior da his­tória da cul­tura por­tu­guesa que foi a Bi­bli­o­teca Cosmos, surgem como tes­te­mu­nhos im­pe­re­cí­veis de uma re­sis­tência em­pe­nhada à di­ta­dura e da luta por uma cul­tura ao ser­viço do povo.

Muitos ar­tistas plás­ticos, entre eles José Dias Co­elho – que en­tre­tanto fre­quen­tava es­cul­tura na Es­cola de Belas Artes e se des­ta­cava como um dos prin­ci­pais di­ri­gentes da luta dos es­tu­dantes de Belas Artes pela cri­ação da As­so­ci­ação Aca­dé­mica – re­sistem à im­po­sição da me­di­o­cri­dade e da pro­pa­ganda re­ac­ci­o­nária e dão, de formas di­versas, ima­gens do seu povo e da sua luta, co­la­boram com o seu ta­lento cri­ador em ac­ções aber­ta­mente po­lí­ticas pela li­ber­dade e pela paz.

José Dias Co­elho de­sen­volve uma ac­tiva in­ter­venção na di­na­mi­zação das Ex­po­si­ções Ge­rais de Artes Plás­ticas, cuja pri­meira se re­a­liza em 1946 e que mos­traram o que de mais vá­lido e de maior qua­li­dade existia nas artes plás­ticas de então. Por outro lado, essas Ex­po­si­ções reúnem pela pri­meira vez cri­a­dores de todos os gé­neros ar­tís­ticos, de todas as idades e sem júri de ad­missão, e apre­sentam-se como uma frente comum li­berta das pres­sões de ca­rácter po­lí­tico im­postas pelo fas­cismo, de que eram exemplo as ex­po­si­ções or­ga­ni­zadas por An­tónio Ferro no SNI.

A enorme ca­pa­ci­dade de José Dias Co­elho para criar e de­sen­volver am­plos con­sensos, a sua aguda sen­si­bi­li­dade po­lí­tica, a sua só­lida pre­pa­ração ide­o­ló­gica, o seu pres­tígio e a con­fi­ança nele de­po­si­tada por todos os que o co­nhe­ciam, in­clu­si­va­mente por ar­tistas e in­te­lec­tuais bas­tante mais ve­lhos do que ele, foram de­ci­sivos quer para o êxito das Ex­po­si­ções Ge­rais, quer para a con­cre­ti­zação de vá­rias ou­tras ac­ções co­muns, quer para o alar­ga­mento da frente in­te­lec­tual an­ti­fas­cista, iso­lando os in­te­lec­tuais ser­ven­tuá­rios do re­gime.

Nessas Ex­po­si­ções sur­girão nomes que vi­riam a afirmar-se no fu­turo como fi­guras mai­ores das artes plás­ticas por­tu­guesas, entre eles, Ro­lando Sá No­gueira, João Abel Manta, Júlio Pomar, João Hogan, Alice Jorge, Ro­gério Ri­beiro, Ci­priano Dou­rado, Que­rubim Lapa, Lima de Freitas, Ma­nuel Ri­beiro de Pavia, Maria Keil, Mar­ga­rida Ten­gar­rinha, e muitos ou­tros – jo­vens que in­te­gravam o vasto cír­culo de amigos de José Dias Co­elho e sobre os quais ele exercia forte in­fluência po­lí­tica.

A ac­ti­vi­dade de José Dias Co­elho di­vide-se pelo tra­balho ar­tís­tico e a in­ter­venção po­lí­tica. Ele par­ti­cipa como ex­po­sitor em todas as ex­po­si­ções, à ex­cepção da pri­meira, com um con­junto de obras de que se des­tacam Ca­beça de meu Pai, Ca­beça do Pintor Sá No­gueira, Re­trato de Mar­ga­rida Ten­gar­rinha, Ca­beça de Alves Redol, Re­trato de Maria Eu­génia Cu­nhal, Re­trato de D. Maria Isabel Aboim In­glês.

 

A arte, a prisão, a clan­des­ti­ni­dade

 

A úl­tima Ex­po­sição Geral de Artes Plás­ticas ocorre em 1956, quando José Dias Co­elho já está na clan­des­ti­ni­dade; e é sin­to­má­tico que nessa úl­tima Ex­po­sição ele es­teja re­pre­sen­tado, como ex­po­sitor, com um dos seus tra­ba­lhos – o re­trato da irmã, Maria Emília: era um gesto de so­li­da­ri­e­dade dos seus amigos e com­pa­nheiros de luta, um gesto com o qual re­co­nhe­ciam o papel de­ci­sivo que ele havia re­pre­sen­tado na cons­trução da­quelas re­le­vantes ini­ci­a­tivas e ex­pres­savam a ad­mi­ração pelo seu ta­lento, pela sua co­e­rência na luta pelos seus ideais. Era também, por parte dos or­ga­ni­za­dores, a cons­ci­ência do sa­cri­fício que re­pre­sen­tara para ele ter aban­do­nado a vida ar­tís­tica.

