O estranho caso da troca das alimárias

Carlos Gonçalves

Foi con­fir­mado pelo Se­cre­tário-geral do PSD, M. Relvas, o que já era óbvio – que o seu par­tido não vai avançar «por agora» para a moção de cen­sura e a pu­ta­tiva crise po­lí­tica. Era pre­vi­sível, dado que o grande ca­pital (ainda) não re­solveu «mudar de ca­valo» e optou por ca­valgar a con­jun­tura da re­e­leição de Ca­vaco e es­premer a ali­mária (no caso o Go­verno PS) até ao li­mite. Os grandes se­nhores do di­nheiro sabem que o PS é um fiel exe­cutor da sua po­lí­tica, sempre dis­posto a ir mais longe e mais fundo para se manter no poder, e sabem que, em «con­di­ções nor­mais» é pos­sível ao PS «fazer andar os ne­gó­cios» com menos di­fi­cul­dades e re­sis­tên­cias do que o PSD.

O que a todos eles im­porta é a con­ti­nu­ação do saque de quem tra­balha, a al­te­ração re­ac­ci­o­nária da le­gis­lação la­boral, a re­visão cons­ti­tu­ci­onal à di­reita e as «novas re­formas» da UE – mais «com­pe­ti­ti­vi­dade» com menos sa­lá­rios e au­mento da idade da re­forma, e menos so­be­rania na­ci­onal, com o «go­verno eco­nó­mico eu­ropeu» nas mãos do di­rec­tório. Deste ponto de vista, pro­curam fazer o má­ximo de ca­minho e de­pressa, para então re­petir a velha his­tória da ro­tação das ali­má­rias para que tudo fique na mesma, antes que a luta de massas crie uma si­tu­ação in­sus­ten­tável e torne pos­sível uma al­ter­na­tiva.

Para PS e PSD – «mo­rangos com açúcar» no subs­tan­cial da po­lí­tica de di­reita –, é agora o tempo da rá­bula da «opo­sição feroz», para a qual­quer mo­mento pas­sarem à «cor­rida elei­toral». Daí os sound bites da pri­va­ti­zação ou da falsa «de­fesa» de em­presas e ser­viços pú­blicos, a hi­po­crisia e o «jogo do em­purra» no des­pe­di­mento efec­tivo de mi­lhares de tra­ba­lha­dores, a ma­nobra de di­versão pro­vo­ca­tória da re­dução de de­pu­tados, a pa­té­tica e hi­po­té­tica «re­mo­de­lação» do Go­verno, as ine­vi­tá­veis «Novas Fron­teiras» do PS e «Mais So­ci­e­dade» do PSD para se­gurar e com­prar cli­en­telas, etc.

PS e PSD estão num fre­nesim de «faz de conta», mas é o ca­pital fi­nan­ceiro, que abicha mi­lhares de mi­lhões de lu­cros e pri­vi­lé­gios, que com a in­ter­me­di­ação de Ca­vaco vai de­cidir o es­tranho caso da troca de ali­má­rias da po­lí­tica de di­reita. Mas cuidem-se, que os tra­ba­lha­dores e o povo em luta não vão de­sistir. E um dia vão mudar esta his­tória.



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