Metade do PIB para buraco financeiro

Banca arruína irlandeses

Se os ir­lan­deses atra­vessam a pior crise de que há me­mória, podem com fun­da­mento res­pon­sa­bi­lizar a banca pri­vada que, só ela, já ab­sorveu o equi­va­lente a 45 por cento do Pro­duto In­terno Bruto em ajudas pú­blicas.

Banca ir­lan­desa fa­lida passa para con­trolo do Es­tado

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Este pan­ta­grué­lico sor­ve­douro de di­nheiros pú­blicos voltou a re­clamar, na se­mana pas­sada, novas doses ma­ciças de ca­pital, sob pena do des­ca­labro. O mais re­cente di­ag­nós­tico do sis­tema ban­cário ir­landês, di­vul­gado no dia 31, acusou a ne­ces­si­dade ab­so­luta de uma in­jecção de 24 mil mi­lhões de euros para lhe manter os si­nais de vida.

So­mados aos 46 mil mi­lhões já gastos pelo go­verno, a fac­tura do bu­raco fi­nan­ceiro da banca pri­vada as­cende a 70 mil mi­lhões de euros, ou seja, a 45 por cento do PIB ir­landês.

Se­gundo as con­clu­sões do Banco Cen­tral da Ir­landa, o Al­lied Irish Banks, já na­ci­o­na­li­zado, é a en­ti­dade que ne­ces­sita de mais fundos (13 300 mi­lhões de euros), se­guida pelo Bank of Ire­land (5200 mi­lhões), Irish Life & Per­ma­nent (IL&P), (quatro mil mi­lhões) e a Edu­ca­ti­onal Buil­ding So­ciety (1500 mi­lhões), ins­ti­tuição fi­nan­ceira do sector da cons­trução igual­mente já na­ci­o­na­li­zada.

No caso do IL&P, o único banco do país que é ainda to­tal­mente pri­vado, os quatro mil mi­lhões de que ne­ces­sita re­pre­sentam 40 vezes o seu valor ac­tual em bolsa, pas­sando também ele a partir de agora para o con­trolo do Es­tado.

Como ex­plicou o go­ver­nador do Banco Cen­tral da Ir­landa, Pa­trick Ho­nohan, este con­junto de en­ti­dades agora re­for­çadas po­derá fazer face aos seus com­pro­missos, mas apenas se a si­tu­ação eco­nó­mica do país não con­ti­nuar a de­te­ri­orar-se, de­sig­na­da­mente com um novo au­mento do de­sem­prego, que já atinge os 14,7 por cento da po­pu­lação ac­tiva, ou a con­ti­nu­ação da queda do mer­cado imo­bi­liário.

De facto, as pers­pec­tivas não são muito ani­ma­doras como prova a si­tu­ação caó­tica do Anglo Irish Bank, banco to­tal­mente na­ci­o­na­li­zado e salvo pelo Es­tado pelo preço de 29 300 mi­lhões de euros, que anun­ciou, na se­mana pas­sada, pre­juízos de 17 700 mi­lhões de euros em 2010, e a sua imi­nente fa­lência. Em pro­cesso de fa­lência está igual­mente o Irish Na­ti­onwide.

Pe­rante a im­pos­si­bi­li­dade de re­cu­perar o sis­tema fi­nan­ceiro, o novo mi­nistro das Fi­nanças, Mi­chael No­onan, foi o par­la­mento de Du­blin de­fender uma pro­funda re­es­tru­tu­ração do sector, con­si­de­rando a sua di­mensão «de­ma­siado grande» para o ta­manho real da eco­nomia do país.

No­onan, que qua­li­ficou o dia 30 de Se­tembro de 2008, data do co­lapso ban­cário ir­landês, como o «mais negro da his­tória da Ir­landa desde a guerra civil», ad­mitiu re­duzir o sis­tema a dois grande bancos após a na­ci­o­na­li­zação de todas as en­ti­dades.

 

Con­tracção eco­nó­mica agrava-se

 

A in­sol­va­bi­li­dade do sis­tema fi­nan­ceiro ir­landês e a sua in­ca­pa­ci­dade para re­cu­perar têm as suas causas pro­fundas na re­cessão eco­nó­mica em que o país mer­gu­lhou desde 2009, e de onde não sabe como sair.

Nos pri­meiros dois anos da crise «fi­nan­ceira», o PIB di­mi­nuiu 11,6 por cento e a san­gria con­ti­nuou em 2010, com uma nova con­tracção de um por cento. Con­clui-se, por­tanto, que o plano de aus­te­ri­dade his­tó­rico, no valor de 15 mil mi­lhões de euros, e a «ajuda» ex­terna da UE e do FMI, no valor de 85 mil mi­lhões de euros, se re­ve­laram ine­fi­cazes para re­a­nimar a mo­ri­bunda eco­nomia.

E nem a obs­ti­nação de manter a mais baixa taxa fiscal sobre as em­presas (12,5%) pa­rece au­mentar a atrac­ti­vi­dade do an­tigo «tigre celta», hoje cla­ra­mente pre­te­rido pelas mul­ti­na­ci­o­nais a favor dos dra­gões asiá­ticos.



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