Um luxo de luz

Margarida Botelho

A troika estrangeira marcou para sexta-feira passada uma conferência de imprensa para divulgar a sua apreciação sobre o grau de cumprimento do «memorando de entendimento» – que é como chamam ao programa de agressão e ingerência externa que impuseram ao povo. Dizem os comentadores, o Governo e o PS que temos que nos habituar a estas conferências de imprensa: os senhores virão regularmente à televisão pôr e dispor do País, inchados dos milhões que dizem que nos «emprestam», e nós devemos comer, calar, agradecer a aplaudir.

O ministro das
Finanças, na sua qualidade de porta-voz da troika lusa, marcou também uma conferência de imprensa para o mesmo dia, umas horas antes, para anunciar os aumentos da electricidade e do gás natural. Uma atitude sabuja, pouco própria do Governo de um país soberano e digno, a lembrar aquelas histórias das crianças que, com medo de apanhar do rufia do recreio, batem por antecipação nos mais pequenos.

Mais papista que o Papa, a querer mostrar serviço, o Governo quis dizer à troika estrangeira que está tão, mas tão submisso que até antecipa medidas. A passagem do gás e da luz para o escalão mais elevado do IVA estava prevista para 2012. Antecipando já para Outubro, o Governo conta encaixar 100 milhões de euros no último trimestre – que decerto darão muito jeito para pagar mais alguma facturinha do BPN, já que roubar o subsídio de Natal aos trabalhadores, pelos vistos, nem sequer cobre tudo.

Trata-se de um aumento brutal, a juntar ao que já se tinha verificado em Janeiro. Juntos, atingem os 20,4% no espaço de um ano, tornando Portugal o país com as tarifas eléctricas mais elevadas do espaço comunitário. O impacto para as famílias e para as micro, pequenas e médias empresas é enorme, e a dimensão do golpe só é perceptível se lhe somarmos os outros aumentos todos (nos combustíveis, nos transportes, nas taxas de juro, nas rendas de casa, nas taxas moderadoras, nos medicamentos, nos produtos que vão aumentar a seguir porque a luz e o gás aumentaram agora, etc.) e se contabilizarmos os cortes todos (nas prestações e apoios sociais, nos salários, nas reformas, nos serviços públicos, etc.).

E perante isto? É preciso dar voz e corpo à indignação, ao protesto e à luta, com a certeza que está nas nossas mãos dar a volta a isto.



Mais artigos de: Opinião

Outro desígnio

Basicamente, Passos Coelho foi à festa do PSD no Pontal dizer três coisas: que os portugueses têm um desígnio nacional a cumprir; que o Governo se prepara para fazer um corte na despesa sem paralelo nos últimos 50 anos; e que o «caminho da conflitualidade» não tem lugar...

É da história!

Neste fim-de-semana regressámos aos bons velhos tempos. Uma festarola em grande no Pontal, com direito à presença do líder do PSD e primeiro- ministro, o que já não acontecia desde meados dos anos 90. A comunicação social exultou, foi aos baús do arquivo...

In(digente)formação

A 8 de Agosto, foram os portugueses «informados» de que tinham os transportes mais baratos da Europa. No mesmo dia, no i, no Jornal de Negócios, no DN, no JN, no Público, no Correio da Manhã e até na Bola, com replicação imediata nas rádios e nas...

Serviços de Informações,<br>crise cíclica e doença crónica

O Sistema de Informações da República (SIRP) padece de uma doença crónica, que decorre da sua desconformidade congénita e progressivamente agravada com o regime democrático constitucional, no seu modelo, orgânica, funcionamento, controlo e fiscalização. É um mal degenerescente e tendencialmente insanável, com surtos infectocontagiosos, que atingem profundamente a própria democracia, e crises cíclicas, como a que estamos a viver, e que, no actual quadro, ameaçam tornar o SIRP, a curto prazo, democraticamente irreformável.

A ferro e fogo

O primeiro-ministro inglês não tem dúvidas. As revoltas nas ruas das cidades inglesas são apenas «criminalidade». Resultam dum «colapso moral» e de: «Irresponsabilidade. Egoísmo. Comportamentos que ignoram as consequências dos próprios actos....