A função económica do desporto e a sua mercantilização
A função económica do desporto começou a ser reconhecida somente a partir dos finais da década de setenta. Passou a assumir um papel de importância crescente devido à visão economicista neoliberal das actividades sociais e culturais, pelo que é, muitas vezes, apresentada em contraponto à função formativa. Por sua vez, os defensores do predomínio desta última rejeitam com veemência crescente a função económica do desporto, considerando-a como a origem da degradação das práticas marcadamente competitivas.
Trata-se de um erro na medida em que a função económica do desporto sempre o acompanhou ao longo da sua existência (mercado do vestuário desportivo, da construção de instalações, etc.). Naturalmente que, com a evolução que sofreu ao longo do século, esta função foi crescendo em importância.
O problema coloca-se na medida em que a função económica tende a confundir-se com a mercantilização das actividades. A penetração da comercialização nas práticas de reconstituição da força de trabalho criaram o «mercado da forma física», fornecendo-lhes uma resposta inadequada porque é orientada por finalidades exclusivamente lucrativas. Não é de admirar que, numa sociedade como aquela em que estamos a viver, se verifique este desvio de funções. O que é verdadeiramente grave, para além dos fenómenos que caracterizam o espectáculo desportivo, é que aquela lógica leve ao aparecimento de formas e de conteúdos de prática que não podem fornecer resposta satisfatória àqueles que procuram um tipo de vida mais activo, mais rico e mais humanizador.
Ora, o mecanismo de penetração da lógica de mercado nas actividades físico-desportivas não é inerente ao próprio desporto. Trata-se de uma característica de um dado tipo de sociedade que utiliza o desporto como meio para alcançar finalidades que lhe são alheias, como utiliza igualmente outras actividades de cunho marcadamente social e cultural (o teatro, a arte, a saúde, etc.) que, tal como o desporto, possuem inevitavelmente uma componente económica que é, também, utilizada como «coisa» mercantil.
Se não se compreender esta realidade é todo o edifício de construção do desporto, como actividade humanizadora, que se desmorona. É certo que a relação do desporto com a sociedade, com as características que conhecemos, torna esta tarefa particularmente difícil. Mas, no fundo, é esta dificuldade que fornece ao desporto a sua capacidade em constituir um dos factores de transformação social.
Na função económica do desporto vêm desaguar todas as contradições por ele vividas no momento presente. De nada serve escamotear o que verdadeiramente se pretende quando se fala em juntar à função formativa também a função económica. O que acontece é que a opinião pública, intoxicada por décadas de discurso hipócrita do «desporto escola da vida», tem dificuldades em alterar o seu ponto de vista. Por outro lado, é curioso verificar até que ponto o cidadão «vulgar» aceita o conjunto de «desvios», «doenças» ou disfunções, como se lhe queira chamar, que a comercialização sem limites provoca no desporto. Mas, ao mesmo tempo, verifica-se que existe a percepção difusa de que nada disso é correcto, não corresponde às necessidades sociais que se exprimem neste campo e que, ao invés, representa uma exploração inaceitável.
No entanto, a função económica do desporto, desde que correctamente concebida e devidamente entendida, constitui, sem dúvida, uma forma adequada de fornecer resposta a necessidades objectivas, que só deste modo poderão ser resolvidas. A economia do espectáculo desportivo, e a resposta às necessidades de construção e reconstrução da força de trabalho dependem, no fundo, da questão central que se coloca ao desporto: qual a concepção que preside à sua organização e difusão.
Não se trata assim de negar de forma simplista a questão económica do desporto como que num processo de diabolização. O que se põe em causa é a transformação progressiva do desporto em produto comercial, de acordo com a lógica economicista da nossa sociedade, assumindo, assim, uma dimensão negativa. No mundo actual o ser humano tem, cada vez mais, necessidade da actividade física devidamente orientada. Utilizar esta necessidade com a finalidade limitada à obtenção do lucro financeiro provoca, de facto, a liquidação de algumas das funções referidas. O que, na realidade, significará não só a degradação da actividade desportiva, mas também a sonegação de um bem cultural essencial para o indivíduo e para a sociedade. Mas, mesmo no próprio desporto-espectáculo este processo introduz processos degenerativos e negativos que devem ser denunciados e corrigidos.
