Da confusão nasce a Luz...
Os políticos, os banqueiros e outros grandes senhores da nossa praça usam e abusam da táctica de «confundir para reinar». Isto é evidente quando, por exemplo, se lê nos jornais que o salário mínimo nacional não deve ser aumentado porque «provocará desemprego»; que as falências das pequenas e médias empresas são benéficas porque deixam terreno livre à reestruturação da economia nacional; ou que as crises financeiras são já «águas passadas e a luz do capitalismo volta a brilhar ao fundo do túnel». Depois, os mesmos homens que assumiram tais posições garantem aos trabalhadores que «se eles lhes derem o seu voto» serão os seus salários aumentados «após as eleições»... E acrescentam, porque esses aumentos são justos e necessários ao progresso do país; porque as pequenas e médias empresas constituem a coluna vertebral da economia nacional; e porque, como titulava recentemente um jornal de grande difusão, «no país de Sócrates os próximos anos serão negros» e uma ajuda salarial é necessária.
Estas leituras e tomadas de posição recolhem, como é natural, a imediata adesão das grandes centrais patronais. A crise profunda existe, é não só nacional mas também mundial, tem causas que já não se podem ocultar. A não ser que... se construa com as palavras uma nova realidade. Responsáveis pela crise são os trabalhadores que preferem governar-se com os subsídios de desemprego e acumular ajudas públicas e privadas, recusando dar o peito à luta pela sua própria valorização profissional, pela aceitação de avaliações isentas e justas e não se conformam com as normas de um progresso real que exija a contrapartida da precariedade no trabalho e as constantes deslocalizações. Ainda há poucos dias pôde ler-se nos jornais esta magnífica síntese: «O que o povo quer é bola!». Então, as associações patronais chamam a atenção para os perigos das políticas de subsídios e de aumentos do salário mínimo nacional. «Aumentos dos salários, por mínimos que sejam, fazem crescer o desemprego!». É este o ponto da situação que atravessamos.
O episcopado e as posições patronais
A leitura que a Igreja faz da crise ou sucessão de crises da economia capitalista não é diferente daquela que fazem os patrões. Na realidade, não pode dizer-se que uma e outra sejam distintas. Ainda há poucos dias escrevia o P. Lino Maia, presidente do CNIS, órgão máximo das IPSS: «Andarão os trabalhadores a ganhar para os preguiçosos? Serão os verdadeiros necessitados que estão a beneficiar do Rendimento Social de Inserção? A dúvida fica no ar»”. O patronato colocara já estas dúvidas ao referir eventuais malefícios do aumento, por pequeno que seja, do salário mínimo nacional. A Igreja, vem depois e propõe um grande debate público centrado nestas questões. Tudo se faz para que a luta dos trabalhadores fique adiada para as calendas gregas.
Patronato e Igreja sabem que em época de crise e fase de ruptura, «o tempo é ouro». Não basta esmagar os mais pequenos e criar espaços para as multinacionais. É essencial provar que os trabalhadores desempregados não contam e que, aos outros, nada mais resta que reconhecerem-se como uma massa inerte que os ricos moldam como barro mole. É por isso que bispos e grandes patrões saúdam as crises do capitalismo e as consideram como simples etapas do desenvolvimento das fortunas e da sua concentração «natural». Há poucos dias, por exemplo, numa iniciativa católica que reuniu toda a hierarquia da Igreja e os grandes senhores da banca e da indústria, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, foi bem explícito a esse respeito: «O hoje de Portugal e do mundo está a solicitar menor triunfalismo por parte da Igreja, mas maior empenho e presença nas realidades terrestres. A nossa demissão permite que outro modelo de sociedade avance. Não temos consciência disso? É tempo de acordar para a luta e promoção do Bem Comum».
Os sublinhados são nossos. As cumplicidades são deles. Diria Fernando Pessoa: «são malhas que o Império tece».
Estas leituras e tomadas de posição recolhem, como é natural, a imediata adesão das grandes centrais patronais. A crise profunda existe, é não só nacional mas também mundial, tem causas que já não se podem ocultar. A não ser que... se construa com as palavras uma nova realidade. Responsáveis pela crise são os trabalhadores que preferem governar-se com os subsídios de desemprego e acumular ajudas públicas e privadas, recusando dar o peito à luta pela sua própria valorização profissional, pela aceitação de avaliações isentas e justas e não se conformam com as normas de um progresso real que exija a contrapartida da precariedade no trabalho e as constantes deslocalizações. Ainda há poucos dias pôde ler-se nos jornais esta magnífica síntese: «O que o povo quer é bola!». Então, as associações patronais chamam a atenção para os perigos das políticas de subsídios e de aumentos do salário mínimo nacional. «Aumentos dos salários, por mínimos que sejam, fazem crescer o desemprego!». É este o ponto da situação que atravessamos.
O episcopado e as posições patronais
A leitura que a Igreja faz da crise ou sucessão de crises da economia capitalista não é diferente daquela que fazem os patrões. Na realidade, não pode dizer-se que uma e outra sejam distintas. Ainda há poucos dias escrevia o P. Lino Maia, presidente do CNIS, órgão máximo das IPSS: «Andarão os trabalhadores a ganhar para os preguiçosos? Serão os verdadeiros necessitados que estão a beneficiar do Rendimento Social de Inserção? A dúvida fica no ar»”. O patronato colocara já estas dúvidas ao referir eventuais malefícios do aumento, por pequeno que seja, do salário mínimo nacional. A Igreja, vem depois e propõe um grande debate público centrado nestas questões. Tudo se faz para que a luta dos trabalhadores fique adiada para as calendas gregas.
Patronato e Igreja sabem que em época de crise e fase de ruptura, «o tempo é ouro». Não basta esmagar os mais pequenos e criar espaços para as multinacionais. É essencial provar que os trabalhadores desempregados não contam e que, aos outros, nada mais resta que reconhecerem-se como uma massa inerte que os ricos moldam como barro mole. É por isso que bispos e grandes patrões saúdam as crises do capitalismo e as consideram como simples etapas do desenvolvimento das fortunas e da sua concentração «natural». Há poucos dias, por exemplo, numa iniciativa católica que reuniu toda a hierarquia da Igreja e os grandes senhores da banca e da indústria, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, foi bem explícito a esse respeito: «O hoje de Portugal e do mundo está a solicitar menor triunfalismo por parte da Igreja, mas maior empenho e presença nas realidades terrestres. A nossa demissão permite que outro modelo de sociedade avance. Não temos consciência disso? É tempo de acordar para a luta e promoção do Bem Comum».
Os sublinhados são nossos. As cumplicidades são deles. Diria Fernando Pessoa: «são malhas que o Império tece».