Uma curiosa coincidência

Filipe Diniz

O inevitável professor Marcelo foi entrevistado (jornal I, 24.09.11). Embora o jornal puxe para a primeira página a afirmação de que António Barreto «é uma hipótese possível para candidato a Belém», esse nome (deseja-se que, com esta recomendação, fique ainda mais queimado do que já está) é apenas um entre vários outros mencionados, incluindo, com suficiente força, o do próprio. No essencial, o que a entrevista procura inculcar é que a disputa política tem essas balizas eleitorais: as eleições europeias de 2014, as presidenciais de 2016.

O BE (não se veja nesta referência qualquer intenção de comentar a sua vida interna) decidiu convocar uma convenção nacional para o final de 2012. Essa escolha é justificada pela realização de eleições autárquicas em 2013, o que dá início a «um novo ciclo político».

Verifica-se assim que MRS e BE partilham uma concepção semelhante acerca dos «ciclos políticos»: «ciclos políticos» são ciclos eleitorais. A disputa política tem a sua expressão fundamental nas disputas eleitorais.

Trata-se, no essencial, daquilo que Manuel Gusmão («O Militante» n.º 314, Set/Out 2011) designa como a idolatria da representação que caracteriza a ideologia burguesa. Mas trata-se, sobretudo, da mediação das opções eleitorais em tais termos que elas surjam isoladas ou em contradição com os problemas reais dos representados e com as políticas reais que os atingem. Contra as quais o tempo certo para o combate político é o tempo de hoje.

É nesses termos que a política desce ao grau zero: perante a hipótese de o PS integrar um governo PSD/CDS alargado, MRS comenta que há algumas condições para que tal se verifique: «António José Seguro é íntimo de Miguel Relvas e é amigo de Passos Coelho».

Tivesse ele lembrado os longos anos de convergência entre PS, PSD e CDS no prosseguimento da política de direita e teria acertado em cheio. Porque é esse o «ciclo político» que está em causa.

E a tarefa política essencial que se coloca aos trabalhadores e ao povo é, tão cedo quanto possível, acabar de vez com esse ciclo antipopular, antidemocrático e antinacional.

A grande jornada de 1 de Outubro será um muito importante passo nesse sentido.



Mais artigos de: Opinião

Sonhos e pesadelos

Os 100 dias do Governo de Passos Coelho «Tesoura» – ou será melhor dizer gadanha, já que é mesmo de ceifar vidas que se trata? – serviram de pretexto a múltiplas análises e avaliações de desempenho a cargo dos comentadores do costume. De uma forma...

1 de Outubro<br>O que está em causa

No próximo sábado as cidades do Porto e de Lisboa serão palco de duas grandes manifestações convocadas pela CGTP-IN contra o empobrecimento e as injustiças, pela defesa do direito ao emprego, ao salário, às pensões e à Segurança Social.

A colossal farsa

As contas ocultas da Madeira, o colossal buraco financeiro, enfim, as tradicionais jardineirices – velhas de décadas e sempre vistas com incomensurável compreensão por todos os presidentes da República e por todos os governos – têm sido notícia destacada em todos os...

O domínio da mentira

No tempo da luta contra a «ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latifundiários», o que o fascismo proclamava era em princípio mentira e no pólo oposto ficava a verdade. Agora, nas condições do domínio do capital financeiro...

Espiral

A crise do centro capitalista agrava-se rapidamente. Todos os dias há novos e importantes acontecimentos. Na UE, os planos da troika cumprem a sua missão: salvar o grande capital financeiro, ajudá-lo a pilhar os recursos e riquezas dos países vítimas, aumentar a exploração...