É o fácil que é difícil de fazer
Francisco Lopes esteve em Coimbra, num jantar de apoiantes, onde à sobremesa se falou de poesia para melhor compreender e digerir a política.
Todos os votos contam para alterar a correlação de forças existente
Fernando Pessoa, Sophia Mello Breyner Andresen e Bertold Brecht – eis os poetas convocados na noite de sexta-feira, 22 de Outubro, para ilustrar não uma sessão de poesia – o que nada teria de original – mas um encontro político num refeitório da Associação Académica de Coimbra.
A responsabilidade de chamar a poesia a terreiro cabe ao professor António Avelãs Nunes, que perante uma plateia de 250 convivas fez uma dupla estreia: interveio, pela primeira vez, na qualidade de militante do PCP e de mandatário pelo distrito de Coimbra da candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República.
O jantar, como lhe compete, saciou os estômagos; coube aos discursos alimentar o espírito e lançar as sementes que hão-de germinar nas lutas de todos os dias.
Sobejamente conhecido e com créditos firmados no meio académico e intelectual, Avelãs Nunes quase dispensa apresentações (ver páginas centrais). Já a abordagem que faz das temáticas em que é chamado a intervir suscita sempre curiosidade. Foi o que sucedeu neste jantar de apoio à candidatura de Francisco Lopes, em que o professor citou Pessoa – aqui ao leme sou mais do que eu (…) – para ilustrar a força colectiva dos que se orgulham de estar sempre ao lado o povo, esse povo «que não cabe nas crónicas, mas que tem sempre a última palavra».
Ao denunciar as mentiras com que tentam iludir-nos, Avelãs Nunes pediu emprestadas as palavras de Sophia – Uma terrível atroz imensa/Desonestidade/Cobre a cidade (…) –, para lembrar que desonestidade é dizerem-nos que não há alternativa quando a alternativa existe e é de esquerda, como o PCP bem defende; desonestidade é dizer que se quer salvar o Estado social enquanto tudo faz para o liquidar; desonestidade terrível é Cavaco, que destruiu a marinha mercante portuguesa, vir agora pedir que se descubra as potencialidades do mar; desonestidade sem nome é os que na AR tudo aprovaram virem agora dizer que a Europa tem de mudar.
Desmontando depois a falácia do «orçamento indispensável» que agora servem aos portugueses de manhã à noite, o mandatário, lembrando que «a hipocrisia é o tributo que o vício paga à verdade», lembrou que o combate ao défice não passa de uma forma de fazer pagar a crise aos que mais sofrem com ela, denunciou o papel dos «mercados» que tudo controlam e desmascarou a alegada preocupação com a estabilidade do sistema financeiro. «Se o sistema financeiro é um bem público – ironizou – então deve caber ao Estado a gestão do sistema financeiro» e não aos mercados. Foi nessa altura que Brecht entrar em cena para lembrar que ao contrário do que sempre nos dizem – como é difícil governar… – é o fácil que é difícil de fazer.
A candidatura necessária
Francisco Lopes não deixou os créditos por mãos alheias e deixou claro que a candidatura comunista é a única que pode inverter o rumo de décadas de integração europeia cujas consequências estão à vista na destruição do aparelho produtivo, no aumento do desemprego e da precariedade, no agravamento das condições de vida dos trabalhadores e do povo portguês, enquanto os governos continuam a canalizar milhões e milhões para a banca.
Assumindo a sua candidatura como uma candidatura comprometida com a defesa da soberania nacional, Francisco Lopes fez notar que as causas das sucessivas crises são evidentes e que os seus responsáveis estão identificados, pelo que cabe ao povo português fazer as escolhas que permitirão mudar de rumo e de políticas.
E para isso existe a candidatura comunista. Uma candidatura que não aceita que o futuro da juventude seja empenhado; que um milhão e quinhentas mil crianças fiquem sem abono de família; que os reformados, pensionistas e idosos vejam as suas pensões reduzidas; que as privatizações continuem; que o Poder Local esteja a ser estrangulado financeiramente, tal como sucede com as pequenas e médias empresas.
Criticando a «brutalidade das medidas» que o Governo e o PSD pretendem implementar através do Orçamento do Estado e que são objectivamente um ataque à justiça social, Francisco Lopes fez o contraponto com os apoios aos grupos económicos, cujos continuam a engordar com lucros obscenos. Não é pois de estranhar que os banqueiros façam parte do coro dos defensores do OE, engrossado recentemente pelo embaixador dos EUA em Lisboa, como lembrou o candidato do PCP à Presidência da República, que após denunciar as falsas contradições PS/PSD se interrogou sobre a utilidade dos sacrifícios impostos ao povo português.
Hoje com Sócrates como ontem com Barroso e Cavaco, o País está mais pobre, mais endividado, mais desigual. Para mudar de política, enfatizou Francisco Lopes, todos os votos contam, seja para alterar a correlação de forças na Assembleia da República seja para Presidência. «Olhem para a vossa vida e decidam em quem votar», desafiou, na certeza de que a resposta só pode ser na candidatura do PCP.