Guerra de agressão à Líbia

Imperialistas semeiam novo atoleiro

O exército líbio rechaçou o avanço das forças rebeldes no território, que continua a ser fustigado pelos bombardeamentos imperialistas com um saldo de dezenas de mortos civis.

«40 pessoas morreram depois de bombardeamentos sobre Tripoli»

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Foto LUSA

Depois de dias de avanço sobre as principais cidades da Líbia, impulsionados pelos bombardeamentos imperialistas, os rebeldes foram obrigados a recuar em toda a linha fruto da reacção do exército regular do país.

Se nos primeiros dias da ofensiva iniciada pelos EUA, França e Grã-Bretanha, aliados às petromonarquias árabes, e, posteriormente, continuada pela NATO, a derrota das forças fiéis ao coronel Muammar Kahdafi parecia iminente, anteontem as informações divulgadas davam conta de que os insurrectos haviam sido empurrados para Leste até aos limites de Ajdabiya.

Fortes combates prosseguiam pelo controle da cidade de Misratah, cercada pelo exército líbio e onde os insurrectos permanecem apenas com o auxílio da Aliança Atlântica, que castiga as tropas de Tripoli a cada tentativa de assalto. Ras Lanuf já mudou de mãos quatro vezes desde o início do conflito e encontra-se dominada pelo exército, bem como Brega, no fecho desta edição.

O avanço do contingente leal ao governo da Líbia deve-se à indigência dos rebeldes, mas, também, ao uso por parte do exército de tácticas que lhe permitem maior mobilidade, rapidez e capacidade furtiva aos intensos ataques imperialistas, técnicas ministradas em 2009 pelas forças especiais britânicas quando Kahdafi era ainda tido pelas potências capitalistas como um aliado no combate ao terrorismo.

 

Crimes comprovados

 

Entre os últimos dias de Março e os primeiros de Abril, a coligação despejou sobre a Líbia mais de 190 mísseis Tomahawk e cerca de 450 bombas lançadas por aviões, calculou a cadeia norte-americana ABC.

Entre as vítimas dos bombardeamentos estão dezenas de civis, elevando para quase uma centena e meia ao número de mortos civis na sequência das operações da NATO. Só a meio da semana passada, pelo menos 40 pessoas terão morrido em consequência dos raides sobre Tripoli, denunciou o representante do Vaticano na capital líbia, Giovanni Martinelli.

«Não me venham dizer que se bombardeia para defender a população civil. Por mais que sejam precisos os bombardeamentos contra objectivos militares, claramente envolvem também os edifícios civis circundantes. Sei que pelo menos dois hospitais sofreram danos indirectos dos bombardeamentos. Saiba-se que as acções militares estão a causar vítimas entre os mesmos civis que se quer proteger com estas acções», disse o bispo à agência católica Fides.

No mesmo sentido, informações veiculadas por agências noticiosas internacionais indicam que pelo menos sete menores e adolescentes terão morrido durante um bombardeamento em Brega, e outras 25 pessoas ficaram feridas na sequência da mesma operação.

À sanha criminosa da NATO não escapam nem os rebeldes, que sexta-feira perderam cerca de 30 dos seus homens depois de um ataque perpetrado por um avião francês, informou a Al Jazeera.

Por outro lado, avolumam-se as preocupações das autoridades líbias quanto às consequências dos ataques imperialistas, já que, por exemplo, a destruição do aqueduto no eixo Bengazi-Sirte colocaria em causa o abastecimento de água potável a cerca de 70 por cento dos líbios, somando dificuldades nos aglomerados populacionais onde já se registam carências de todo o género.

Entretanto, dois professores e investigadores que se opõem à agressão à Líbia sustentam que as bombas contêm urânio empobrecido e exigem esclarecimentos cabais por parte da NATO, já que o uso desta substância provoca danos duradouros que fustigam em particular a população civil.

 

Treino, armas e comunicações

 

Em face da nova regressão rebelde, multiplicam-se as afirmações dos principais responsáveis imperialistas sobre a possibilidade de fornecimento de armas aos insurgentes. O mais significativo facto nesse aspecto prende-se com a revelação da Reuters, que garante que Barack Obama já terá assinado um memorando autorizando a entrega de armamento.

O assunto é polémico e levanta reservas entre políticos e altos quadros militares norte-americanos, que, se têm certezas quanto aos chefes dos rebeldes, o mesmo não parecem poder dizer cabalmente quanto à lealdade dos combatentes.

Isso mesmo admitiu a secretária de Estado Hillary Clinton na conferência de Londres. «A oposição demonstrou um compromisso com a democracia», mas «não temos nenhuma informação específica sobre indivíduos ou organizações deste movimento», disse.

A declaração mascara em parte a realidade, dado que meios de comunicação como a Al Jazeera ou o New York Times asseguram que agentes da CIA e do MI6 já estão no terreno há muito tempo a recolher informações, a treinar e até a agilizar o comando dos rebeldes e os bombardeamentos imperialistas. Armamento está a ser enviado secretamente via Egipto.

As palavras de Robert Gates, secretário da Defesa dos EUA, para quem «a oposição necessita, antes de mais, treino, comando e organização», e as do ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, que admite o fornecimento de equipamento de comunicações, não deixam dúvidas sobre quem manda. Mas mais claras são ainda as de um combatente rebelde, que, à Reuters, admitiu que «agora temos oficiais connosco. Antes íamos sozinhos para a frente».

Para mais, é público que França, EUA e Grã-Bretanha têm delegados em Bengazi junto do chamado Conselho Nacional Líbio, prova de que depois do Iraque e do Afeganistão, os imperialistas estão cada vez mais mergulhados num novo atoleiro, munidos com um mandato da ONU, organização que, como sublinhou Miguel D'Escoto, ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas e actual representante do governo líbio junto da ONU, «se converteu não apenas numa organização disfuncional e incapaz de cumprir os objectivos para os quais foi criada, mas agora numa arma mortal nas mãos dos agressores imperialistas e seus sequazes».



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