Comentário

UE ao serviço dos monopólios

Maurício Miguel

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As notícias sucedem-se ao ritmo nervoso da degradação da situação económica, política e social na UE. Não há dia em que não surjam novas e mais graves notícias de uma crise que se aprofunda e que está a ser aproveitada para tentar impor soluções reaccionárias à marcha da História. A situação é complexa, não é mais possível esconder a recessão económica e a crise estrutural por que passa a economia real, agravada pela crise sistémica do capitalismo e pelas políticas anti-sociais que estão em marcha na UE. Os limites impostos ao crescimento económico pela escassez futura de energia e matérias-primas para produzir mais e mais rapidamente bens de consumo, assim como uma maior apropriação da mais-valia roubada ao trabalho, não permitem as taxas de lucro suplementares que os grandes monopólios, particularmente os monopólios financeiros, necessitam. O momento exige a concertação entre as potências capitalistas da UE, que tentam forçar ajustamentos estruturais na base económica e na superstrutura política. A UE assume um papel fundamental para essa «mudança». Construída nas costas dos povos e contra os povos, beneficia da activa conivência das burguesias nacionais que foram transferindo o que apenas aos povos pertence: a soberania nacional. Alavanca determinante para a realização dos anseios e aspirações dos povos e à expansão do domínio do imperialismo, a soberania foi sendo transferida no plano formal para a estruturação de um poder político supranacional, distante e não identificado com o caminhar colectivo dos povos. A UE transformou-se numa estrutura de poder impeditiva da sua participação e do seu envolvimento nos processos de decisão, acentuando o seu carácter de classe como instrumento de exploração do trabalho e de dominação ideológica. Empobrecendo os trabalhadores e o povo, os monopólios e o poder político ao seu serviço procuram vulnerabilizá-lo e torná-lo mais susceptível de manipulação política e ideológica contra os seus próprios interesses. Quanto mais se aprofunda a crise da UE, maior é a tendência para a criação de mecanismos de subordinação das soberanias e de imposições violentas contra quem trabalha. Os ritmos intensos e o grau de interdependência gerados pela internacionalização da economia dominada pelos monopólios, particularmente pelos monopólios financeiros, não se coadunam com a construção ou o aprofundamento de processos democráticos. Para os monopólios, «tempo é dinheiro» e as decisões têm de seguir os seus ritmos e interesses contraditórios. E estes não são compatíveis com a consciencialização social e com liberdades e direitos democráticos. E muito menos com a aceitação da expressão popular, como aconteceu na França e na Holanda e posteriormente na Irlanda. Nem são compatíveis com os ciclos eleitorais da democracia burguesa, como aconteceu na Grécia e na Itália onde os monopólios financeiros ditaram quem seriam aqueles que melhor asseguravam os seus interesses.

A democracia burguesa já não serve às grandes potências e aos monopólios. A crise proporcionou as condições económicas, políticas e ideológicas para que as grandes potências tentem consolidar o seu domínio sobre países e milhões de pessoas. O programa de agressão ao povo português que o FMI e a UE nos aplicam, com a activa cumplicidade do Governo e do PS, é essa forma cínica das grandes potências da UE imporem aos povos de outros países aquilo que teriam mais dificuldade em impor aos seus povos, extraindo assim lucros fabulosos deste roubo organizado. O medo do colapso do euro ou da própria UE e a manipulação ideológica em torno deles inserem-se nessa perspectiva. A urgência de encontrar soluções faz emergir as propostas mais reaccionárias, que independentemente de virem ou não a ser concretizadas, põem em evidencia a arrogância antidemocrática das grandes potências, particularmente da Alemanha e da França. Não satisfeitas com terem comido a carne do lombo dos países de economias mais frágeis e de já lhes estarem a raspar os ossos, querem agora impor-lhes, entre outras coisas, mecanismos ditos de «disciplina orçamental», cuja consequência imediata será a perda de soberania nesta questão determinante, o fim da independência nacional e a regressão social em países como Portugal ao nível dos países do Terceiro Mundo.



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