Israel quer a guerra

Rui Paz

«Israel com o seu exército pratica nos territórios ocupados uma forma brutal de apartheid»

A decisão de construir mais colonatos ilegais em Jerusalém Leste pelo actual governo israelita de Benjamin Netanyahu, prosseguindo assim a orientação dos governos anteriores, confirma a disposição de Telavive de intensificar a política de opressão do povo palestiniano, de desprezo pelo direito internacional e de provocação aos povos do Médio Oriente. Sentindo-se apoiado pelo imperialismo, apesar de algumas declarações de circunstância, o regime israelita está a criar uma situação cada vez mais perigosa para a paz mundial marcada por uma doutrina de Estado profundamente racista e terrorista. A colonização e limpeza étnica dos territórios palestinianos ilegalmente ocupados, o estrangulamento da faixa de Gaza e o massacre da população árabe na chamada operação «chumbo fundido» situam-se na continuidade dos massacres de Sabra e Schatila, de Jenin e de outras atrocidades cometidas pelos governos e as tropas israelitas. O apoio e a benevolência dos círculos da NATO face aos crimes que Israel vem cometendo há décadas contra o povo palestiniano confirmam a total coincidência dos objectivos e dos métodos do regime de Telavive e do imperialismo no Médio Oriente. A escritora israelita e antiga deputada na Knesset, ex-membro do Partido Trabalhista, Shulamit Aloni, afirma numa entrevista ao Jungewelt que «é terrível, mas Israel não é nenhuma democracia. Nós vivemos numa etnocracia (ditadura racial) com uma ordem e democracia judaicas.» Aloni prossegue explicando que «Israel com o seu exército pratica nos territórios ocupados uma forma brutal de apartheid». Só em 2008 o Ministério do Interior israelita obrigou 4577 palestinianos a abandonar as suas casa em Jerusalém Leste ou negou-lhes o direito de residência. Um número 21 vezes superior à média dos últimos 40 anos. Todos os fins de semana no bairro Scheich Dscharrah protestam israelitas, palestinianos, opositores ao regime de ocupação militar e pacifistas contra a destruição dos lares da população árabe. O enviado da «Pax Cristi» e do «Fórum ao Serviço da Paz», Jochen Stoll, após dois anos de presença em Jerusalém Leste explica que o objectivo é a «judaização» de bairros inteiros, isto é, a expulsão dos palestinianos e a sua ocupação por judeus. A população judaica não se instala ali enquanto vizinhos numa cidade, mas enquanto colonos e ocupantes que detêm o poder. Stoll conclui que «Jerusalém Leste é uma bomba ao retardador que se aproxima rapidamente da explosão». Com a sua política de anexações e de provocações religiosas, como a desencadeada em 2000 pelo primeiro-ministro Ariel Sharon contra a Mesquita de Jerusalém, o regime de Israel está a brincar com o fogo e a espezinhar não só os direitos legítimos do povo palestiniano e o direito internacional mas a provocar a guerra e a revolta de mil milhões de muçulmanos espalhados pelo mundo. Nós portugueses que na nossa história recente vivemos intensamente a luta dos povos da Guine, Angola, Moçambique e da África do Sul pela sua libertação temos ainda bem presente a cooperação militar já então existente entre Israel e o regime racista da África do Sul. Israel não pode nem deve seguir e aplicar uma doutrina de Estado assente na negação da existência do povo palestiniano. Como ficou bem explícito no processo histórico que conduziu ao derrube do fascismo em Portugal e à Revolução do 25 de Abril não pode ser livre um povo que oprime outros povos.


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