Protesto no complexo industrial de Braga

Multinacionais sem crise

Desde 2008, a Delphi e a Bosch Car Mul­ti­media têm re­gis­tado lu­cros muito ele­vados, mas re­cusam au­mentos sa­la­riais dignos e pra­ticam, na as­sociação pa­tronal, o boi­cote à ne­gociação co­lec­tiva.

Re­sistir e lutar é o ca­minho para conter o au­mento da ex­plo­ração

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Os altos lu­cros ob­tidos, mesmo em anos de crise, são uma ca­rac­te­rís­tica comum às em­presas fa­bri­cantes de ma­te­rial eléc­trico e elec­tró­nico, sector onde pre­do­minam as mul­ti­na­ci­o­nais. Mas a as­so­ci­ação pa­tronal ANIMEE, em cuja di­recção aquelas duas em­presas têm cargos de vo­gais, não res­ponde à pro­posta de re­visão sa­la­rial que os sin­di­catos da CGTP-IN apre­sen­taram em Abril e des­res­peita o con­trato co­lec­tivo de tra­balho e a le­gis­lação.

Para de­nun­ciar pu­bli­ca­mente esta si­tu­ação e para apelar à luta dos tra­ba­lha­dores em de­fesa dos ca­dernos rei­vin­di­ca­tivos apre­sen­tados ao nível das em­presas, o SITE Norte e a Fi­e­qui­metal pro­mo­veram no dia 17, sexta-feira, uma con­cen­tração no Com­plexo Grundig, em Braga, onde se si­tuam as fá­bricas da Bosch, da Delphi e da Fehst Com­po­nentes.

Na ini­ci­a­tiva, re­a­li­zada ao fim da manhã, par­ti­ci­param mais de uma cen­tena de ac­ti­vistas sin­di­cais e tra­ba­lha­dores destas três em­presas. Na moção apro­vada e que iria de­pois ser en­tregue a cada uma das ad­mi­nis­tra­ções, exige-se res­posta fa­vo­rável aos ca­dernos rei­vin­di­ca­tivos já apre­sen­tados pela es­tru­tura sin­dical, re­al­çando a re­cla­mação de «au­mentos sa­la­riais dignos, que su­perem o in­su­fi­ci­ente au­mento sa­la­rial apli­cado uni­la­te­ral­mente».

Tra­ba­lha­dores, sin­di­cato e fe­de­ração exigem ainda «o res­peito in­te­gral dos di­reitos con­sa­grados no con­trato co­lec­tivo e na le­gis­lação em vigor». Das ad­mi­nis­tra­ções das duas em­presas di­ri­gentes da ANIMEE, é rei­vin­di­cado que, por si e na as­so­ci­ação pa­tronal, «adoptem uma pos­tura de res­peito pela ne­go­ci­ação co­lec­tiva e res­pondam à pro­posta apre­sen­tada pelos sin­di­catos da Fi­e­qui­metal».

Na con­cen­tração foi afir­mada a de­ter­mi­nação de «re­a­lizar as ac­ções sin­di­cais que se re­velem ne­ces­sá­rias, com vista à nor­ma­li­zação do pro­cesso ne­go­cial, in­ter­rom­pido pelo pa­tro­nato». Da­niel Sam­paio, co­or­de­nador do SITE Norte, ad­mitiu ao Avante! que uma acção deste gé­nero possa ter lugar bre­ve­mente, à porta de uma em­presa do sector eléc­trico no Porto.

Se a as­so­ci­ação pa­tronal é acu­sada de vi­o­lação do Có­digo do Tra­balho, por negar o di­reito de ne­go­ci­ação atri­buído aos sin­di­catos, o Mi­nis­tério do Tra­balho é cri­ti­cado por não pro­mover a con­tra­tação co­lec­tiva, assim fal­tando à sua obri­gação legal.

As ad­mi­nis­tra­ções da Delphi e da Bosch Car Mul­ti­media «apro­veitam-se do ac­tual con­texto eco­nó­mico e so­cial, al­ta­mente com­plexo, para con­ti­nu­arem a vi­olar os di­reitos» dos tra­ba­lha­dores, con­sa­grados no con­trato co­lec­tivo subs­crito pelos sin­di­catos da CGTP-IN e que se mantém em vigor.

Na con­cen­tração foi re­a­fir­mada a re­jeição do con­trato que a ANIMEE ce­le­brou com «os amigos do pa­tro­nato» e que abre portas a que o tra­balho ex­tra­or­di­nário deixe de ser pago como tal, a que acabem as diu­tur­ni­dades e a que fi­quem «le­ga­li­zadas» as si­tu­a­ções de des­res­peito de di­reitos, como a as­sis­tência in­dis­pen­sável à fa­mília, o tra­balho noc­turno e su­ple­mentar ou as con­sultas mé­dicas – como ex­plicou Amélia Lopes, di­ri­gente do sin­di­cato e da CGTP-IN.

Foi também cri­ti­cado o acen­tuado agra­va­mento das con­di­ções de pre­ca­ri­e­dade, nos úl­timos anos, e foi re­cu­sada a jus­ti­fi­cação de au­mento da com­pe­ti­ti­vi­dade para a in­tro­dução de mai­ores ritmos de tra­balho. Esta visa apenas re­duzir os sa­lá­rios dos tra­ba­lha­dores e res­tringir di­reitos, fo­men­tando prá­tica que «au­mentam de forma as­sus­ta­dora as do­enças pro­fis­si­o­nais» no sector.

Na moção são de­fen­didas «al­ter­na­tivas para au­mentar a pro­du­ti­vi­dade e a qua­li­dade dos pro­dutos»: o au­mento real dos sa­lá­rios, a me­lhoria das con­di­ções de tra­balho, uma me­lhor or­ga­ni­zação dos mé­todos de pro­dução, a di­mi­nuição dos ritmos de tra­balho e o res­peito pelos di­reitos dos tra­ba­lha­dores.



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