Os censos

Anabela Fino

O XV recenseamento geral da população portuguesa e o V recenseamento geral da habitação, vulgo Censos 2011, vai ser feito em Março próximo. Trata-se de uma importante tarefa – nada mais nada menos do que a maior operação estatística nacional – que tem como objectivo «contar» todos os cidadãos e famílias presentes no território nacional, bem como todos os alojamentos e edifícios destinados à habitação. Para o efeito o Instituto Nacional de Estatística (INE) está a seleccionar recenseadores, que como se compreende têm de preencher um conjunto de requisitos que os habilitem a dar conta de tamanha responsabilidade. A actividade a desenvolver, esclarece o INE, inclui a distribuição e recolha dos questionários, bem como, sempre que necessário, o respectivo preenchimento. Cabe ainda aos recenseadores prestar apoio à população na resposta aos referidos questionários, quer a mesma se faça pela Internet ou em suporte de papel; preencher os instrumentos auxiliares de apoio e controlo dos trabalhos de campo; e georeferenciar os edifícios da sua área de trabalho.

Percebe-se, face ao «caderno de encargos», que aos recenseadores seja exigido terem habilitações literárias equivalentes no mínimo ao 3.º ciclo do ensino básico (9.º ano), e disponibilidade horária adequada ao exercício da actividade, incluindo final do dia e fins-de-semana, que é justamente quando a esmagadora maioria da população se encontra em casa. Mas as exigências do INE não se ficam por aqui, ou não fosse esta «a maior operação estatística nacional». Assim, os recenseadores devem, preferencialmente, ter conhecimentos de informática na óptica do utilizador; dispor de computador com ligação à Internet; dispor de telemóvel; e conhecer bem a zona geográfica para a qual se candidatam. Dito de outra forma, o que o INE procura não é apenas gente capaz de levar a cabo uma importante tarefa mas sim fazer o pleno, o dois em um, o ouro sobre azul, ou seja arregimentar gente devidamente equipada, que para além das suas capacidades, das mãos e da esferográfica, tenha como valor acrescentado telemóvel e computador próprios e disponibilidade (o uso destas coisas paga-se!) para os colocar ao serviço da instituição.

E que oferece o INE aos recenseadores? Um contrato de prestação de serviços com duração de cerca de dois meses (Março e Abril) e pagamento pelos serviços prestados em função dos resultados apresentados. A título de exemplo, segundo notícias vindas a público, o valor médio do pagamento será de 760 euros para quem cubra uma área com 320 alojamentos, com 590 pessoas. Dito de outro modo, 380€/mês sem contar com os gastos de chamadas e Internet em troco de um trabalho com mais-valias centrado em grande parte no período nocturno e fins-de-semana.

É o que se chama um bom negócio para o INE e uma exploração desenfreada para os muitos milhares de pessoas que vão responder à oferta porque o mês no fim do salário, se é que o têm, é cada vez mais longo. Para estas situações não há censos que valham, em especial os que vão passar a ser feitos por telefone, mas a estatística agradece.



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