A inevitável luta de classes

Jorge Messias

Lenine citava Marx no Manifesto (1847): «A história de toda a sociedade até aos nossos dias não tem sido mais que a história da luta de classes». Esta constatação do grande revolucionário permanece perfeitamente válida e permite-nos analisar a actualidade. Não são precisas altas acrobacias mentais para percebemos que o mundo penetra agora, a ritmo alucinante, nos processos finais da ruptura social e da inevitável mudança de um ciclo. Inevitáveis são também, pois, as lutas de classes.

Estremecem os pilares da ordem e do poder capitalista. Multidões de pobres fazem nos desertos a aprendizagem da sua força real. Milhões de desempregados vagueiam nas cidades. Os banqueiros afogam-se no dinheiro que abunda mas tem cada vez menor valor. Falta petróleo barato aos grandes barões da indústria. Cindem-se as forças dos poderosos senhores da guerra. Apaga-se o prestígio dos «iluminados» da política e da religião. Governantes e cardeais – os «produtores de mitos» – habituados a olhar as turbas-multas como massa inerte fácil de moldar, olham com espanto e temor os dias que se avizinham.

Tudo isto pode indiciar uma fase pré-revolucionária mas mergulha, por enquanto, no denso nevoeiro de gigantescas contradições. Aos movimentos dos trabalhadores falta unidade e internacionalismo. A consciencialização política ainda não acompanha parte importante da indignação popular. A comunicação social manipulada e as ambiguidades da estatística, bem como as histórias de embalar contadas pelos ministros, pelos clérigos, pelos publicistas e pelos leigos, ainda enganam muita gente. E a Igreja, embora em queda a pique na opinião pública, permanece fiel a uma prudente estratégia de apoio ao capitalismo, com os seus silêncios, a sua retórica bolorenta e os seus inconfessados compromissos.

É certo que aquilo que ainda falta à luta dos trabalhadores será forjado nas batalhas futuras da luta de classes. Mas por enquanto ninguém arrisca prever o futuro próximo da humanidade. Ainda que a luta cresça dia a dia. O que é vivamente de saudar.

Marxistas-leninistas, somos soldados presentes em todas as batalhas.

 

Estratégias de recurso

 

Desde sempre que nas suas crises profundas, quando a solução final parece irrevogável, o capitalismo procura saídas de recurso, escadas de salvação. Quando a Inglaterra (na altura o país mais industrializado) mergulhou em crise cíclica profunda, no século XIX, Lenine registou os acontecimentos com palavras singelas e observou, a propósito das cartas que o inimigo ia lançando sobre a mesa: «a nação mais burguesa de entre todas parece querer possuir, no fim de contas, uma aristocracia burguesa e um proletariado burguês». Ao capitalismo impunha-se ganhar tempo.

Mudam as caras, mudam os tempos e o sentido das palavras mas as estratégias doutrinais permanecem. Mais recentemente, poucas décadas bastaram para destruir o mito da «sociedade da abundância». No seu desenvolvimento, qualquer forma de capitalismo conduz elites à posse da riqueza e mergulha o povo na miséria ou na pobreza. É questão de tempo. Então, a tão romanceada liberdade transforma-se rapidamente no mais duro autoritarismo e na mais brutal repressão. Veja-se o que se passa nos territórios árabes do petróleo africano. Populações inteiras erguem-se, de mãos nuas, contra os tiranos capitalistas que lhes sugam o sangue. Os grandes senhores ameaçados negoceiam então entre si as novas formas de eternizar a exploração dos povos. Ou, se assim não for, combinam como esmagar as resistências, a tiro ou com «napalm». Entretanto, enquanto mentem, continuam a dividir para reinar. A Igreja é parte activa do negócio.

Na Europa, o tempo ainda é de sofisticações. O poder capitalista enfrenta mal a crise e procura manter o seu «status» inventando, como nos velhos tempos, a sua própria classe aristocrática e o seu proletariado. Privilegia na escolha os desempregados e a juventude, tal como o fizeram no passado, em fases de ascensão, fascistas italianos e nazis alemães. Os meios que agora usa é que são mais requintados e mais eficientes, como as telecomunicações de última geração, os circuitos financeiros ou as estratégias de grupo. Introduz e banaliza formas de acção inaceitáveis, como a do controlo das multidões desesperadas ou a da convocação anónima de manifestações de massas. Formas de agir politicamente ilegais e moralmente abjectas. A Igreja cala-se, como convém ao grande capital ...

Vigilância revolucionária e firmeza. «Fascismo, nunca mais» – não o deixaremos passar. No pasarán!



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