E entretanto, nesse entretanto que realmente conta e pesa, a vida vai correndo remetida para os cantos inferiores das páginas pares ou para a penumbra do silêncio das noticias. E só com muito atenção ou um apreciável nível de interesse se conseguirá perceber que por estes dias se ultima um Orçamento de Estado e um novo pacote de medidas que, a pretexto da «estabilidade», somarão mais dificuldades, injustiças e desigualdades para a generalidade do povo e mais declínio económico ao País. E só com mais atenção muitos perceberão que afinal, ao contrário das encenadas zangas que em torno dos outros entretantos, alguns vão construindo, naquilo que verdadeiramente interessa – gestão dos interesses dominantes, salvaguarda de privilégios e aumento de exploração – PS, PSD e CDS estão unidos. Tão unidos quanto bem acompanhados pelos grupos de comunicação social que os interesses que representam asseguram e controlam.

Entre escutas, inquirições e aquisições de grupos anda meio país a ver se distrai a outra metade. Neste entretanto ficou-se a saber que Manuel Godinho - que de todo não se recorda se fez entrega de dinheiro ou de carros de topo de gama a terceiros para assegurar vantagens na teia de negócio em que parece estar envolvido - confessa lembrar-se de ter oferecido a outros indiciados do processo Face Oculta uns quantos robalos, pescadas e até chicharros. Tudo peixe miúdo como se vê e como convém que dele não se passe para que a malha se não alargue e outras espécies por lá caiam. E, num outro entretanto, lá se vão esvaindo tinteiros de escrita e esgotando rolos de filme e registos de áudio naquele esforçado exercício para, a propósito de se saber quem quis comprar o quê e para quê, se especular sobre a impoluta independência da comunicação social e as mal intencionadas manobras do poder para a atingir. Tudo numa engenhosa arquitectura que, para lá das mais que certas ambições de controlo da comunicação que esta maioria dá mostras, pretende iludir a absoluta dependência dos órgãos de comunicação do poder económico e levar meio mundo a quase acreditar que por aqui moraria uma informação imaculada, isenta e independente dos interesses dominantes.