Humor de serviço
Não fosse um humorista a escrever aquilo que supostamente deveria ser um texto de humor e confesso que não encontraria nenhuma diferença entre o texto que Ricardo Araújo Pereira escreveu na Visão e aquilo que tem sido repetido até à exaustão pelos «comentadores» e «analistas» de serviço sobre a candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República.
Na «Homenagem ao candidato desconhecido» com que RAP baptiza o artigo, vemos os mesmos clichés e preconceitos, as mesmas teses e repetições, os mesmos estereótipos e carimbos, dos que tentam transformar a opinião publicada em opinião pública. «Francisco Lopes é um desconhecido» que «nem os militantes comunistas sabem exactamente quem é», diz RAP numa das frases ao longo do texto, para a seguir acrescentar que «o PCP sabe que não há qualquer hipótese de o seu candidato ser apoiado por mais alguém».
RAP vai ainda mais longe – e esta já tem qualquer coisa que se lhe diga – quando recorre a um dos chavões anticomunistas que durante décadas mais agradou às classes dominantes: «Francisco Lopes, é o candidato do PCUS, o Partido Comunista da União Soviética». E, convencido de que a piada era boa e original acrescentou: «uma escolha de Brejnev, embora um pouco mais conservadora».
O texto – e convido-vos a ler para que não se julgue que é falta de capacidade de encaixe da minha parte quando fazem umas piadas sobre o Partido ou sobre os comunistas – é o que vos transcrevi e pouco mais. Uma pobreza tão pobre que o que tem a mais no preconceito tem a menos em sentido de humor. Um exercício mal conseguido de ridicularização dos comunistas, que entra sem distinção para a galeria das várias peças produzidas nas últimas semanas inseridas numa operação mais vasta que visa diminuir a candidatura, ocultar o seu projecto, impedir que a discussão se faça em função do que ela é e do que propõe ao País.
Nada de que não estivéssemos à espera ou que condicione – era só o que faltava! – a grande campanha que iremos construir. Dito isto, um último registo:
Nesta «ideologia ambiente» – como alguém lhe chamou –, em que poderosos instrumentos são accionados para que todas as ideias, todas as opiniões, todas as atitudes, todas as formas de expressão crítica, artística ou criativa, incluindo o humor, se expressem com «toda a liberdade» desde que não ponham em causa a ordem estabelecida e os poderes dominantes, cada um faz as suas opções. E RAP tem feito as suas!