Fogos, território e gente

Filipe Diniz

No sítio do European Forest Information System, EFFIS, (http://effis.jrc.ec.europa.eu/) a informação disponível em 15 de Agosto era impressionante: dos primeiros 25 fogos registados, 20 situavam-se em Portugal, 1 em Espanha, 4 em Itália. Todos eles se verificavam em zonas para as quais aquela instituição fazia idêntica previsão de risco de fogo.

Esta amostra é extremamente limitada e não devem ser feitas generalizações a partir dela. Apenas se pode constatar um facto: em 15 de Agosto de 2010, para zonas com idêntico risco de fogo (elevado e muito elevado) por cada fogo que houve em Espanha houve 4 em Itália e 20 em Portugal.

O PCP já disse tudo o que de fundamental há a dizer sobre a questão política que esta situação envolve, nomeadamente sobre as responsabilidades pelas quais sucessivos governos da política de direita terão de prestar contas.

Mas existe um aspecto particularmente relevante que deve ser de novo sublinhado: é a correlação que existe entre a dimensão e o número de fogos e a evolução territorial, o abandono e a crescente desertificação humana de manchas cada vez mais alargadas do território nacional.

Não se trata de um fenómeno recente. Trata-se de um fenómeno que acelerou sobretudo a partir da década de 80 do século passado. Entre os anos 60/70 e 1991 o número de concelhos com densidades inferiores a 25 hab/km2 mais do que duplica, passando de 26 para 59. Nos dados dos censos de 2001 atinge os 66, ou seja, quase ¼ dos concelhos do país passa a situar-se no limite da desertificação humana. E essa realidade verifica-se igualmente em agregados geográficos de maior dimensão, como aqueles em que se dividem as regiões NUTS III: em 1991, 6 regiões estavam abaixo dessa densidade (todo o Alentejo e a Beira Interior Sul). Em 2001 já eram 7, passando a incluir o Pinhal Interior Norte.

Não será esta uma das razões porque, em 15 de Agosto de 2010, tinham ardido 4383 hectares em Girabolhos, 4797 em Manhouce, 3460 em Lamas de Olo, 3839 em São Romão, para só referir as maiores áreas ardidas?

O ministro da Administração Interna, para sacudir a água do capote, exorta as populações a que não «assumam comportamentos de risco».

Não há comportamento de risco maior do que o prosseguimento da política de direita, que encaminha o país para o desastre.



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