Presidenciais e legislativas no Haiti

Eleições atribuladas num país devastado

O Conselho Eleitoral do Haiti validou o sufrágio presidencial e legislativo de domingo no país, isto apesar das denúncias de fraude eleitoral feitas por doze dos 18 candidatos à chefia do Estado.

«80 por cento dos haitianos vivem na pobreza»

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Foto LUSA

Horas depois de milhões de haitianos terem comparecido às urnas para elegerem o sucessor de René Preval, 99 membros da Câmara dos Deputados e 30 senadores, o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) ratificou a legitimidade do processo qualificando a jornada como «um sucesso». Não obstante, informou o presidente do CEP, Gaillot Dorsainvil, o pleito foi anulado em 56 dos 1500 círculos. As irregularidades ocorridas nestes casos serão investigadas nos próximos três dias, garantiu.

Opinião diferente sobre o acto têm milhares de haitianos que, após o encerramento das urnas, saíram à rua para contestar as eleições. Os manifestantes acusam o presidente Preval de manipulação a favor do candidato do seu partido, Jude Celestin.

De acordo com a AFP, em Port-au-Prince, capital do Haiti, os protestos estenderam-se até junto à sede da CEP, obrigando ao reforço da segurança por parte dos capacetes azuis da ONU, que emitiu um comunicado expressando preocupação pelos desacatos e apelando à calma.

Na frente da multidão que invadiu a principal cidade do país, esteve o candidato a presidente e popular cantor Michel Martelly, para quem o acto não passou de «uma conspiração do governo e do CEP».

Na sexta-feira, um comício de Martelly terminou em tragédia após uma tentativa de atentado contra o candidato. Pelo menos uma pessoa morreu e várias ficaram feridas quando atiradores não identificados irromperam na iniciativa disparando vários tiros com armas automáticas. Michel estava no meio dos seus apoiantes quando foram efectuados disparados na sua direcção, relatou a esposa do candidato ao Le Nouvelier.

 

Mal-estar latente

 

Quem também não aceita a versão da Comissão Eleitoral é a candidata Mirlande Manigat, uma das favoritas à chefia do Estado. Uma «grande fraude», considerou a dirigente da Reunião dos Democratas Nacionais Progressistas.

Em várias assembleias de voto, antes da abertura, as urnas já estavam cheias de boletins a favor de Celestin, alega Manigat. Violando as mais elementares regras democráticas, membros das mesas dormiram nos locais de voto e em várias regiões perguntavam aos eleitores em quem iam votar. Se não votassem em Celestin, não os deixavam entrar, acrescentou.

«É com este tipo de manobra que Celestin quer ganhar eleição?», questionou ainda Manigat, um dos doze candidatos que contestaram as eleições.

O mal-estar entre os eleitores avolumou-se durante toda a jornada de domingo. Falta de informação sobre os candidatos, atrasos na chegada do material eleitoral, confusão na entrega dos boletins ou impedimentos incompreensíveis ao exercício do direito de voto foram alguns dos factos constatados pela repórter da Telesur Patricia Villegas.

Tais situações, informou a jornalista a partir de Port-au-Prince, foram criando um clima favorável à desconfiança sobre o acto, o qual foi crescendo à medida que se percebia que as autoridades nada faziam para repor a regularidade.

 

Herança pesada

 

O próximo presidente do Haiti herda um país em cacos. Cerca de dois milhões de pessoas vivem em acampamentos depois do violento terremoto que devastou o território, em Janeiro deste ano.

O Haiti é a nação mais pobre do continente americano, com 80 por cento dos seus 10 milhões de habitantes a sobreviverem na absoluta pobreza.

No início de Outubro, uma epidemia de cólera veio agravar a situação. Pelo menos 1648 pessoas já morreram e dezenas de milhares tiveram que ser assistidas no hospital ou encontram-se infectadas pelo vírus.

Grande parte da ajuda internacional prometida após o sismo ainda não chegou e não existem boas perspectivas para que tal aconteça. Até agora, estão disponíveis menos de 10 por cento dos fundos necessários à reconstrução.


Cuba reforça contingente

 

O Haiti vai contar com um novo contingente de 300 médicos, enfermeiras e técnicos de saúde cubanos, elevando para 1200 o total de colaboradores que Cuba mantém no país desde o terremoto de 12 de Janeiro.

A confirmação foi feita por Fidel Castro numa das suas mais recentes reflexões, na qual sublinha, igualmente, que funcionários das Nações Unidas lamentam a escassa resposta da «comunidade internacional» ao apelo das autoridades haitianas para que se faça um esforço de combate à epidemia de cólera.



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