Trata-se de um erro na medida em que a função económica do desporto sempre o acompanhou ao longo da sua existência (mercado do vestuário desportivo, da construção de instalações, etc.). Naturalmente que, com a evolução que sofreu ao longo do século, esta função foi crescendo em importância.
O problema coloca-se na medida em que a função económica tende a confundir-se com a mercantilização das actividades. A penetração da comercialização nas práticas de reconstituição da força de trabalho criaram o «mercado da forma física», fornecendo-lhes uma resposta inadequada porque é orientada por finalidades exclusivamente lucrativas. Não é de admirar que, numa sociedade como aquela em que estamos a viver, se verifique este desvio de funções. O que é verdadeiramente grave, para além dos fenómenos que caracterizam o espectáculo desportivo, é que aquela lógica leve ao aparecimento de formas e de conteúdos de prática que não podem fornecer resposta satisfatória àqueles que procuram um tipo de vida mais activo, mais rico e mais humanizador.
Ora, o mecanismo de penetração da lógica de mercado nas actividades físico-desportivas não é inerente ao próprio desporto. Trata-se de uma característica de um dado tipo de sociedade que utiliza o desporto como meio para alcançar finalidades que lhe são alheias, como utiliza igualmente outras actividades de cunho marcadamente social e cultural (o teatro, a arte, a saúde, etc.) que, tal como o desporto, possuem inevitavelmente uma componente económica que é, também, utilizada como «coisa» mercantil.
Se não se compreender esta realidade é todo o edifício de construção do desporto, como actividade humanizadora, que se desmorona. É certo que a relação do desporto com a sociedade, com as características que conhecemos, torna esta tarefa particularmente difícil. Mas, no fundo, é esta dificuldade que fornece ao desporto a sua capacidade em constituir um dos factores de transformação social.
Na função económica do desporto vêm desaguar todas as contradições por ele vividas no momento presente. De nada serve escamotear o que verdadeiramente se pretende quando se fala em juntar à função formativa também a função económica. O que acontece é que a opinião pública, intoxicada por décadas de discurso hipócrita do «desporto escola da vida», tem dificuldades em alterar o seu ponto de vista. Por outro lado, é curioso verificar até que ponto o cidadão «vulgar» aceita o conjunto de «desvios», «doenças» ou disfunções, como se lhe queira chamar, que a comercialização sem limites provoca no desporto. Mas, ao mesmo tempo, verifica-se que existe a percepção difusa de que nada disso é correcto, não corresponde às necessidades sociais que se exprimem neste campo e que, ao invés, representa uma exploração inaceitável.
No entanto, a função económica do desporto, desde que correctamente concebida e devidamente entendida, constitui, sem dúvida, uma forma adequada de fornecer resposta a necessidades objectivas, que só deste modo poderão ser resolvidas. A economia do espectáculo desportivo, e a resposta às necessidades de construção e reconstrução da força de trabalho dependem, no fundo, da questão central que se coloca ao desporto: qual a concepção que preside à sua organização e difusão.
Não se trata assim de negar de forma simplista a questão económica do desporto como que num processo de diabolização. O que se põe em causa é a transformação progressiva do desporto em produto comercial, de acordo com a lógica economicista da nossa sociedade, assumindo, assim, uma dimensão negativa. No mundo actual o ser humano tem, cada vez mais, necessidade da actividade física devidamente orientada. Utilizar esta necessidade com a finalidade limitada à obtenção do lucro financeiro provoca, de facto, a liquidação de algumas das funções referidas. O que, na realidade, significará não só a degradação da actividade desportiva, mas também a sonegação de um bem cultural essencial para o indivíduo e para a sociedade. Mas, mesmo no próprio desporto-espectáculo este processo introduz processos degenerativos e negativos que devem ser denunciados e corrigidos.