Cá fora ou lá dentro
A nova direcção de informação da TVI que entra em funções esta semana estreia-se com «uma novidade»: a entrevista, na primeira semana do seu exercício, com os quatro principais banqueiros, rematada por uma conversa com José Sócrates. A notícia suscita um inevitável comentário mas, sobretudo, dois reparos e uma generosa sugestão.
Um comentário, inevitável, face às notícias que apresentavam como a «novidade» da promissora estreia da nova equipe da TVI o alinhamento agora divulgado. Sem se pretender fazer figura de «desmancha-prazeres» não se vislumbra onde se possa ver novidade em casos que, como o aqui citado, se podem traduzir na popular ideia de «quem paga, dispõe e manda».
Um par de reparos, indispensáveis, face à falta de cuidado posto no agora anunciado alinhamento daquela estação: um primeiro, para o que revela de ingrata desconsideração para com outros e tão prestigiados colegas dos agora escolhidos. Deixar de fora os responsáveis do BPN ou do BPP dificilmente encontra explicação razoável em alegadas dificuldades de disponibilidade ou falsos decoros. Desde logo porque, se ainda tal fosse necessário, não se revelaria dificuldade insuperável, como a experiência de inúmeras reportagens testemunha, fazer entrevistas a partir de estabelecimentos prisionais e, depois, porque qualquer precaução ética que pudesse ser invocada para serem aqueles e não estes, fenece naquele princípio dialéctico do «hoje estás cá fora, amanhã podes lá estar dentro»; um segundo reparo, para a aparente desfeita e não menos ingrata omissão que, seguramente a citada Estação não tardará a reparar, a ausência de Passos Coelho constitui em tão promissor alinhamento.
E por último, a sugestão para que não se perca a oportunidade de tão nobre empreendimento contribuir para perceber porque é que em tempos de «crise e sacrifícios» os banco continuam a amassar lucros na inversa proporção do que pagam em impostos e, já agora, sugerir aos sujeitos em presença, em coerência com o desejo que têm manifestado de verem impostos ainda maiores desvalorizações nos salários dos trabalhadores, para se disporem a viver com o salário mínimo nacional e de preferência em regime de recibo verde.