Cruzada reaccionária
O governo checo, dominado pelo Partido Cívico Democrático (ODS), lançou uma campanha com o objectivo declarado de ilegalizar do Partido Comunista da Boémia-Morávia (KSCM).
Direita revanchista persegue comunistas checos
De acordo com o diário espanhol Público (03.03), o Ministério do Interior criou uma comissão especial para analisar à lupa as actividades dos comunistas checos. O ODS, principal formação do governo, que conta com o apoio dos partidos TOP 09 e Assuntos Públicos (VV), instruiu as suas organizações para cessarem qualquer tipo de cooperação com o KSCM ao nível municipal, o que estes qualificam de «inadmissível do ponto de vista democrático».
Já nas eleições legislativas de Maio de 2010, os três grandes partidos de direita tinham excluído qualquer tipo de acordo com os comunistas. Desde então, o executivo liderado por Petr Necas criou mecanismos legais que permitem reduzir pensões de antigos funcionários comunistas e atribuir essas verbas a pessoas que combateram o regime anterior.
O actual governo checo considera que as chamadas «vítimas do comunismo» devem desfrutar das mesma honras que os veteranos da II Guerra Mundial que combateram os nazis.
No entanto, a cruzada anticomunista da direcção do ODS repercutiu-se em primeiro lugar no interior do próprio partido. Assim, 18 organizações regionais foram dissolvidas por insistirem em cooperar com os comunistas.
Na verdade, em muitos municípios, os conservadores tiveram de chegar a acordos com o KSCM para poderem governar. Essa situação objectiva faz com que alguns presidentes de câmara conservadores tenha já declarado que não irão acatar aquela orientação e continuarão a cooperar com os comunistas. Outros eleitos ameaçam abandonar o ODS, em sinal de rejeição da decisão do partido.
O jornal checo de esquerda Právo, citado pelo referido diário espanhol, classifica de «hipócrita» e «pouco inteligente» a tentativa do governo de ilegalizar o KSCM. O Právo recorda que «todos os partidos parlamentares já trabalharam de uma ou outra maneira nos últimos 20 anos com o KSCM. No castelo de Praga [sede da Presidência da República] temos um presidente [o conservador Václav Klaus] que não teria chegado ao cargo em 2003 sem a ajuda dos comunistas. A direita joga com o fogo. Se conseguir levar por diante a proibição dos comunistas, poderá depois acabar com a oposição».
Note-se que, em Outubro de 2006, a juventude comunista checa foi ilegalizada e dissolvida porque defendia no seu programa a necessidade de substituir a propriedade privada dos meios de produção pela propriedade social.