Capatazes e trafulhas

Carlos Gonçalves

É ile­gí­tima e ina­cei­tável a ope­ração de brutal im­po­sição ao nosso País do pacto de sub­missão, di­tado pelos ban­queiros do roubo or­ga­ni­zado, pelo ca­pital fi­nan­ceiro in­ter­na­ci­onal, pela UE, BCE e FMI, que está de­ci­dido pelos seus man­dantes para me­ados de Maio e para – dizem eles – per­durar por muitos (e des­gra­çados) anos. As suas evi­dentes con­sequên­cias mais subs­tan­ciais são a guerra de ex­ter­mínio dos di­reitos so­ciais e ci­vi­li­za­ci­o­nais e a brutal de­la­pi­dação da pro­dução, ri­queza e so­be­rania na­ci­onal. Por isso este ul­ti­mato deve e pode ser re­cha­çado. Ainda é tempo.

Mas, a con­cre­tizar-se, o pacto con­du­zirá Por­tugal a um beco sem saída, do ponto de vista eco­nó­mico e so­cial, tor­nando ainda mais ur­gente e pos­sível a mu­dança, uma nova sín­tese, uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda. Este pacto, sem honra nem ver­gonha, aca­bará, mais cedo que tarde, ina­pe­la­vel­mente, der­ro­tado pela luta.

Da nossa parte, é agora ur­gente e vital o es­cla­re­ci­mento, a in­ter­venção e a luta. Do ponto de vista dos par­tidos da po­lí­tica dos ban­queiros, PS, PSD e CDS, e dos res­pec­tivos lí­deres, que se per­filam como can­di­datos a ca­pataz do FMI – es­pécie de Mi­guel de Vas­con­celos dos dias de hoje –, vale tudo para con­su­marem o crime.

Para eles, por muito que mis­ti­fi­quem, em 5 de Junho, trata-se de eleger o go­ver­nador de­le­gado do FMI e do BCE em Por­tugal, com a ta­refa das ta­refas – fazer cum­prir a po­lí­tica da in­ge­rência ex­terna –, e ainda com a pos­si­bi­li­dade de se armar em ví­tima, como se não lhe as­sis­tissem res­pon­sa­bi­li­dades.

Vale tudo pela co­menda de chan­celer do FMI, ainda que se per­file a pos­si­bi­li­dade de um ou mais vices numa exe­crável co­li­gação de sal­vação (anti-)na­ci­onal da po­lí­tica de di­reita. Vale até «tirar olhos» e todas as tra­fu­lhices.

O epi­sódio F. Nobre é apenas isso, uma tra­fu­lhice ao nível do Conde de Abra­nhos, mas que re­vela a sem ver­gonha de So­ares e Louçã, que agora de­nun­ciam a «fraude» para es­conder que an­daram com ele ao colo, ou a hi­po­crisia de Alegre e PS, que pro­testam contra a «falta de ética», para es­conder o que entre eles e o BE têm vindo a co­zi­nhar.

Não há tra­fu­lhas ou ca­pa­tazes que possam im­pedir que avance o es­cla­re­ci­mento e o com­bate contra a in­ge­rência. Não ao FMI!



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