Cai a máscara do CDS

Bernardino Soares (Membro da Comissão Política)

Se há coisa que não oferece dúvidas é que o CDS sempre esteve totalmente comprometido com a política de direita. Mas também é verdade que vem ensaiando uma meticulosa operação de branqueamento das suas verdadeiras políticas, sempre bem apoiada mediaticamente.

Foi com o CDS no Governo que se fez o negócio dos submarinos

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Procuram fazer esquecer que o CDS esteve recentemente no governo, com o PSD, governos em que se aprovou o Código do Trabalho (depois ainda alterado para pior pelo PS), pela mão de Bagão Félix, ministro do CDS, conselheiro de Cavaco Silva e actual figura de referência de Paulo Portas; se fez, entre outros, o negócio dos submarinos; se aplicou um corte brutal no investimento público; se lançaram parcerias público-privadas (que agora o CDS renega), designadamente os hospitais de Cascais e Braga; se diminuíram os salários da Administração Pública; se impôs o pagamento especial por conta de forma cega aos pequenos empresários.

Vemos frequentemente o CDS, e em particular o seu líder, a intervir sobre a agricultura. A sua aceitação da política da União Europeia (UE) que tem destruído a nossa capacidade produtiva, seria suficiente para desmentir tais desvelos pela agricultura nacional. Mas vamos mais ao concreto. É que foi durante os governos PSD/CDS que se concretizou o processo, iniciado é certo pelo PS (sempre presente!), de desligamento das ajudas da produção, permitindo receber sem produzir. E não vale invocar os procedimentos europeus; o CDS esteve de acordo com os novos mecanismos de votação na UE que, ao excluir a possibilidade de invocar o interesse vital de um Estado e logo a possibilidade de veto, abriu caminho a decisões como o fim a prazo das quotas leiteiras, que é um desastre para o nosso País.

Vemos também o CDS e o seu líder a invectivar o Código Contributivo. E é verdade que o Código Contributivo penaliza injustamente muitos sectores, mesmo introduzindo melhorias nas obrigações do patronato, como é o caso do alargamento da contribuição aos prémios e outros extras, formas usadas para fugir ao pagamento diminuindo o salário base. Foi por isso que o PCP apresentou propostas para adequar o regime dos agricultores e dos pescadores às necessidades concretas, bem como em relação aos recibos verdes. Em relação aos falsos recibos verdes, aliás, o PCP propôs o que de facto resolve o problema – a sua conversão em contratos de trabalho. Pois nem em relação a estes, nem em relação aos agricultores e pescadores, o CDS alguma vez deu o seu voto favorável às propostas do PCP. Mais ainda, o CDS nunca sequer apresentou qualquer proposta a não ser o adiamento da sua entrada em vigor, preocupado certamente com as novas obrigações do patronato e não com os trabalhadores.

 

CDS apoia entrada do FMI

 

Para além deste caso o CDS votou contra outras propostas do PCP, casos por exemplo da justa tributação da banca, dos bens de luxo, das transacções para offshores ou dos dividendos antecipados da PT e outras grandes empresas. A preocupação com a «justiça social» do CDS acaba quando se toca nos interesses do grande capital.

O CDS apoiou alguns dos principais instrumentos da política de direita nesta legislatura. E quando não o fez formalmente foi porque a anuência do PSD o tornou dispensável, permitindo a manobra de demarcação. O CDS viabilizou por exemplo o orçamento para 2010, com o seu ataque aos salários, ao investimento público, aos serviços públicos em geral, mantendo todos os benefícios à banca e aos grupos económicos.

E se prova faltasse, aí está o apoio do CDS à ingerência interna do FMI e da UE a comprovar a sua verdadeira natureza. Pode agora Paulo Portas levar amplas delegações, cheias de pastas e dossiês, aos encontros com o Governo e a troika. Não poderá disfarçar o facto inegável de que o seu apoio ao assalto do FMI e da UE à nossa soberania, à nossa economia, aos recursos públicos e aos direitos do nosso povo, é o que marca no fundamental a posição do CDS nas eleições de 5 de Junho.

Está na hora de desmascarar o discurso do CDS, que esconde as suas responsabilidades e procura desligar as questões concretas das opções essenciais e determinantes.

Não há defesa da agricultura sem rejeição da PAC e retoma dos instrumentos de decisão entregues à União Europeia e sem o combate às imposições da grande distribuição; não há defesa das pequenas empresas sem enfrentar a banca e as grandes empresas do sector da energia, responsáveis pelos principais constrangimentos à sua sobrevivência; não há melhoria da situação dos reformados no presente, sem outra distribuição da riqueza, que colha mais receitas nos lucros dos grupos económicos, e no futuro, sem uma melhoria dos salários de hoje.

Só mesmo com o reforço da CDU se conseguirá dar mais força à exigência de outra política.



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