En­tre­tanto, José Dias Co­elho co­me­çara a ser co­nhe­cido pelo seu tra­balho ar­tís­tico, tra­balha para en­co­mendas, expõe, ficam co­nhe­cidas obras de es­cul­tura como as ca­beças de Alves Redol, Fer­nando Na­mora, Ro­lando Sá No­gueira e Or­lando da Costa; e também os re­tratos a carvão, da mãe e da irmã Maria Emília, pre­mi­ados res­pec­ti­va­mente com uma menção hon­rosa e uma me­dalha nos Sa­lões da So­ci­e­dade Na­ci­onal de Belas Artes. Ao mesmo tempo ilustra contos de José Car­doso Pires e o livro de Ale­xandre Ca­bral, O Sol Nas­cerá um Dia.

Em 1949, Dias Co­elho par­ti­cipa na cam­panha «elei­toral» de Norton de Matos e é de­tido pela PIDE e le­vado para o Al­jube, onde per­ma­nece in­co­mu­ni­cável du­rante 10 dias. Por essa al­tura, re­a­liza-se, em Paris, o I Con­gresso Mun­dial da Paz, para o qual Pi­casso de­senha a cé­lebre Pomba da Paz – que desde logo se trans­forma num sím­bolo à es­cala pla­ne­tária – e, no ano se­guinte, surge, em Por­tugal, a Co­missão para a De­fesa da Paz, que lança a cam­panha das 100 mil as­si­na­turas para o Apelo de Es­to­colmo, na qual José Dias Co­elho se em­pe­nhará ac­tiva e in­ten­sa­mente.

En­tre­tanto o go­verno fas­cista de Sa­lazar fora ad­mi­tido na NATO e em 1952, re­a­liza-se no Ins­ti­tuto Su­pe­rior Téc­nico a reu­nião do Pacto do Atlân­tico, que viria a ser alvo de forte con­tes­tação po­pular, or­ga­ni­zada pela Co­missão para a De­fesa da Paz e na sequência da qual José Dias Co­elho e Mar­ga­rida Ten­gar­rinha são ex­pulsos de todas as es­colas do País.

To­davia, na vida de José Dias Co­elho, há, como su­blinha in­ci­si­va­mente, Mar­ga­rida Ten­gar­rinha, «uma data de­ci­siva, o ano de 1955, que tem um real sig­ni­fi­cado para en­tender a sua opção de vida: é em 1955 que entra na clan­des­ti­ni­dade como fun­ci­o­nário do Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, sa­bendo que a ta­refa que lhe está de­sig­nada é montar uma ofi­cina de fal­si­fi­cação de do­cu­mentos, bi­lhetes de iden­ti­dade, li­cenças de bi­ci­cleta, cartas de con­dução, pas­sa­portes, etc., para de­fesa dos mi­li­tantes clan­des­tinos no tra­balho de or­ga­ni­zação e nas re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais do Par­tido» – um tra­balho que ele sabia ser «obs­curo, mo­nó­tono, fe­chado, tão oposto à sua vo­cação de es­cultor e aos seus há­bitos de con­vívio e ter­tú­lias com os in­te­lec­tuais e ar­tistas da agi­tada vida cul­tural da Lisboa de então», mas um tra­balho que ele sabia ser de ex­trema im­por­tância e que só po­deria ser de­sem­pe­nhado por um re­vo­lu­ci­o­nário pro­fis­si­onal. É um tra­balho que de­sen­volve em con­junto com Mar­ga­rida Ten­gar­rinha.

 

Obs­cura he­roi­ci­dade

 

Foi a opção pelo ca­minho da «obs­cura he­roi­ci­dade», na ca­rac­te­ri­zação por ele feita da vida clan­des­tina de su­ces­sivas ge­ra­ções de co­mu­nistas.

Na clan­des­ti­ni­dade, das suas mãos e do seu ta­lento de ar­tista plás­tico saíram também nu­me­rosas gra­vuras de li­nóleo e ma­deira que deram um con­tri­buto de­ci­sivo para o en­ri­que­ci­mento grá­fico de vá­rias pu­bli­ca­ções do Par­tido: o Avante!, O Mi­li­tante, A Voz das Ca­ma­radas, A Terra, O Fer­ro­viário.

Nesse tempo de vida clan­des­tina es­creve, com a co­la­bo­ração de Mar­ga­rida Ten­gar­rinha, o livro A Re­sis­tência em Por­tugal, que cons­titui a pri­meira abor­dagem da luta dos co­mu­nistas, dos tra­ba­lha­dores e do povo contra o re­gime fas­cista.

Em fi­nais de 1960, José Dias Co­elho e Mar­ga­rida Ten­gar­rinha mudam de ta­refa, pas­sando ele a in­te­grar a di­recção do Par­tido em Lisboa, com a res­pon­sa­bi­li­dade do Sector In­te­lec­tual, onde virá a de­sen­volver re­le­vante ac­ti­vi­dade, fa­ci­li­tada pelo pres­tígio que man­tinha junto da in­te­lec­tu­a­li­dade e pela sua imensa ca­pa­ci­dade de diá­logo. Or­ga­niza vá­rias ac­ções da Opo­sição De­mo­crá­tica, no­me­a­da­mente na pre­pa­ração das «elei­ções» para a As­sem­bleia Na­ci­onal mar­cadas para 12 de No­vembro de 1961 – um ano no de­correr do qual o re­gime fas­cista so­freu fortes abalos.

