Um passo para a mudança

José Casanova

É no­tório – e seria apenas ri­dí­culo se não con­ti­vesse os pe­rigos que contém – o es­forço a que pro­cedem os par­tidos da po­lí­tica de di­reita no sen­tido de apagar dos seus cur­rí­culos aquilo que tem sido o es­sen­cial da in­ter­venção de cada um deles em pra­ti­ca­mente toda a sua exis­tência.

É um facto in­con­tes­tável que eles, e só eles, estão no poder há trinta e cinco anos – através de todas as com­bi­na­ções e ali­anças pos­sí­veis entre si e re­pre­sen­tando, à vez, a con­sa­bida farsa da «opo­sição» e da «al­ter­na­tiva».

É igual­mente in­con­tro­verso que eles, e só eles, têm le­vado por di­ante, du­rante todo esse tempo, a po­lí­tica que con­duziu o País à dra­má­tica si­tu­ação em que se en­contra.

Também não ofe­rece qual­quer dú­vida que todos eles, e só eles, pelo que fi­zeram e pelo que se pro­põem fazer, nada mais têm para «com­bater a crise» do que apro­fundar a crise, apro­fun­dando todas as me­didas que estão na sua origem.

Assim, fingir, agora, que nada têm a ver com isso – isto é, fingir que nada têm a ver com uma si­tu­ação com a qual eles, e só eles, têm tudo a ver; apre­sen­tarem-se a si pró­prios como al­ter­na­tiva po­lí­tica e apre­sen­tarem a po­lí­tica de di­reita como po­lí­tica al­ter­na­tiva – isto é, propor o mais do mesmo fin­gindo propor algo de novo quer em ma­téria de po­lí­tica a exe­cutar quer em ma­téria de exe­cu­tantes dessa po­lí­tica; apre­sen­tarem como pro­jecto para «re­solver a crise» a con­ti­nu­ação da po­lí­tica que há três dé­cadas e meia andam a fazer – isto é, curar o mal adi­ci­o­nando-lhe mais mal; tudo isso, cons­titui, para além de uma exu­be­rante de­mons­tração de au­sência total de ver­gonha, um cla­mo­roso in­sulto à in­te­li­gência e à sen­si­bi­li­dade dos por­tu­gueses.

É certo que contam com os média do­mi­nantes para passar a ne­ces­sária es­ponja sobre todo esse pas­sado e para alindar o fu­turo: os co­men­ta­dores, ana­listas e po­li­tó­logos de ser­viço à po­lí­tica de di­reita não têm mãos a medir na di­fusão da ideia de que «não vale a pena dis­cernir quem são os res­pon­sá­veis» pela si­tu­ação ac­tual – o que «in­te­ressa» é... que esses res­pon­sá­veis possam pros­se­guir a sua obra de afun­da­mento do País em que todos eles se re­ve­laram mes­tres...

Mas os tra­ba­lha­dores e o povo têm nas suas mãos a pos­si­bi­li­dade de, no dia 5 de Junho, dar um passo de­ci­sivo para a mu­dança.



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