Uma batalha que se projecta para o futuro

João Frazão (Membro da Comissão Política)

No final do vibrante comício de Guimarães que encerrou a campanha eleitoral da candidatura do camarada Francisco Lopes à Presidência da República – a nossa candidatura –, um velho amigo do Partido interpelou-me, manifestando a sua satisfação pela forma como acompanhou esta importante jornada. Que tinha sentido nas nossas acções a mobilização, que tinha sentido a determinação e a confiança que, aqui, não são palavras vãs. Olhando para trás, podemos dizer que assim foi.

Na mobilização popular estão as sementes do futuro

Image 6592

A candidatura de Francisco Lopes foi exactamente isso. Um candidato que disse ao que vinha. Que trouxe para o debate eleitoral aquilo que era necessário debater – os problemas dos trabalhadores, do povo, do País. Que denunciou que, no início do século XXI, esses problemas se agravam, ainda que o conhecimento e a riqueza produzidos permitissem o caminho contrário. Que apontou os responsáveis por essa situação. Que defendeu um projecto alternativo, de ruptura e de mudança, um rumo patriótico e de esquerda, alicerçado nos valores de Abril. Um candidato que disse o que nenhum dos outros disse ou poderia ter dito.

Mas foi mais do que isso.

Foi também a candidatura em que milhares de homens e mulheres, jovens e menos jovens, de todas as profissões, comunistas, ecologistas, democratas sem partido ou de outros partidos assumiram o papel de candidatos e que, de Norte a Sul, levaram essa proposta ímpar a milhões de pessoas do nosso País.

Foi a candidatura dos grandes comícios do Campo Pequeno ou do Palácio de Cristal (de resto, sem qualquer comparação nas outras candidaturas), mas também das pequenas distribuições à porta das empresas, nos bairros e nos mercados. Foram as imensas arruadas do Barreiro, do Chiado, da Rua de Santa Catarina, mas também os porta-a-porta, as conversas e contactos com os amigos, os vizinhos, os conhecidos. A candidatura foi a de milhares de vozes que exigiam, em coerência com o percurso e postura de sempre, uma vida melhor para os trabalhadores e para o nosso povo.

E é nessa mobilização popular que estão as sementes de futuro.

 

Prosseguir o combate

 

Ao longo da campanha eleitoral, o que fizemos não foi mais do que o reafirmar do compromisso de sempre com os trabalhadores e o povo de prosseguir a luta de todos os dias. E hoje, animados por esse apoio e mobilização popular, que nos cria renovadas responsabilidades, olhamos de frente para os tempos que aí vêm e que serão ainda mais duros que os que passaram. O quadro político saído das eleições presidenciais, com a vitória de Cavaco Silva, é mais exigente.

As declarações de Sócrates no rescaldo da noite eleitoral – os portugueses votaram pela estabilidade e estabilidade devem ter – significam, para bom entendedor, insistência nas políticas antipopulares dos PEC e do Orçamento do Estado e, logo, instabilidade para a vida dos que menos têm, dos que vivem do seu trabalho e das suas pensões e reformas. Sócrates e o PS, que evidentemente desistiram deste combate antes mesmo dele começar, recusam tirar lições do enorme grito de protesto e revolta que os resultados, no seu conjunto, significam.

As piruetas de autêntico malabarismo político dos dirigentes do BE, apontando o dedo acusatório ao «sectarismo do PCP», tentam justificar o facto de terem estado lado a lado com o partido da política de direita no apoio a um candidato profundamente comprometido com o rumo de declínio nacional e de injustiça social. E de o candidato que apoiaram não somar, nem de perto nem de longe, os apoios dos partidos que o apoiaram, desbaratando mesmo o apoio atingido por Alegre e Louçã nas anteriores eleições.

De Cavaco poderemos contar, sabemos bem, com apoio, patrocínio, apadrinhamento, estímulo à política de direita, seja cooperando estrategicamente com o PS, seja facilitando o caminho da direita em direcção ao poder.

É neste quadro que, aos comunistas portugueses, está colocado, como sempre, o papel de prosseguir a denúncia, de afirmar a proposta e o projecto alternativo, de dinamizar e desenvolver a luta de massas em sua defesa, contribuindo para o reforço das organizações sociais de massas, de reforçar o Partido, no momento em que assinalamos o seu nonagésimo aniversário e o octogésimo aniversário do nosso Avante!.

Vamos fazê-lo com a determinação, a confiança e a mobilização que caracterizou esta campanha. Vamos fazê-lo em respeito e com o apoio expresso em voto dos trezentos mil homens e mulheres que assim afirmaram a exigência deste rumo de ruptura e de mudança.



Mais artigos de: Opinião

Horizonte de lutas

Os acontecimentos em curso na Tunísia inquietam profundamente as forças do sistema. Perante o ímpeto da revolta popular e o descontentamento alargado que tomou conta das ruas, apesar da repressão, o afastamento do ditador Ben Ali era irremediável. A sua fuga para a Arábia Saudita...

Os bombos da festa

Ainda ecoavam os foguetes da eleição do «professor» em mais uma «festa da democracia» e já a ministra do Trabalho, Helena André, levava à Concertação Social a proposta do Governo para a alteração das regras das...

Coisa de ocasião

Com este título Luís Fazenda fez publicar um artigo no «esquerda.net» em vésperas das eleições do passado domingo. Lendo-o, percebia-se o seu alcance: uma antecipada aceitação da vitória de Cavaco Silva, em jeito de resignada confissão da...

Encontro marcado com o futuro

As eleições presidenciais, no seu contexto e temporalidade, não podem deixar de ser consideradas nas suas resultantes mais fundamentais e consequências contraditórias. Por um lado, resultaram na vitória de Cavaco Silva, o que em si mesmo é mais um elemento claramente...

Miséria moral e ética

A «comissão de inquérito» (comissão Turkel) nomeada pelo governo de Israel para analisar o ataque pirata – desencadeado em Maio passado por esse mesmo governo de Israel – contra a flotilha de solidariedade com o povo de Gaza fez entrega do seu relatório. As...