Nesse ano de 1961, o Par­tido avan­çava de­ci­di­da­mente na cor­recção do desvio de di­reita, na sequência da fuga de Pe­niche ocor­rida no ano an­te­rior. O co­lec­tivo par­ti­dário de­sen­volvia in­tensa ac­ti­vi­dade, re­for­çando a sua li­gação à classe ope­rária e às massas e re­pondo a via do le­van­ta­mento na­ci­onal como ca­minho para o der­ru­ba­mento do fas­cismo – e es­tavam em pre­pa­ração as grandes lutas do início do ano se­guinte, de­sig­na­da­mente o po­de­roso 1.º de Maio de 1962 e a con­quista das oito horas de tra­balho pelos as­sa­la­ri­ados agrí­colas da zona do la­ti­fúndio. 1961 foi, ainda, o ano do as­salto ao Pa­quete Santa Maria; do início da luta de li­ber­tação do povo an­go­lano; das grandes ma­ni­fes­ta­ções contra a farsa que foram as «elei­ções» para a As­sem­bleia Na­ci­onal fas­cista; da fuga de Ca­xias, em 4 de De­zembro, de um con­junto de di­ri­gentes e qua­dros do Par­tido; da li­ber­tação de Goa, início da der­ro­cada do co­lo­ni­a­lismo por­tu­guês.

Mas 1961 foi, também, um ano de forte re­pressão. Di­ri­gentes do Par­tido, como Oc­távio Pato, Carlos Costa, Pires Jorge e Amé­rico de Sousa foram presos. E José Dias Co­elho foi as­sas­si­nado, no dia 19 de De­zembro, faz hoje pre­ci­sa­mente 50 anos. Tinha 38 anos de idade e re­cordá-lo é re­cordar um exemplo de dig­ni­dade re­vo­lu­ci­o­nária, de co­ragem, de ab­ne­gação – um exemplo que nos dá mais força para pros­se­guirmos, hoje, a luta pelos ideais e pelos ob­jec­tivos pelos quais ele deu a sua vida.

 

Ar­tista mi­li­tante e mi­li­tante re­vo­lu­ci­o­nário

 

O ca­ma­rada José Dias Co­elho fi­cará para sempre na nossa me­mória co­lec­tiva e cons­titui uma re­fe­rência per­ma­nente na luta que hoje tra­vamos – luta que foi a dele en­quanto «ar­tista mi­li­tante e mi­li­tante re­vo­lu­ci­o­nário», nas pa­la­vras de Mar­ga­rida Ten­gar­rinha, sua com­pa­nheira de luta e de vida, mãe das suas duas fi­lhas – Te­resa e Mar­ga­rida – e também ela mi­li­tante re­vo­lu­ci­o­nária e ar­tista mi­li­tante.

A úl­tima gra­vura que o ar­tista mi­li­tante e mi­li­tante re­vo­lu­ci­o­nário criou, um mês antes de ser as­sas­si­nado, re­pre­senta, dir-se-ia que pre­mo­ni­to­ri­a­mente, o as­sas­si­nato do jovem ope­rário Cân­dido Mar­tins (Ca­pilé) frente a uma ma­ni­fes­tação po­pular, em Al­mada, e tem como le­genda: «De todas as se­mentes dei­tadas à terra, é o sangue der­ra­mado pelos már­tires que faz le­vantar as mais co­pi­osas se­aras». A esses már­tires nunca os es­que­ce­remos.

Como diz a canção da re­sis­tência, os mortos, não os dei­xamos / para trás / aban­do­nados / fa­zemos deles ban­deiras / guias e mes­tres / sol­dados / dos com­bates que tra­vamos. Ou seja: a luta con­tinua.



Mais artigos de: Em Foco

Bandeira do nosso combate

José Dias Coelho foi assassinado há 50 anos, na rua de Alcântara que hoje tem o seu nome. O PCP, do qual era funcionário clandestino quando as balas da PIDE o vararam, prestou-lhe homenagem na segunda-feira pois, como afirma a canção, os mortos,...

<i>Sem vocação para a morte</i>

A primeira oradora da tarde foi Margarida Tengarrinha, companheira de José Dias Coelho e mãe das suas duas filhas, que, numa emocionante intervenção, falou da «intimidade criada em mais de uma dezena de anos em que partilhámos desde as lutas estudantis...

Matou um Homem com três metros de altura

José Dias Coelho vem de Pinhel para Lisboa com o olhar carregado pelas cores sombrias que cobriam um país pobre, de homens violentamente explorados, calados pela repressão policial, condenados à ignorância por um regime brutal de violências dissimuladas...