A queda
O segundo Governo de José Sócrates já caiu - só que a ninguém dá jeito admiti-lo para já, desde o PS de Sócrates, a esboroar-se por dentro, ao PSD que, aos pulos, anda para aí afogueado na escolha de um líder instantâneo que aproveite a maré e o reinstale no poder.
A queda de Sócrates não é novidade: nos últimos 34 anos houve 18 Governos constitucionais, o que dá uma média de cerca de dois anos por Executivo – e isto graças a três maiorias absolutas, porque, sem elas, a média desce para um ano e picos. É claro que ninguém se interroga sobre tal fenómeno e, se o fizerem, os comentadores encartados do burgo se encarregarão de pastorear a discussão para as vantagens da «estabilidade» que, segundo eles, só se consegue com «maiorias absolutas», reivindicando-as de caminho e esquecendo, grosseiramente, que as três por cá experimentadas desembocaram invariavelmente em pesados castigos eleitorais, por manifesto descontentamento dos votantes.
O que a ninguém convirá ponderar, nesta gente que hegemoniza a Comunicação Social, é que tantos e tão curtos Governos – incluindo os, aparentemente longos, das maiorias absolutas - são o resultado directo da forte contestação popular às políticas de direita de todos eles, o que pode parecer um «chavão» segundo a moral impingida, mas tem expressões concretas e mensuráveis na generalizada degradação de direitos dos trabalhadores e população e concomitante concentração de poder e acumulação da riqueza nas minorias possidentes, que em 30 e poucos anos cavou, em Portugal, o mais desmesurado e escandaloso fosso entre ricos e pobres registado na União Europeia.
Quanto à queda de Sócrates, estava duplamente marcada nos astros.
Em primeiro lugar, pela sua feroz ofensiva contra conquistas e direitos obtidos com Abril, amputando-os e restringindo-os como nenhum anterior Governo o ousara em áreas tão fundamentais como o Trabalho, a Saúde, o Ensino ou a Segurança Social. Por isso perdeu fragorosamernte a maioria absoluta que lhe coubera em lotaria.
Em segundo lugar, por si próprio. A trajectória conhecida de Sócrates mostra um homem enlevado consigo mesmo (a obsessão pela «elegância» é um sintoma eloquente), regularmente envolvido em tranquibérnias na sua ascensão pessoal e política («casos» da licenciatura, dos «projectos» na Câmara da Guarda ou do Freeport) e consumando um perfil de primeiro-ministro autoritário e sem escrúpulos, que chegou ao cúmulo de colocar na direcção da PT, uma das maiores empresas do País, um jovem apaniguado sem currículo nem experiência, a gerir dezenas de milhões de euros aos 32 anos pela fantástica remuneração de dois milhões de euros/ano.
O ser agora descoberto no centro de uma alegada conspiração para controlar vários órgãos de Comunicação Social é uma inferência que mais parece uma decorrência.
Anote-se, finalmente, este cansativo descaramento do PS e PSD em regressarem à ribalta como «alternativa» ao governo cessante que, entretanto, se limitou a prosseguir e aprofundar a política de direita do anterior.
Agora é o PSD a exibir a clássica virgindade recauchutada com que ambos costumam eximir-se de responsabilidades passadas e garantir melhorias futuras, na governação do País.
Seguir-se-á o PS com o mesmo estratagema, acrescentado com umas frases de esquerda para, de novo, melhor servir a direita.
Julgam-se donos do regime e são-no, porque dele se apropriaram. O fascismo fez o mesmo, mas acabou corrido - com o próprio regime que engendrara.
A queda de Sócrates não é novidade: nos últimos 34 anos houve 18 Governos constitucionais, o que dá uma média de cerca de dois anos por Executivo – e isto graças a três maiorias absolutas, porque, sem elas, a média desce para um ano e picos. É claro que ninguém se interroga sobre tal fenómeno e, se o fizerem, os comentadores encartados do burgo se encarregarão de pastorear a discussão para as vantagens da «estabilidade» que, segundo eles, só se consegue com «maiorias absolutas», reivindicando-as de caminho e esquecendo, grosseiramente, que as três por cá experimentadas desembocaram invariavelmente em pesados castigos eleitorais, por manifesto descontentamento dos votantes.
O que a ninguém convirá ponderar, nesta gente que hegemoniza a Comunicação Social, é que tantos e tão curtos Governos – incluindo os, aparentemente longos, das maiorias absolutas - são o resultado directo da forte contestação popular às políticas de direita de todos eles, o que pode parecer um «chavão» segundo a moral impingida, mas tem expressões concretas e mensuráveis na generalizada degradação de direitos dos trabalhadores e população e concomitante concentração de poder e acumulação da riqueza nas minorias possidentes, que em 30 e poucos anos cavou, em Portugal, o mais desmesurado e escandaloso fosso entre ricos e pobres registado na União Europeia.
Quanto à queda de Sócrates, estava duplamente marcada nos astros.
Em primeiro lugar, pela sua feroz ofensiva contra conquistas e direitos obtidos com Abril, amputando-os e restringindo-os como nenhum anterior Governo o ousara em áreas tão fundamentais como o Trabalho, a Saúde, o Ensino ou a Segurança Social. Por isso perdeu fragorosamernte a maioria absoluta que lhe coubera em lotaria.
Em segundo lugar, por si próprio. A trajectória conhecida de Sócrates mostra um homem enlevado consigo mesmo (a obsessão pela «elegância» é um sintoma eloquente), regularmente envolvido em tranquibérnias na sua ascensão pessoal e política («casos» da licenciatura, dos «projectos» na Câmara da Guarda ou do Freeport) e consumando um perfil de primeiro-ministro autoritário e sem escrúpulos, que chegou ao cúmulo de colocar na direcção da PT, uma das maiores empresas do País, um jovem apaniguado sem currículo nem experiência, a gerir dezenas de milhões de euros aos 32 anos pela fantástica remuneração de dois milhões de euros/ano.
O ser agora descoberto no centro de uma alegada conspiração para controlar vários órgãos de Comunicação Social é uma inferência que mais parece uma decorrência.
Anote-se, finalmente, este cansativo descaramento do PS e PSD em regressarem à ribalta como «alternativa» ao governo cessante que, entretanto, se limitou a prosseguir e aprofundar a política de direita do anterior.
Agora é o PSD a exibir a clássica virgindade recauchutada com que ambos costumam eximir-se de responsabilidades passadas e garantir melhorias futuras, na governação do País.
Seguir-se-á o PS com o mesmo estratagema, acrescentado com umas frases de esquerda para, de novo, melhor servir a direita.
Julgam-se donos do regime e são-no, porque dele se apropriaram. O fascismo fez o mesmo, mas acabou corrido - com o próprio regime que engendrara.