Ainda sobre as bases na Colômbia

Pedro Campos
«A América Latina deve ser declarada livre de bases militares estrangeiras» – Padre Manuel D’Escoto, presidente da Assembleia Geral das ONU, Agosto 2009

Contrariando o espírito desta declaração, a Colômbia é um país cada vez mais ocupado militarmente pelos Estados Unidos para, como o disse o senador Paul Clovedell «controlar a Venezuela» e travar o processo emancipador que atravessa boa parte da América do Sul e da América Central.
O narcopresidente colombiano afirma que as bases são para lutar contra os barões da drogas e contra os terroristas – leia-se os movimentos guerrilheiros que estão em armas desde há várias décadas contra uma oligarquia corrupta e criminosa.
Uribe mente. Mente descaradamente como Al Capone em 1931 quando afirmava isto ao jornalista Cornelius Vanderbilt Jr., da Liberty: «Hoje em dia, as pessoas não respeitam nada. Antes, púnhamos num pedestal a virtude, a honra, a verdade e a lei... A corrupção domina a vida norte-americana dos nossos dias. Onde não se obedece a outra lei, a corrupção é a única lei. A corrupção está a minar este país. A virtude, a honra e a lei desapareceram das nossas vidas». Pareceria estar muito preocupado com a corrupção ... só que poucos dias depois estava preso por essa razão e várias outras! É a velha história do ladrão a gritar que o ladrão está a fugir....

Uribe contra o negócio da droga?

Se Álvaro Uribe quer lutar contra as drogas, é bom que recordemos este texto de Fabio Castillo, publicado no livro Los jinetes de la cocaína: «Uribe outorgou licenças a muitos dos pilotos dos narcos, quando foi director da Aviação Civil». De facto, entre Março de 1980 e Agosto de 1982, essa dependência passou 652 licenças. Além disso, enquanto ali esteve, aprovou 95 licenças de pistas de aterragem. Curiosamente, o seu antecessor no mesmo lugar, Fernando Uribe Senior – será porque mandou eliminar alguns aeroportos clandestinos? – durou muito pouco à cabeça da Aviação Civil porque os barões da droga o assassinaram um mês depois da tomada de posse. Uribe esteve lá 28 meses!
Joseph Contreras, jornalista da Newsweek, escreve, no livro «Biografia não autorizada de Álvaro Uribe Vélez», que um relatório do Pentágono (1991) revela que Uribe estava ligado ao cartel de Medelhim.

Os narcosoldiers enterrados em droga

Algumas evidências para mostrar que muitos dos norte-americanos encarregados da luta contra as drogas são precisamente os participantes do negócio. Uma edição de El Tiempo de 2005 relata que a 28 ou 29 de Março foram apreendidos 16 quilos de cocaína no valor de meio milhão de dólares. Os «narcosoldiers» foram apanhados no aeroporto de Texas. Tinham saído da Colômbia, em voo militar, da base norte-americana de Apiay (Meta). Mas podemos viajar mais atrás no tempo. Em 1999, a mulher do coronel James Hiett, da embaixada dos EUA em Bogotá, foi apanhada a enviar droga no valor de 700 mil dólares... pela mala diplomática! Marido e mulher foram julgados nos Estados Unidos. Ela, de nome Laurie, levou com cinco anos de prisão, o marido com cinco meses de cárcere e outros tanto de prisão domiciliária. O desgraçado do chofer foi julgado na Colômbia e caíram-lhe oito anos em cima! E agora que a guerra é claramente um negócio privado, temos os «narcocontratistas». Vários mercenários da DynCorp, ligados ao Plano Colômbia, foram detidos no aeroporto El Dorado, de Bogotá. Na bagagem levaram uns quantos quilos de cocaína.
Esta diferença de pesos e medidas nas condenações não tem nada de estranho. A justiça norte-americana é suavezinha com os seus narcotraficantes, especialmente se andam diariamente engravatados e com bons fatos.
Segundo o jornalista Gerardo Reyes (El New Herald, de Miami, 2001), Bill Clinton, ao terminar o seu período na Casa Branca, amnistiou 34 delinquentes. Mais de metade eram narcotraficantes. O caso de Harvey Weinig é exemplar. Advogado de profissão, especializa-se no branqueamento de dinheiro da droga. Acusado de sequestro de crianças e depois de ter lavado dezenas de milhões de dólares do Cartel de Cali foi condenado, em 1966, a onze anos de prisão. Clinton foi generoso com este ele: reduziu a pena para a metade!
Entretanto, todos os anos a Casa Branca tem o descaramento de certificar ou descertificar outros países nisto da luta contra a droga. Como é lógico, os descertificados são aqueles governos que não se mostram dóceis com as políticas imperialistas de Washington.


Mais artigos de: Internacional

Povo na rua desafia ditadura

O presidente legítimo das Honduras, Manuel Zelaya, voltou ao país esta segunda-feira, 21, e refugiou-se na embaixada do Brasil. O governo usurpador impôs o recolher obrigatório, mas o povo está na rua em apoio a Zelaya.

Condenação do bloqueio a Cuba

O bloqueio norte-americano contra Cuba vai estar uma vez mais na ordem do dia da Assembleia Geral da ONU, que esta semana iniciou a sua 64.ª sessão.

Congresso da COSATU

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, interveio esta segunda-feira na sessão de abertura do 10.º congresso da central sindical COSATU, defendendo a necessidade de eliminar o fosso entre ricos e pobres e garantindo que a prioridade do seu governo continua a ser a criação de emprego com vista à melhoria das condições...