Distúrbios

Henrique Custódio

A notícia fez primeiras páginas em jornais e televisões: o SIS e a PSP estão a «preparar-se» para uma «onda de agitação» que «prevêem» para o País.

Mais concretamente, «um grupo de comandantes da PSP, por ordem da direcção nacional desta polícia, elaborou um documento designado “Avaliação prospectiva de contestação social” onde se prevê um cenário de acções violentas motivadas pela contestação às medidas de austeridade impostas pelo Governo» (sic SIC), falando-se, mesmo, da «possibilidade de ocorrerem os piores tumultos sociais dos últimos 30 anos».

Para rematar, tudo isto foi caucionado pelo sr. primeiro-ministro, ao decretar há cerca de dois meses que «não se deve confundir o direito à greve com aqueles que pensam que podem incendiar as ruas e trazer o tumulto para o País».

E assim se monta o espectáculo: o primeiro-ministro «avisa», o SIS e a PSP perfilam-se como guarda pretoriana do Governo e as Redacções reboam pelo País as «previsões» da polícia sobre futuros desacatos, tal como a sua prontidão em os reprimir.

Parece que só falta, mesmo, que as manifestações comecem para que a repressão policial desencadeie a «prevenção» dos «incêndios nas ruas», malhando indiscriminadamente nos manifestantes.

Posto isto, convém esclarecer algumas coisas.

A primeira refere-se à PSP, cujos actuais comandos – necessariamente nascidos antes, mas formados depois do 25 de Abril – parecem ter esquecido que chefiam uma força vocacionada para a defesa dos cidadãos e da cidadania, que essa vocação foi recuperada pela Revolução de Abril e que essa recuperação resgatou a PSP do temido e odiado papel de força repressiva ao serviço do fascismo.

Será que a PSP já encetou o regresso ao papel de guarda pretoriana do Governo?

A segunda refere-se a Passos Coelho e às suas ameaças aos «incêndios das ruas».

Primeiro, quem julga ele enganar com a sua declaração de guerra à contestação social, antecedida de estulta presignação ao «direito à greve e à manifestação»?

Ninguém, pois toda a gente sabe – e saberá, em memória futura – que Passos Coelho não ignora que a sua política de destruição do regime democrático saído de Abril vai gerar muito sofrimento e revolta. Daí prevenir o disfarce da repressão – que também está disposto a ordenar –, camuflando-a antecipadamente de «combate a incêndios e tumultos».

Segundo, nos seus cursos tardios de Economia (ou lá o que é) o chanceler Coelho não aprendeu nada sobre as consequências sociais da miséria imposta aos povos? Só em Portugal tem exemplos em barda de revoltas populares nas ruas, desde as profundezas da nacionalidade, ao longo da I Dinastia e prenúncios do Interregno, até ao próprio 25 de Abril, que o chanceler testemunhou ter sido não apenas um «incendiar de ruas», mas a queima pública, e nacional, de um regime inteiro – o ignóbil regime fascista.

Do qual, pelos vistos, o chanceler já manifesta indisfarçáveis tiques.



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