Um luxo de luz
A troika estrangeira marcou para sexta-feira passada uma conferência de imprensa para divulgar a sua apreciação sobre o grau de cumprimento do «memorando de entendimento» – que é como chamam ao programa de agressão e ingerência externa que impuseram ao povo. Dizem os comentadores, o Governo e o PS que temos que nos habituar a estas conferências de imprensa: os senhores virão regularmente à televisão pôr e dispor do País, inchados dos milhões que dizem que nos «emprestam», e nós devemos comer, calar, agradecer a aplaudir.
O ministro das Finanças, na sua qualidade de porta-voz da troika lusa, marcou também uma conferência de imprensa para o mesmo dia, umas horas antes, para anunciar os aumentos da electricidade e do gás natural. Uma atitude sabuja, pouco própria do Governo de um país soberano e digno, a lembrar aquelas histórias das crianças que, com medo de apanhar do rufia do recreio, batem por antecipação nos mais pequenos.
Mais papista que o Papa, a querer mostrar serviço, o Governo quis dizer à troika estrangeira que está tão, mas tão submisso que até antecipa medidas. A passagem do gás e da luz para o escalão mais elevado do IVA estava prevista para 2012. Antecipando já para Outubro, o Governo conta encaixar 100 milhões de euros no último trimestre – que decerto darão muito jeito para pagar mais alguma facturinha do BPN, já que roubar o subsídio de Natal aos trabalhadores, pelos vistos, nem sequer cobre tudo.
Trata-se de um aumento brutal, a juntar ao que já se tinha verificado em Janeiro. Juntos, atingem os 20,4% no espaço de um ano, tornando Portugal o país com as tarifas eléctricas mais elevadas do espaço comunitário. O impacto para as famílias e para as micro, pequenas e médias empresas é enorme, e a dimensão do golpe só é perceptível se lhe somarmos os outros aumentos todos (nos combustíveis, nos transportes, nas taxas de juro, nas rendas de casa, nas taxas moderadoras, nos medicamentos, nos produtos que vão aumentar a seguir porque a luz e o gás aumentaram agora, etc.) e se contabilizarmos os cortes todos (nas prestações e apoios sociais, nos salários, nas reformas, nos serviços públicos, etc.).
E perante isto? É preciso dar voz e corpo à indignação, ao protesto e à luta, com a certeza que está nas nossas mãos dar a volta a isto.