O poço sem fundo das redes sociais (1)
informática veio revolucionar toda a comunicação e é uma das mais geniais conquistas da mente humana. Mas seria absurdo dizer-se o mesmo quanto à sua utilização. Neste sentido, a informática presta-se às mil maravilhas para ser temível agente do obscurantismo, da difusão da mentira e da corrupção ou das intrigas que promovem as guerras de rapina. Terrenos onde o Vaticano é perito. É o caso da Comunicação.
A noção de rede começou a ser valorizada nos princípios do século XX e significava que um grupo de pessoas ou de organizações partilhava entre os seus agentes os mesmos valores e objectivos. Nessa fase inicial a sua ligação à informatização ainda nem sequer existia. Mas já reconheciam os defensores de uma tal aproximação e do aproveitamento das suas potencialidades: «Redes não são apenas uma outra forma de estrutura mas a negação deste conceito, no sentido de que parte da sua força está na sua capacidade em se fazer e desfazer rapidamente… os seus limites não são fronteiras inultrapassáveis mas expectativas flexíveis de confiança e lealdade, as quais são permanentemente mantidas e renegociadas pelas redes de comunicações» ( Fábio Duarte, O Tempo das Redes ).
Os progressos da Informática da Comunicação foram fulminantes, em grande parte estimulados pela «guerra fria» e pelo crescente peso económico das indústrias electrónicas e dos armamentos que exigiam gerações cada vez mais sofisticadas de computadores. A noção de rede social, já insuficiente, ampliou-se cedendo o primado à fórmula mais alargada de sistemas de redes sociais capazes de cruzarem entre as suas componentes as informações mais complexas, independentemente da origem da «família» a que pudessem pertencer (comunitária, política, económica, profissional, etc.).
A ponderação dos resultados parciais de cada «rede social» ou «sistema de redes» permite agora avaliar não só a forma como as organizações se empenham em alcançar as metas estabelecidas mas, de igual modo, tornam possível quantificar o desempenho de cada cidadão individualmente, no sentido da valorização positiva ou negativa do seu capital social (a sua força de trabalho na rede expressa em lucro ou défice). Aqui, a informática transforma-se numa «polícia de proximidade».
Como seria natural e inevitável, aos teólogos do Vaticano e aos teóricos da globalização não escapou que esta linha filosófica traria um inesperado reforço aos seus planos ocultos de estabelecimento universal de uma Nova Ordem num mundo capitalista rejuvenescido. Assinala-se na Wikipédia, a enciclopédia livre da Internet: «Um ponto dominante nos diversos tipos de rede social é a partilha de informações, conhecimentos, interesses e esforços que valorizem objectivos comuns». A multiplicação constante do número de redes sociais activas reflecte, pois, uma intenção de reforço e controlo da Sociedade Civil e do Conhecimento por parte dos que dividem entre si os lucros da exploração neoliberal: o capitalismo financeiro, o capitalismo político e a Igreja capitalista.
Com maior evidência numas áreas do que noutras, é já indiscutível que a comunhão de interesses entre estes três parceiros se deve sempre sobrepor às dissensões do passado. Para o capitalismo «de confissão», a situação mundial é brilhante mas instável. É preciso reforçar veladamente o poder dos mais ricos e dos grandes patrões, instalando entre eles o «espírito cristão». E é preciso esquecer de momento as queixas históricas contra os «irmãos desavindos» de outros credos, também eles com religiões ricas e poderosas. Por isso, na actual fase papal do cardeal Ratzinger coloca-se como parceria mais importante a ocupar a Comunicação Social. «O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações que está a unificar a humanidade transformando-a, como é costume dizer-se, em aldeia global. Os meios de comunicação social alcançam tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais» – refere o colégio cardinalício na carta pastoral Aetatis Nova.
Mas não se pense que, para dominar os meios de comunicação, o Vaticano precise de comprar empresas, uma a uma. A organização em rede pode operar milagres. O ideal, portanto, é dizer missa e ficar mudo, enriquecer e guardar o voto de pobreza, vencer na política mantendo o segredo dos deuses e, enfim, conquistar santa e anonimamente o poder.
Há dados curiosos sobre este projecto menos conhecido.