Não é coincidência, são os mesmos...

Pedro Guerreiro

A luta pela paz é indissociável da luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores

Nas próximas semanas seremos seguramente confrontados com uma intensa campanha de mistificação e de desinformação a propósito da Cimeira da NATO, que se realiza dias 19 e 20 de Novembro, em Lisboa.

Para compreender o real significado e alcance dos objectivos apontados para esta Cimeira é fundamental ter presente o momento em que esta tem lugar.

Um momento caracterizado pela deterioração da situação económica dos EUA e de outras potências capitalistas, suas aliadas na NATO, enquanto novos países se afirmam e reforçam a sua posição nas relações económicas ao nível mundial (como a China), uma rearrumação de forças com o consequente reanimar das contradições inter-capitalistas.

Um momento em que o capitalismo incrementa medidas (desemprego e cortes nos salários, pensões, prestações sociais e serviços públicos, como a saúde e a educação) com brutais consequências sociais, que visam salvaguardar e fomentar os fabulosos lucros e a insaciável gula do capital financeiro, à custa do aumento da exploração dos trabalhadores que, em situações muito diversas, resistem e procuram criar as condições para alterar a correlação de forças que ainda lhes é desfavorável.

Um momento em que os povos vítimas da agressão imperialista continuam a luta pela emancipação nacional – como na Palestina, no Afeganistão ou no Iraque – e em que na América Latina, nas ruas ou nas urnas, são derrotadas tentativas de interrupção de processos de afirmação de soberania e desenvolvimento nacional.

 

É neste quadro que o imperialismo, liderado pelos EUA – que tenta contrariar o seu declínio como potência dominante –, procura relançar a sua violenta ofensiva, alicerçada no seu poder militar (cerca de metade das despesas militares do mundo) e amplos meios ideológicos, com que visa oprimir e desarmar a legítima luta daqueles que lhe resistem.

Na Cimeira que se realiza em Lisboa, a NATO pretende dar um salto qualitativo na militarização das relações internacionais e na corrida aos armamentos, apontando o mundo como sua área de intervenção, a partir de, praticamente, todo e qualquer pretexto. A NATO visa instrumentalizar a ONU, arrastando e servindo-se de todos os «parceiros» que anuírem com a sua lógica de ingerência e guerra. A NATO é um instrumento de guerra do imperialismo.

Não é coincidência, a ofensiva contra os trabalhadores vai a par da ofensiva contra a soberania dos povos.

 

A Cimeira da NATO evidenciará (bastará olhar para as fotografias) que os responsáveis pela agudização da situação económica e social são os mesmos que promovem a corrida aos armamentos, a militarização das relações internacionais e a guerra – esta é uma tomada de consciência fundamental para todos aqueles que aspiram e lutam pelo progresso e a transformação social.

Como a história demonstra, a luta pela paz é indissociável da luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores, pelos seus direitos e conquistas, pela soberania e independência nacional. A luta dos trabalhadores e do povo português é disso exemplo.

A defesa da paz, a luta contra o militarismo e a guerra, é parte integrante e condição necessária para assegurar o desenvolvimento económico, o progresso social e a soberania de um povo.

Daí a importância da participação nas iniciativas de esclarecimento e na manifestação que a Campanha «Paz sim! NATO não!» promove e organiza no dia 20 de Novembro, pelas 15h00, do Marquês de Pombal à Praça dos Restauradores, em Lisboa. Por Abril, pela Paz, reafirmemos: não à NATO!



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