«Aventuras»

Henrique Custódio
O «estado de graça» de Isabel Alçada no Ministério da Educação durou uns esquálidos seis meses. O desastre ocorreu com a avaliação dos professores, esse trambolho fatal inventado no anterior Governo pela inenarrável Maria de Lurdes Rodrigues. Apesar das sorridentes conversações mantidas com os sindicatos, onde a «compreensão» do Ministério foi, por estes, várias vezes enaltecida e tomada como anuência às suas reivindicações centrais, a ministra Isabel Alçada fez agora saber que pretende impor a famigerada «avaliação» de professores enjorcada no ano passado, como elemento a ponderar na selecção dos docentes que se vão apresentar ao «concurso para contratados», a decorrer até ao final desta semana para cerca de 40 mil profissionais. Os sindicatos reagiram energicamente e em uníssono: trata-se de uma gritante fonte de injustiças, por algumas e curtas razões. Primeiro, o modelo de avaliação só entrou em vigor em Janeiro de 2009; segundo, a alegada «avaliação de professores» entretanto realizada decorreu com a aplicação de critérios muito diferentes – ao ponto de, na prática, cada escola recorrer aos que entendia ou calhava. As situações de desigualdade flagrante, resultantes desta miríade de «critérios de avaliação», estão bem simbolizadas nas situações na Madeira – onde os professores foram todos avaliados administrativamente com um «Bom» -, e nos Açores – onde não foram aplicadas as menções de «Muito Bom» e «Excelente». Em qualquer dos casos – e em muitos outros, que se multiplicam geometricamente – a ponderação de tal critério na listagem dos concorrentes provoca flagrantes e generalizadas injustiças, com muitas centenas de professores a serem sumariamente ultrapassados por outros que não reúnem as suas qualificações e competências efectivas. Aliás, não foi por acaso que este novo ME dispensou a aplicação de tal «factor de avaliação» nas colocações de 2009/2010, apesar de o malfadado «modelo» ter entrado em vigor em 2009. E a ministra até deu a ideia de que, ao contrário da sua deplorável antecessora, tinha capacidade para ouvir as reivindicações dos docentes. Afinal, como se evidencia neste inexplicável regresso ao confronto, Alçada não exibia, então, uma mirífica «capacidade para ouvir», mas uma manhosa cedência para acalmar a algazarra do momento. Apesar do abaixo-assinado, subscrito por 16 mil docentes recusando a utilização da avaliação neste concurso e apresentado formalmente no Ministério pelo dirigente da FENPROF, Mário Nogueira, a ministra Alçada, por interposto secretário de Estado, fez saber que a medida «ia para a frente», que «nunca existiu nenhum compromisso do seu Ministério» da não aplicação do critério da avaliação nos concursos e que «as eventuais injustiças» de que falavam os sindicatos seriam «corrigidas» quando houver «solução do ponto de vista técnico». Perante isto, o dirigente da FENPROF, Mário Nogueira, declarou à saída que «se é guerra que o Governo quer, é guerra que terá», anunciando providências cautelares e admitindo nova e gigantesca manifestação. Notoriamente, a co-inventora da ficção juvenil «Uma Aventura» dá-se melhor nas suas deambulações literárias, que nesta sua bisonha «Aventura no Ministério»...


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